segunda-feira, 1 de abril de 2013

Ó pá, peço desculpas, imensas desculpas.


Prólogo: Pinto de Sousa regressou.  
Assisti à sua entrevista à RTP 1 no passado dia 28 de Março. Está na mesma. Com indiscutíveis qualidades de líder e de comunicador mas entrevistado por quem deveria estar mais bem preparado. Lá apareceu ele sem vergonha, arrogante, fora da realidade, achando que ele é a História (a qual, não se tenham dúvidas, nem uma nota de pé-de-página lhe dedicará).  
Mas o que neste prólogo me traz aqui à criatura, é o seu desavergonhado propósito de afirmar uma verdade virtual, a sua descarada vitimização e a sua evidente pretensão que lhe apresentem desculpas.  
Ouvi o homem na ingénua esperança de que admitisse a realidade de 2005 a 2011, período durante o qual desgovernou a despesa: a despesa pública aumentou 33,7%, oito concessões rodoviárias (PPP) duplicaram a factura do Estado (em plena crise europeia e, sobretudo, nacional), foi assinado o contrato de concessão de um troço do TGV e etc. Finalmente, é de lembrar aos mais esquecidos que a "fera" anunciou triunfal e publicamente (3 de Maio de 2011) um "bom acordo" com a assinatura do memorando com a Troika.
Os três embustes por ele repetidamente invocados? Ora oiçam o contraditório em: http://www.tabonito.pt/jose-gomes-ferreira-poe-as-claras-os-3-embustes-do-regresso-de-jose-socrates/
O Pinto continua na mesma falando como se Sócrates fosse (o da Antiguidade grega). 
Aqui deixo mil desculpas.

   "il est plus noble de se donner tort que de garder raison, surtout quand on a raison.“   
   F. Nietzche

                       
Fui educado a ter cuidado na linguagem e só com a tropa comecei a palavrear pior do que um carroceiro como, aliás, faz em regra um militar que preza a sua masculinidade e que a confunde com brutalidade e grosseria.
Ao regressar à vida civil escapavam-me, para meu desgosto e desânimo, alguns palavrões do tal palavreado que, no entanto e por vezes, se ajustava como uma luva a muitas personagens e situações. Fiquei entalado entre a boa educação e o saudável desabafo, a honesta franqueza.
Ora, a oratória suja pelo palavreado adquirido por longo convívio militar era vergonhosa e inaceitável. Não tencionando ficar mudo, como o bom senso recomenda em muitas situações (mesmo com o risco de assim, de boca fechada, muito emagrecer ou mesmo morrer de fome) e certo de não poder mudar de personalidade, estava numa desconfortável situação.
Passei a ter muita cautela com a fala mas recusei a mimosa fineza que, confesso, abomino. Para mim, não há nada mais despropositado e, sobretudo, mais ridículo do que uma elegante interjeição numa situação de dor, de revolta ou de raiva. Lembra-me o pobre canalizador que ao receber do desajeitado colega um pingo de solda no olho lhe diz: “Ó Manel olha que isto dói, vê lá se para a próxima tens mais cuidado, francamente...”.
As frases fortes são, para mim, uma cor indispensável na arte de bem comunicar, mas reconheço que as regras da cortês convivência, suportando bem as palavras grossas e até por vezes fazendo dela gala, não admitem a frase crua que tantas e tantas vezes é necessária. Nestas circunstâncias analisei e ponderei o uso de uma linguagem cifrada. Porque não?
Uma cifra que me aliviasse interiormente e que assegurasse não só ausência de recriminação mas, também, a caridosa simpatia, a pena, a condescendência das inteligências, dos iluminados, para connosco os pobres de espírito, os coitados? E do que mais gostam a arrogante imbecilidade, a despótica prepotência, a vaidosa superioridade, a bacoca cultura? Da desculpa, das muitas desculpas.

                              
A desculpa foi, pois, a cifra que escolhi. A humilde, a incompreensível, a descabida desculpa, expressamente pedida e repetida para completa satisfação de ambas as partes e, sobretudo, para que alguma interrogação e perplexidade fiquem no ar do lado de lá. Revelou-se uma excelente solução que me tem dado muita satisfação.
O “peço desculpas, imensas desculpas “ é o meu substituto para “vá à merda“.
É claro que segui disciplinada e teimosamente um longo período de treino, porque, por definição, os hábitos não se adquirem de repente (o que por vezes me conduziu a situações embaraçosas “afinal não peço desculpas, vá à m...”) e, sobretudo, cumpri religiosamente uma regra essencial: a desculpa deve ter, segundo as personalidades e circunstâncias, adequados prólogo e epílogo, os quais, devendo existir, até podem ser silenciosos desde que prontos a avançar. Na sua falta, a desculpa pareceria parvoíce, o que, por coerência e auto-estima se deve evitar a todo o custo. 
Epílogo: A criatura tem um passado pessoal, cívico e político que levantaram e continuam a levantar muitas interrogações (http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/politica/saiba-tudo-sobre-o-carro-de-luxo-que-socrates-comprou) e aquela entrevista foi um “pingo de solda” na minha inteligência. 
Ó pá e se fosses à merda?                         


                           

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