“ ...Assim, foi perturbada a simplicidade destas necessidades orgânicas, assim foram deturpadas todas as funções simples...“ F. Pessoa
Lembro-me daquilo.
Daquelas casernas alinhadas no extremo da enorme praça do Destacamento de Engenharia.
Daquelas casernas alinhadas no extremo da enorme praça do Destacamento de Engenharia.
Praça
alagada e enlameada na época das chuvas.
Tropa comandada na altura só por
alferes, aguardando a nomeação de um capitão. Era o mais antigo e desse
estatuto não me livrava, mas o comando era colegial e muito democrático.
Lembro-me da minha obsessão pela disciplina, pela alimentação e pela
limpeza.
Tínhamos construído casernas, casas de banho e um amplo espaço para as
cozinhas. Já não havia poças com água estagnada e uns bidons, por mim mandados
caiar com faixas brancas e distribuídos pela parada, asseguravam depósitos para
o lixo.
Duas fiadas de
recém plantadas bananeiras decoravam um pífio canteiro em frente da nossa e muito modesta "messe". Era uma mancha verde no meio daquele castanho.
Mas a tropa não ligava.
Mas a tropa não ligava.
Eram constantes as guerras para que não se cozinhasse nas casernas,
para que se utilizasse as casas de banho, para que não se deitasse lixo para a
parada...Em vão.
Um dia, perdi a paciência, “saltou-me a tampa“ com a visão, no lusco-fusco do princípio da noite, de um soldado a aliviar-se nas bananeiras, nas bananeiras que eu tinha mandado plantar!
Mandei chamar o primeiro-sargento e disse-lhe“ avise a malta que o primeiro que for apanhado a mijar fora das casas de banho f...-o, leva uma porrada que nunca mais se esquece.
Um dia, perdi a paciência, “saltou-me a tampa“ com a visão, no lusco-fusco do princípio da noite, de um soldado a aliviar-se nas bananeiras, nas bananeiras que eu tinha mandado plantar!
Mandei chamar o primeiro-sargento e disse-lhe“ avise a malta que o primeiro que for apanhado a mijar fora das casas de banho f...-o, leva uma porrada que nunca mais se esquece.
Leva a porrada e, depois, vai de coluna para Nangade. Não vai pelo
ar, vai na coluna...e com bilhete de ida-e-volta ” (era horrivel, era uma
temível perspectiva. Não a porrada, mais reforço menos reforço a malta
estava-se nas tintas, mas ir na coluna era, de facto, muito muito mau).
“Olhe, e para não haver dúvidas, para que tudo fique claro, você informa a companhia amanhã de manhã na formatura “. “ Sim, meu alferes “. E assim foi.
No dia seguinte, na parada e antes da ordem de dispersar, houve discurso.
“Olhe, e para não haver dúvidas, para que tudo fique claro, você informa a companhia amanhã de manhã na formatura “. “ Sim, meu alferes “. E assim foi.
No dia seguinte, na parada e antes da ordem de dispersar, houve discurso.
Que fossem todos asseados
e que urinassem nos sítios apropriados e que o primeiro que seja apanhado amijar nas "bananeiras do nosso alferes", leva uma porrada e vai a seguir despachado na
próxima coluna para Nangade, com bilhete de ida-e-volta“.
próxima coluna para Nangade, com bilhete de ida-e-volta“.
Terminou, olhou para
mim e eu assenti.
Mandou “ firme, sentido “ e pediu-me licença para a ordem de dispersar.
Mandou “ firme, sentido “ e pediu-me licença para a ordem de dispersar.
Achei que o recado tinha sido dado e bem compreendido.
A noite em Mueda estava calma. Na engenharia jogava-se bridge. Nós, os regressados do mato, com os nossos amigos do hospital militar, da aviação, dos paraquedistas e de outras armas que nos davam protecção e connosco partilhavam as agruras do mato e, em muito maior grau, os seus perigos. Por vezes apareciam altos comandos.
Um pau. Passo. Uma copa. Passo. Três copas. Passo. Quatro copas. “Partida. Não pode perder isto“.
A noite em Mueda estava calma. Na engenharia jogava-se bridge. Nós, os regressados do mato, com os nossos amigos do hospital militar, da aviação, dos paraquedistas e de outras armas que nos davam protecção e connosco partilhavam as agruras do mato e, em muito maior grau, os seus perigos. Por vezes apareciam altos comandos.
Um pau. Passo. Uma copa. Passo. Três copas. Passo. Quatro copas. “Partida. Não pode perder isto“.
Levantou-se e foi lá para fora desentorpecer as pernas.
O meu parceiro era o
brigadeiro comandante das operações no sector.
Oficial oriundo da arma de
engenharia tinha por nós especial carinho.
Educadíssimo fazia os possíveis para
amaciar a diferença de patentes em benefício das afinidades profissionais.
Para
mim, no entanto, não deixava de ser o que era e tê-lo como parceiro obrigava-me
a uma redobrada atenção e a não ser diletante nas vozes e no cartear.
Estava tudo a correr
bem e até era possível cumprir cinco copas, quando, de repente, ouviu-se lá
fora a voz alterada do primeiro-sargento:
“Ah meu grande porcalhão que te
apanhei a mijar nas bananeiras do nosso alferes...então não ouviste o que eu
disse na formatura ? ... vais levar uma porrada...vira-te para que eu te veja a
cara meu porcalhão...”.
Seguiu-se um silêncio mortal.
Olhámos uns para os outros e o mesmo pensamento atravessou-nos. O gajo para não ser identificado deu-lhe uma paulada e está a pirar-se! Largámos as cartas, saltámos das cadeiras e corremos todos para a porta.
O nosso primeiro estava em sentido e balbuciava: “Ó meu brigadeiro desculpe...desculpe-me, é noite e sem luz não reconheci...Ó meu brigadeiro desculpe eram as ordens do nosso alferes...”.
De noite todos os gatos são pardos, sobretudo quando de camuflado.
Olhámos uns para os outros e o mesmo pensamento atravessou-nos. O gajo para não ser identificado deu-lhe uma paulada e está a pirar-se! Largámos as cartas, saltámos das cadeiras e corremos todos para a porta.
O nosso primeiro estava em sentido e balbuciava: “Ó meu brigadeiro desculpe...desculpe-me, é noite e sem luz não reconheci...Ó meu brigadeiro desculpe eram as ordens do nosso alferes...”.
De noite todos os gatos são pardos, sobretudo quando de camuflado.
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