O homem tem o dever como homem de
ser tolerante, mas a tolerância é, por vezes, de sentido único o que conduziu
no passado não apenas a falsificações, mentiras, corrupção, espoliações,
nepotismos e outros tipos de favorecimento (o que poderia ser apenas"menos
tolerável") mas, também à abjecção: ditaduras, prisões em massa,
assassinatos, massacres, guerras.
Pense-se no "nazi" que
eliminou judeus, ciganos, eslavos em nome da pureza rácica, no “católico” que
apagou história e homens em nome de uma “verdade”, no "sionista" que
espolia milhões de palestinianos das suas terras em nome de um “direito
histórico” e que constrói muros que de vergonha nada devem ao de Berlim, no
“estalinista” que tornou a Sibéria um imenso campo de concentração, no “polpotiano”
que empilhou milhares de crânios “mal pensantes”, no "imperialista"
que avilta e mata civis por petróleo, no “genocida esclarecido” que elimina
qualquer vestígio cultural ou religioso, seja ele arménio, curdo ou outro, ou
no "fundamentalista islâmico" que massacra o “infiel”, incluindo o da
sua própria crença. Etecetera. Tudo intolerável e, em evidentes casos, abjecto
e resultado de uma “tolerância de sentido único".
O nosso país está cheio dos que se
consideram uma classe superior, muito tolerantes para os deles mas prontos a
sacrificar os que a ela não pertencem. A maioria é, dizem, superiormente
preparada. Mas só na teoria. Não possuem experiência, sabedoria, bom-senso.
Ignoram a simples e palpável realidade.
Para que serve um cirurgião com
superiores conhecimentos de anatomia se nunca operou? Para que serve um
engenheiro cheio de complexas e trabalhosas teorias se nunca as aplicou a uma
realidade? Para que serve um licenciado em direito que sabe o código civil de
frente para trás e os códigos romano e napoleónico se desconhece o tribunal?
Para que serve um economista (macro ou micro) que tudo leu e estudou o antes e
o depois de Adam Smith se nunca geriu fosse o que fosse ou que de óptimo aluno
passe logo a “director-geral” de um organismo estatal? E, no entanto, podem ser
todos doutorados, professores, possuir elevadas e comprovadas qualificações
académicas. "Quem sabe faz, quem não sabe ensina".
Acontece o mesmo na política.
Para que serve um político
directamente saído das “juventudeszinhas partidárias” ou nomeado pela alta
finança ou pela maçonaria?
Todos são mestres na teoria e
aprendizes na prática e o orgulho e a falta de humildade (por vezes a
imbecilidade) impedem-nos de adquirir a experiência tal como ela própria o
exige: a começar de baixo.
Para a miserável situação a que se
chegou, contribuíram quase todos e todos têm para ela explicações, culpas e
vagos remédios.
Referência a incompetência,
corrupção, vergonhosos conluios e a ganância de poder e prestígio? Não. Mea
culpa? Não. A culpa é sempre dos outros, “...é do pólen dos pinheiros, do urso
que hiberna, da encefalopatia espongiforme bovina, da Eva que comeu a maçã, dos
que usam gravata...”. Deles? Nunca!
Causa pública? Não sabem o que é.
Pobreza pública? Ignoram-na.
Ah!, tantas comoventes declarações,
tanta sacudidela da água do capote numa total ausência do espírito de servir,
com uma enorme preocupação de poder, numa chafurdice nunca vista. Mas,
candidatam-se, oferecem o seu superior e desinteressado saber. São todos
amigalhaços que só a inveja separa porque ideais só proclamam os que lhe
convêm Sei que o homem é mau e que mau
continuará a sê-lo, mas existe um particular obstáculo para que o homem mude: o
alheamento (quando não o apoio) cúmplice do poder político, económico, religioso,
profissional.
A cambada que nos rodeia à esquerda,
ao centro e à direita é fruto da nossa ingénua tolerância. A cambada e a sua
cáfila que nos rodeiam têm apenas a “tolerância de sentido único”: para os
deles e com o sentido único do dinheiro, do poder, do prestígio, da influência.
Tudo com a prepotência
que a impunidade dá.
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