“...Ah, todo eu anseio por este momento
sem importância nenhuma...”
Lembro-me de ele me ter dito
“Acha bem 7 de Abril?“. Já? Senhor doutor tem que ser já? retorqui com
medo e desapontamento (nas tragédias da vida os humanos nunca abandonam a
esperança do impossivel). Não pode ser depois do Verão?
Estávamos em Junho e
depois de três semanas de cama e de outro tanto de canadianas eu já me sentia
quase bom mas de “rápido” aquilo, para mim, não tinha tido nada. Desconfortáveis
e penosas recordações passavam-me pela cabeça enquanto maquinalmente dava uma
ordem de print. Print mas nada até que no écran da maquineta surgiu a indicação
de falta de tinta na impressora. A geringonça demonstrava sistematicamente uma
infalivel competência e só lhe faltava falar o que a ciência infelizmente nunca
(?) conseguirá.
Gaita, gaita e regaita.
Porque é que estas coisas só acontecem aos fins-de-semana ou depois das sete da
tarde? Durante os chamados dias úteis não há faltas ou avarias mas aos Sábados
e aos Domingos parece que nunca falha. Bolas, bolas e rebolas. Úteis?! Mas esta
malta não me conhece. Vou “printar” isto hoje, Sábado depois das seis, ou não
seja eu neto do meu avô. E peguei nas “páginas amarelas”... Tin...tin... ora
cá está, não...tinturarias...comp... comp...sim,
computadores...também não, espera lá
“veja também em informática, equipamentos e acessórios”..., voilá disse
eu triunfante e mais triunfante fiquei ao ler uma morada bem perto, ali na
Maria Pia.
Quando do lado de lá atenderam e disseram que sim, que tinham o
material e garantiram, em resposta ás minhas súplicas e garantias de
proximidade imediata, que esperariam por mim, fui invadido por vertigens de
alívio e de alegria.
Desci a rua íngreme, que a luz enviada pelo Tejo no fim
daquela tarde de Verão quase tornava linda, e deparei, na esquerda, com o local
que me fora descrito ao telefone.
O entusiasmo e a pressa eram tais que ao lá
chegar quase pontualmente achei que podia prescindir das canadianas. Saí do
carro com visivel esforço e comecei a andar à “robocop” numa estrita
observância das regras estabelecidas pela minha fisioterapeuta “dedos-calcanhar, dedos-calcanhar, braços a
balançar para o peito, esquerdo-direito, esquerdo-direito, tronco direito,
olhos bem em frente“.
Vi com impaciência o número da porta junto à qual estava
indolentemente encostado de joelho alçado e pé apoiado na ombreira um homem, em
mangas de camisa e cigarro ao canto da boca, que me tinha curiosamente observado
desde a saída do carro.
“Não vale a pena tocar, ele já saíu“ disse-me ele
gozosamente e sorrindo. Saíu como? respondi-lhe eu agressivamente. Saíu como,
se falei com ele há menos de meia hora?
”Ó senhor não se enerve que a vida são
dois dias. Já lhe disse...saíu. Olhe, vi-o passar por aqui vai para mais de um
quarto de hora”.
Isto é um país de selvagens, exclamei furioso e continuei: bem
sei que um miserável tinteiro não é nada comparado com a venda de um
computador, mas o homem prometeu-me esperar...
“Tinteiro? Tinteiro?“ interrogou
ele perplexo, acordando da indolência. “Então o senhor não vem ao endireita do
primeiro?“.
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