segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Não acertam uma.



Há muitos anos estava eu na Universidade de Lisboa (IST) e todos nós, jovens candidatos a engenheiro, éramos enganados pelos boletins meteorológicos que sistematicamente previam um tempo que nunca ocorria.
No final do nosso curso, que na altura era de seis anos como apenas o de medicina, suscitámos a questão ao nosso professor da cadeira de “Trabalhos Marítimos e Fluviais”. A resposta a todos convenceu: que as perturbações meteorológicas se deslocavam de ocidente para oriente e que Portugal, dada a sua situação geográfica no litoral ocidental do continente europeu, não podia beneficiar das observações dessas perturbações como os países do centro e leste europeu. Quanto muito, podiam interpretar-se dados das ilhas do Atlântico o que era pouco para uma previsão fiável e que, fosse como fosse, não eram possíveis previsões para além das 48 horas. A geografia condenava-nos.
Muito bem, mas passados tantos anos, com satélites , modelos e ferramentas matemáticos certamente muito mais evoluídos continuamos sem saber o tempo para o “depois de amanhã”. Basta uma borboleta bater as asas na China para que tudo se altere por cá.
Também naquela universidade estudei estatística na cadeira de “Probabilidades, Erros e Estatística”. Por ela soube o que eram “distribuições normais”, “intervalo de erro”, “amostra”, etc, mas naqueles tempos não havia sondagens para reflexão pública fossem de que tipo fossem incluindo, portanto, a esfera política que era assumida e declaradamente antidemocrática.
Hoje como estamos? Na mesma e no que respeita à meteorologia: nunca sabemos com certeza o que será o “depois de amanhã”.
E nas sondagens? Estamos por elas inundados em tempos de eleições. Periodicamente aqui vai disto e no fim aparece, em frases apressadas e de letra cerrada, a base da análise e a sua justificação.
O problema é que só se pode comparar o comparável. 
Será que é indiferente a dimensão da amostra (150 ou 1500)? Será que o modo como é caracterizado o objecto do questionário (a pergunta) não tem importância? Será que a definição dos patamares etários e das classes profissionais é irrelevante? Será que o facto de as entrevistas serem por telefone fixo, sendo banidos os utilizadores de telemóvel é um detalhe? Será que a variação da constituição da amostra (ao fim de três séries de entrevistas a amostra é substituída por outra, por exemplo) não conta? Será que o intervalo entre entrevistas consecutivas (de um dia a uma semana) não tem influência? Será que 30%, por exemplo, de uma amostra de apenas 0,1 por mil (5 centenas) poderá representar um universo de 5 milhões? Julgo que não.
Se assim for, surge uma certeza e uma interrogação: não se podem comparar os resultados das sondagens que hoje nos aparecem e, pergunta-se, se o exercício da sondagem não será outro modo de influenciar o voto.
Dirão alguns que, para além de números com precisão de décimas (!), há o “facto” da existência de empate técnico (impensável há poucos meses) e tendências que são pertinentes indicadores. Pois, mas o que dizer entre os resultados previstos e os reais das recentes eleições em Israel, na Grécia e no Reino Unido?
Por outro lado, a percentagem de indecisos (“não sabe”, “não responde”) é muito relevante, excede os 30%. Este número traduz por um lado a aversão a um governo que não cumpriu promessas eleitorais e que implementou cegas e severas medidas de austeridade (com graves consequências na saúde, na educação, no desemprego, no PIB, no índice de pobreza) à revelia de qualquer consenso em sede partidária ou de concertação social e, por outro, a recordação de um catastrófico passado de governação socialista irresponsável que levou Portugal à beira da bancarrota.
Deste modo, julgo que aversão e desconfiança são as principais razões da indecisão e, eventualmente, de um aumento da abstenção.
Na campanha actualmente em curso e na pré campanha que muito cedo começou, é de assinalar a péssima prestação do PS, embora apoiada em estudos e contas, e a profissional e inteligente estratégia da coligação PaF a qual, no entanto, apenas apresenta receitas e do seu programa nada disse remetendo respostas a dúvidas pertinentes para o que consta num documento enviado para Bruxelas e que o vulgo não conhece (o que é significativo e deveria dizer muito ao eleitor mais atento). Trapalhada e ignorâncisa por um lado, esquecimento e dissimulação por outro. 
Veremos a realidade no próximo dia 4 de Outubro.

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