Começou a desgarrada eleitoral com outro assunto importantíssimo, largamente
coberto pelos canais televisivos e pelos jornais. O da discordância partidária
quanto ao modelo dos debates entre as candidaturas às próximas eleições
legislativas.
Diz a oposição em bloco que se trata de debates entre candidaturas e não
entre os partidos e que no caso de coligações só pode participar um
representante dessa coligação. Invocam o disposto na Lei e se de facto a Lei
assim o entende assim deveria ser feito.
Diz a actual coligação de dois partidos que não. Que os “lideres” dos
partidos que dela fazem parte e que concorrem às eleições novamente coligados
têm ambos o direito de participar conjuntamente nos debates. Este entendimento
conduziria, julgo, a um desequilíbrio informativo. De facto, se por hipótese
houvesse uma coligação eleitoral de 4 partidos e, do outro lado, um único
partido concorrente, o tempo de debate seria de 80% versus 20%. Debate
equilibrado? O bom-senso diz que não.
Vai daí, assiste-se a uma guerra infantil entre pessoas crescidas.
Ai eu não posso participar? Então não participamos todos. Ai só um
representante de uma coligação pode participar? Então, no debate tal não vai o
“líder” vai o “sub líder”. Ah sim? Então nós também enviamos um “sub líder”. Ai
vai um “sub líder”? Então eu “sub líder”, que não desprezo ninguém, que nunca
recusei qualquer debate e que sou um democrata não vou comportar-me como nos
regimes comunistas em que se prendiam e cortavam cabeças e aceito um debate com
um “sub líder”.
Enfim, uma discussão ridícula. Mesmo que assim não fosse, qual seria, qual é, o interesse dos debates? Hoje
em dia, pouco ou nenhum porque já se sabe o que irão trazer.
De um lado, uma constante e repetitiva referência à irresponsável governação
passada que levou o país à banca rota e que só uma inconsciência colectiva
desejaria ver repetida. Também o sublinhado de indicadores económicos,
financeiros e sociais que traduzem uma “tendência” para uma “clara”
consolidação orçamental, um decréscimo do desemprego, uma redução do deficit e
da dívida pública e eteceteretal. Enfim, a proclamação do sucesso de uma
política de austeridade cujas agruras e graves consequências o eleitor já esqueceu.
O exemplo grego será também utilizado até à náusea.
Do outro lado, da oposição, os argumentos não são unânimes. Sair da zona
euro e não aceitar o Pacto Orçamental ou modificar um regime de austeridade por
outro diferente o qual, no entanto, se encontra mergulhado na névoa, na
contradição e no disparate numérico de que é exemplo a “promessa” da criação de
207000 postos de trabalho - a qual afinal nunca foi promessa mas apenas o
resultado expectável de uma estimativa política – e cujo número é aquele e não 199900,
nem 267.000, nem 207001, nem mais nem menos. Também se discutirá a bondade da
informação estatística, porque não é “homóloga”, porque não se baseia em
“modelos” normalizados, porque esconde e manipula a realidade. Apontar-se-á
para a falta de fundamentação analítica do programa eleitoral da coligação. Far-se-á
apelo à confiança ou à competência ou a uma política patriótica e eteceteretal.
Claro, também surgirão de ambos os lados declarações laudatórias ou pouco modestas
ou pouco realistas e “sujidades”.
Novidades? Nenhumas. Esclarecimentos? Nenhuns. Definição clara de reformas
estruturais? Nenhuma. Promessas? Muitas, como é hábito.
Porquê tanta discussão e negociação sobre os debates? Porque, tal como a
magna questão dos cartazes, é o resultado do estado a que isto chegou.
E assim anda Portugal nestas estúpidas desgarradas.
“Que mais irá acontecer?”.
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