sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

A queda do helicóptero



“Srª D. Anica? Sr. Queiróz! Onde ides vós? Ao campo d´aviação ver o aeroplano subir ao ar. Deve ser um espectáculo soberbo mas eu cá não me atrevo a ir lá assistir porque quando começa a subir toda a gente começa a fugir e eu cá tenho medo!”.
Era assim que se cantava numa revista do Parque Mayer de há uns bons 60 anos.

- Srª D. Anica caíu o helicóptero.
- Mas porquê Sr. Queiróz?
- Ai isso não sei, só sei que o socorro levou demasiado tempo a chegar.
- Sr. Queiróz isso merece um inquérito!
- Mas, D. Anica, e se não houver ninguém para salvar, isso interessa
  para o caso? Porque é que caíu? Isto sim é muito importante.
- Ai isso não sei, Sr. Queiróz, mas, como disse o nosso querido
   presidente Marcelo, o que interessa é a segurança dos cidadãos e
   houve 4 (quatro) falhas.
Os media durante dias bateram nas 4 (quatro) teclas. O governo também.
    

Nesta tragédia morreram, infelizmente, quatro cidadãos mas não por causa daquelas quatro falhas. Morreram porque, de acordo com o relatório de inquérito, o embate da aeronave com um poste metálico de transmissões, com 66 metros de altura colocado no alto do monte, foi violentíssimo.
Houve um violento embate. Porquê?
O tema não foi explorado mas apenas abordado com alguma relutância e parcialidade quando, há falta de melhor (foi o que pareceu), se duvidou da existência de iluminação do topo da torre.
Houve uma alteração do plano de vôo do helicóptero (pedida pelo piloto) sem o qual qualquer aeronave não pode cruzar os céus.
Mau grado as muito más condições atmosféricas, com cerrado nevoeiro e chuva, essa alteração foi autorizada. Houve uma redução da altitude do vôo para 1500 pés (cerca de 495 m).
Se a este valor for deduzida a altura da torre com cerca de 200 pés, restam 1300 pés.

Qual a altitude da crista do monte? É inferior a 1300m ou superior? Se for superior, a possibilidade de um embate numa trajectória que inclua a torre é elevada.

Por outro lado, foi com muita naturalidade que se afirmou que naqueles locais é habitual a perda de controlo pelos radares. Poderá ser habitual mas não é aceitável de um ponto de vista da segurança. Estes dois pontos que, na minha opinião, são relevantes falhas de segurança não foram objecto de qualquer análise. 
É aceitável para uma correcta informação? 
É aceitável numa garantia global de segurança? 
Julgo que não. 
 

            

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