segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Os selvagens amarelos



Assisti ontem ao que aconteceu (e continuará a acontecer) em Paris.
Tudo começou com o aumento do preço dos combustíveis e rapidamente estendeu-se à questão do custo de vida (dizem que de 100 euros ganhos por um trabalhador 48 vão para o estado). 
A maioria dos manifestantes são homens dos 30 aos 40 anos no meio dos quais se infiltraram jovens marginais dos subúrbios, vestidos de negro, encapuzados com capacetes, óculos, luvas reforçadas e botas de trabalho. Alguns armados com bastões ou barras de ferro. Estão lá à procura de uma "oportunidade".
Contrariamente ao que é hábito, o início do protesto não teve início em sindicatos ou partidos políticos mas sim num escrito numa rede social.
Claro que depois as coisas mudaram. Hoje há um claro apoio à manifestação por parte das extremas direita (Marie Le Pen à cabeça) e esquerda, da oposição ao governo de Macron e, de acordo com sondagens, tem a compreensão de 85% da população.
Exige-se agora a dissolução do parlamento e a convocação de eleições legislativas. 
Vi a bandeira francesa ao lado de carros queimados, vitrines partidas, sendo os alvos preferenciais os símbolos da riqueza: bancos, máquinas multibanco, vitrines de lojas de produtos de luxo. Uma destruição própria de revoltados e de selvagens.
Um cenário de guerra e é de admirar que haja responsáveis partidários que a ignorem ou que a aproveitem para fins políticos. 
O povo francês foi sempre assim e tem com a violência uma afinidade quase patológica.
Lembre-se do “regime do terror” (era assim denominado) do século XVIII que cortou, entre muitas outras,  as cabeças do rei e da raínha. Proclamou a república e promoveu a guerra com os países mais poderosos da Europa. Por outro lado, assim nasceram a declaração universal dos direitos do homem, o sistema decimal e, talvez, os EUA. Durante quase 30 anos houve muito sangue e mortandade.
Com natureza muito diferente, esta selvajaria dos coletes amarelos traz à memória os acontecimentos de Maio de 68. Iniciaram-se com protestos estudantis, alastraram-se, rapidamente aos trabalhadores e o movimento mobilizou mais de 10 milhões de manifestantes.
Foi a maior greve geral da Europa e contou com o apoio dos sindicatos e do Partido Comunista francês. 
A França esteve à beira da guerra civil e o general de Gaulle refugiou-se numa base militar na Alemanha onde, dizem, falou com o influente general Massu garantindo, caso necessário, o apoio do exército. Regressou a Paris, dissolveu o parlamento e convocou eleições gerais. Os tumultos cessaram e após as eleições o partido gaulista tornou-se paradoxalmente o mais importante partido político francês.
Não é só o governo de Macron que está em jogo é a Europa com o surgimento, por vezes violento, do populismo. Veja-se o que se passa na Suécia, na Holanda, na Hungria, na Itália, na Austria com o crescimento dos partidos de extrema direita.
Os “amarelos” acontecimentos não pararam e já foram convocadas mais manifestações tendo sido marcada a próxima em Paris para o próximo Sábado.
Como será o futuro da França e da União Europeia, não esquecendo o Brexit e a mudança de poder na Alemanha? Preocupante.

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