quinta-feira, 18 de julho de 2013

Uma denúncia: regabofe e corrupção

Regabofe: festa em que se come e bebe à farta

Nestes tempos de grave crise política, de autêntico regabofe em que o cidadão tem que engolir e beber o que os políticos, analistas e e jornalistas lhe oferecem, lembrei-me de repescar uns extractos das afirmações de António Costa numa série do programa “Quadratura do Círculo”. Nelas tudo é, julgo, pertinente para se entender um pouco melhor o aspecto financeiro do dramático problema que Portugal enfrenta, embora haja quem considere oportuna uma viagem às Ilhas Selvagens a mais de 1.000 km daqui.
Então, o que é que ele afirmou perante o silêncio total dos outros intervenientes?

(...) a situação a que chegámos não foi uma situação do acaso. A União Europeia financiou durante muitos anos Portugal para Portugal deixar de produzir. Não foi só nas pescas, não foi só na agricultura, foi também na indústria (...). E, portanto, esta ideia de que em Portugal ouve aqui um conjunto de pessoas que resolveram viver dos subsídios e de não trabalhar e que viveram acima das suas possibilidades é uma mentira inaceitável (...).
(...) orientámos os nossos investimentos públicos e privados em função das opções da União Europeia, em função dos fundos comunitários, em função dos subsídios que foram dados e em função do crédito que foi proporcionado. (...) é isso que estamos a pagar (...).
(...) a ideia de que os portugueses são responsáveis pela crise porque andaram a viver acima das suas possibilidades é um enorme embuste. 
(...) quem viveu muito acima das suas possibilidades nas últimas décadas foi a classe política e os muitos que se alimentaram da enorme manjedoura que é o Orçamento do Estado. 
A administração central e local enxameou-se de milhares de “boys”, criaram-se institutos inúteis, fundações fraudulentas e em presas municipais fantasmas. A este regabofe juntou-se uma epidemia fatal que é a corrupção. 

Os exemplos sucederam-se. A Expo 98 transformou uma zona degradada numa nova cidade, gerou mais-valias urbanísticas milionárias mas no final deu prejuízo. Foi ainda o Euro 2004 e a compra dos submarinos, com pagamento de luvas e corrupção provada mas só na Alemanha. 
(...) e foram as vigarices de Isaltino Morais (...) a que se juntam os casos de Duarte Lima, do BPN e do BPP, as parcerias público-privadas e mais um rol interminável de crimes que depauperaram o erário público. Todos estes negócios e previlégios concedidos a um polvo que com os seus tentáculos se alimenta do dinheiro do povo têm responsáveis conhecidos e têm como consequência os sacrifícios por que hoje passamos. 
(...) enquanto isto os portugueses têm vivido muito abaixo do nível médio europeu, não acima das suas possibilidades. Não devemos, pois, enquanto povo ter remorsos pelo estado das contas públicas, devemos antes exigir a eliminação dos previlégios que nos arruínam. 
Há que renegociar as parcerias público-privadas, rever os juros da dívida pública, extinguir organismos. Restaure-se um mínimo de seriedade e poupar-se-ão milhões sem penalizar os cidadãos. 
Não é assim, culpando e castigando o povo pelos erros da classe política que se resolve a crise. Resolve-se combatendo as suas causas, o regabofe e a corrupção. (...).

Regabofe? Corrupção? Vergonhosamente sim, mas do que Portugal sofre é de um problema de educação (que não se deve confundir com "instrução" que tanto é badalada por governos e sindicatos). Dêem-lhe tanta importância como ao deficit e os resultados aparecerão. E quem são os culpados da falta de educação de que Portugal sofre? Entre outros, pais, professores, jornalistas, chefes, políticos.
Muitos pais que enfiam os filhos em escolas e que só os vêem, que só falam com eles aos fins-de-semana, se tanto. Demasiados professores que cada vez têm menos educação (que, repito, não é "instrução"). Tantos jornalistas que escrevem mal, que não sabem falar, que pensam mal e que escolhem e exploram temas para divulgação com critério próprios da imbecilidade e do sensacionalismo bacoco. Chefes, que o são mais por automatismos e por confianças do que por competência e dedicação ao trabalho. Políticos que, todos os dias, de todas as formas e salvas raríssimas e honrosas excepções, nos revelam que o que interessa é "o deles", que não têm a menor ideia do que é o bem-público, que vagamente conseguem distinguir o que é honestidade e se embrulham em negociatas vergonhosas.
Não? Só pode ser distracção.
                         

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