Itália ingovernável? Claro que não. Qualquer país é governável excepto se a sua governação for inconveniente para os poderosos (antigamente eram as armas que falavam, hoje é o dinheiro).
Veja-se o caso do Zimbabwe e da inacreditável criatura Mugabe, seu supremo
líder (na opinião dele excelente governante, para não fugir à regra, lá como
cá). A comunidade internacional mantém-se serena com esta situação e com outras
mais recentes. Mas a Itália é diferente: faz parte da Europa, da “civilização”.
Corrupção, compadrio, malandros à solta, justiça inoperante, incompetência
generalizada, riqueza de governantes e de “boys”, pobreza do mexilhão, total
ausência de transparência nos actos do Governo (democracia? Vou ali e já
volto). Lá como cá, em escalas e dores diferentes é certo.
O resultado das eleições na Itália e o “downgrade” do Reino Unido tiveram
um impacto económico muito significativo, nas bolsas e nos mercados. É um
pertinente exemplo porque aqueles comportamentos nada mais são do que
reflexos/avisos de quem realmente manda na “civilização”: a finança. Esta manda
nos que nós pensamos que mandam: nos governos.
No Zimbabwe a situação foi mais sangrenta, é mais aflitiva para os de lá e
menos grave do que a que existe cá. Que diabo, nós somos “civilizados”. Em vez
de sangue, tortura, prisões e puro despotismo, por cá existe desemprego
galopante, quase-miséria na classe média, dívida para além do razoável,
esmagamento do contribuinte em geral e dos reformados em particular, nepotismo,
corrupção, incompetência, indecência cívica.
A terceira força italiana resultante das eleiçõe de ontem é um movimento
cívico denominado,
“Movimento Cinco Estrelas”. É eurocéptico, contra o euro, contra os
partidos. Obteve 25,55% dos votos. A coligação da esquerda e a de
centro-direita obtiveram na Câmara dos Deputados, respectivamente, 29,55% e 29,
18% dos votos. Contra os partidos? Fico curioso quanto ao futuro. Não seria
estranho se se transformasse em mais um partido...
O que aconteceu em Itália deveria ser um exemplo para nós: que se crie cá
um movimento com as bandeiras “Decência”, “Honestidade”, “Competência”, “Dever
de Serviço Público”.
O movimento “Cinco Estrelas”, fundado em 2009, entende, pela voz do seu
fundador (que não dá entrevistas, ele lá sabe porquê e eu também) Beppe Grilo,
que “ser honesto está na moda”. Novamente não estou de acordo.
Ser-se honesto não é uma questão de moda mas sim de carácter e de educação
(hoje, 26 de Fevereiro, li no DN: “desde que tomou posse, o ministro da
Administração Interna já assinou 58 despachos para expulsar elementos da PSP e
da GNR, 13 da primeira força de segurança, 45 da segunda. A maior parte é
devida a casos de crimes de corrupção, com a GNR a dar o maior contributo”). Só
ali, naquelas duas? E no governo do Estado, das Autarquias, das Juntas, dos
clubes de futebol, etecetera? Não? A corrupção não invadiu tudo? Claro que sim,
basta “parar, ver e escutar” junto às cancelas que nos rodeiam no dia-a-dia. Mas
a onda de m...em que mergulharam este pobre povo tem que ser negada. Tem que
haver “discurso de estado”, que somos tão bons como os melhores. “Não só no
futebol e na música, na economia também”.
E na política? Como está o povo neste regime partidocrático? Bem? A
democracia é o melhor regime até que se descubra/invente outro? Sim,
eventualmente sim, mas os romanos suspendiam-na nas ocasiões graves e perigosas
para o Estado. Ou não? Democracia? Qual? A presidencial, a parlamentar, a para
lamentar, a participativa, a popular, a directa, a eteceteraetal? Ora, ora,
pois pois.
Pois. O que nos falta é um movimento daqueles e escusa ser de cinco
estrelas. Por mim contentava-me com duas.
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