domingo, 11 de novembro de 2012

A língua portuguesa e o "acordo" ortográfico



"Será qe algum dia xegaremux a exta perfaisaum?"

Nada do que se segue é da minha autoria. Trata-se de apontamentos que tenho tirado de livros, da net, sobre esta língua que é a minha e de que tanto gosto.
Portugal, país de poetas e de soldados.
Sim, de soldados e sei do que falo. Estive na “Nó Górdio” no norte de Moçambique e vi a bravura, a coragem dos soldados portugueses com quem confraternizei, como alferes, durante dois muito difíceis anos (quando falo de soldados, penso neles e não dos mercenários que hoje vão defender o Ocidente de óculos escuros, “écharpe” colorida ao pescoço e uns bons euros no bolso). E quando falo de poetas não falo nos políticos que “compaginam” muita coisa nem dos do mundo do futebol que parlapateiam discursos inimaginavelmente imbecis.
Somos, de facto, um povo que é estranho em muitas coisas do dia-adia, desde a governação à língua, passando por paixões que desrazoam como a do futebol.
Povo, no entanto, que eu não trocava por nenhum dos que conheço.
Hoje, o serviço público de televisão, na sequência do “acordo” ortográfico (“acordo” esse para o qual os cidadãos não foram ouvidos nem chamados a pronunciar-se devidamente - será que o assunto é menos importante do que o aborto, o casamento “gay” ou o euro?) teima, todas as manhãs e através do canal 1 da televisão pública, em ensinar como se fala “em bom português”. Aparentemente o outro, aquele que teimo em continuar a praticar, é “mau”, como “mau” é para “eles” a 4ªclasse que os da minha geração felizmente tiveram no ensino público, obrigatório.
Enfim, coisas da vida, como diria a minha Engrácia.
Não nego a inevitável e própria evolução das línguas (leiam-se as crónicas de Fernão Lopes ou, para não se ir tão longe, textos do século XVIII).
As línguas são como as cidades. São vivas e, por isso, evoluem, mudam e por vezes radicalmente quando vistas com a distância própria do tempo. Quando deixam de o ser passam, naturalmente, a “mortas”, como é o caso do latim e dos sítios arqueológicos
Outra línguas há, tão ou mais ricas como a nossa e com uma expansão geográfica comparável, mas que evitaram sempre uma súbita e forçada “modernização” que, de algum modo, as matasse.
Veja-se o caso do inglês.
Houve algum acordo da Grã-Bretanha com os EUA e com os países da Commonwealth (só para falar do país mais falante) para a “oralidade” (gosto deste vocábulo) e  da língua escrita, da uniformização de vocábulos?
Não.
E o francês?
Espalhado pela a Europa como língua da cultura (ainda o sendo na Rússia e outros países daquela região), por África e só recentemente gradual e fatalmente substituído pelo inglês (o latim do tempo contemporâneo, principalmente na ciência e na comunicação), procurou aquela língua adaptar a sua escrita à “oralidade” (como gosto deste culto vocábulo!), abandonando as suas raízes latinas e gregas? Substituíram eles o “ph” pelo “f”, por exemplo?
Não.
Mas, em Portugal, uns especialistas de linguística (adjectivação esta que não contesto) entenderam criar uma nova língua escrita, embora com a clara oposição de muitos escritores e especialistas do ramo de renome, cuja competência é indiscutível. Uma língua cuja escrita se aproximasse da “oralidade” (que maravilha; desculpem a repetição) e fosse mais conforme com o facilitismo e a incompetência próprios da sofistificada boçalidade e da ignorância que se ouve e lê no dia-a-dia, nos jornais nos canais da televisão portuguesa.
É assim. Nada há a fazer.
A Assembleia da República aprovou a proposta do Governo, o Governo decretou, o Presidente da República assinou.
E pronto.

O Português (apontamentos tirados em 2007 e cuja autoria hoje desconheço).     
   
 “ (...) o português é a sexta língua mais falada no mundo, indicam as estatísticas da Unesco que revela a existencia de 6,7 mil linguas vivas no mundo.
Segundo a instituição, o português está atrás do mandarim, do hindu, do castelhano, do inglês e do bengali.
Segundo o documento "Língua Portuguesa: Perspectivas para o Século XXI", elaborado polo Instituto Camões, a lingua portuguesa tem ganho falantes de forma contnua, desde o começo do século XX. Em 2000, a Unesco estimou en mais de 176 milhões o número de falantes de português no mundo.
O português é a língua oficial de oito países – Portugal, Brasil,  Angola, Cabo  Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste - nos diferentes continentes. Desta forma, o português está presente nos quatro cantos do mundo. Utilizada diariamente por cerca de 200 milhões de pessoas, lonje dos cerca de três milhões que a utilizavam, na sua forma arcaica, no século XVI, quando foi difundida espontaneamente por navegadores, guerreiros, mercadores, marinheiros e missionários.
O galego e o português eram a mesma língua até aos séculos XII-XIII, quando se iniciou un processo de afastamento devido ao qual em Portugal adquiriu o caracter de língua nacional e na Galiza ficou submetida ao processo nacionalista que se concluiría com a criação de Espanha. Em Portugal a lingua foi normalizada e naturalizada e na Galiza não, além de que o seu uso desapareceu na prosa legal e na literária.
O esplendor literário medieval foi desconhecido nos dois lados da fronteira até ao século XIX por volta da década de 1920. Apesar disto, existem posições diferentes no que respeita à unidade-separação do galego e do português, como é o caso,por exemplo, do chamado reintegracionismo.
O reintegracionismo é uma corrente de pensamento e de movimento social que defende as seguintes proposições:
- O galego, historica e internacionalmente, está integrado na lingua portuguesa ou, no ámbito científico, na língua galego-portuguesa; as diferentes falas galegas são, como as portuguesas, parte do mesmo diasistema linguístico.
- Adopção da grafia histórica do galego que, no essencial, coincide  com a actual norma portuguesa, se bem que mantendo algumas das particularidades das falas galegas (...).
Nota : No sec. XII, em 2100 vocábulos do português primitivo, 1200 eram latinos (57%), 800 árabes (38%) e 100 germânicos (5%).                                                                                                     

E, agora, uma maravilhosa contribuição paraxegarmux à (à sua, dela, língua portuguesa) perfaisaumque transcrevo parcialmente e com a devida vénia.
in “O acordo ortográfico e o futuro da língua portuguesa” de Maria Clara Assunção, publicado em 14 de Agosto de 2009 no blogspot:

“ (...) Comecemos pelas consoantes mudas: deviam ser todas eliminadas. (…) Se não se pronunciam, porque ão-de escrever-se? O que estão lá a fazer? Aliás, o qe estão lá a fazer? Defendo qe todas as letras qe não se pronunciam devem ser, pura e simplesmente, eliminadas da escrita já qe não existem na oralidade.(...) Porqe é qe “assunção” se escreve com “ç” e “ascensão” se escreve com “s”? Seria muito mais fácil para as nossas crianças atribuír um som único a cada letra até porqe, quando aprendem o alfabeto, lhes atribuem um único nome. Além disso, os teclados portugueses deixariam de ser diferentes se eliminássemos liminarmente o “ç”.
Por isso, proponho qe o próximo acordo ortográfico elimine o “ç” e o substitua por um simples “s” o qual passaria a ter um único som. (...) também os “ss” deixariam de ser nesesários já qe um “s” se pasará a ler sempre e apenas “s”.
(...) Claro, “uzar”, é isso mesmo, se o “s” pasar a ter sempre o som de “s” o som “z” pasará a ser sempre reprezentado por um “z”. (...) Quanto ao “c” (que se diz “cê” mas qe, na maior parte dos casos, tem valor de “q”) pode, com vantagem, ser substituído pelo “q”. (...) O som “ch” pasa a ser reprezentado pela letra “x”. Alguém dix “csix” para dezinar o “x”? Ninguém, pois não? O “x” xama-se “xis”. Poix é iso mexmo qe fiqa. (...) o qaso do som “j”. Umax vezex excrevemox exte som qom “j” outrax vezex qom “g”. Para qê qomplicar?!?
Se uzarmox sempre o “j” para o som “j” não presizamox do “u” a segir à letra “g” poix exta terá, sempre, o som “g” e nunqa o som “j”. Serto? Maix uma letra muda qe eliminamox.
(...) Outro problema é o dox asentox. Ox asentox só qompliqam! Se qada vogal tiver sempre o mexmo som, ox asentox tornam-se dexnesesáriox. (...) Vejamox o “o”: umax vezex lê-se “ó”, outrax vezex lê-se “u” e outrax, ainda, lê-se “ô”. Seria tão maix fásil se aqabásemox qom isso! Para qe é qe temux o “u”? Para u uzar, não? Se u som “u” pasar a ser sempre reprezentado pela letra “u” fiqa tudo tão maix fásil! Pur seu lado, u “o” pasa a suar sempre “ó”, tornandu até dexnesesáriu u asentu.(...) Já nu qazu da letra “e”, também pudemux fazer alguma qoiza: quandu soa “é”, abertu, pudemux usar u “e”. U mexmu para u som “ê”. Max quandu u “e” se lê “i”, deverá ser subxtituídu pelu “i”. I naqelex qazux em qe u “e” se lê “â” deve ser subxtituidu pelu “a”.
(...) eliminamux u “til” subxtituindu, nus ditongux, “ão” pur “aum”, “ães” – ou melhor “ãix” - pur “ainx” i “õix” pur “oinx”.
Ixtu até satixfax aqeles xatux purixtax da língua qe goxtaum tantu de arqaíxmux.
Pensu qe ainda puderiamux prupor maix algumax melhuriax max parese-me qe exte breve ezersísiu já e sufisiente para todux perseberem qomu a simplifiqasaum i a aprosimasaum da ortografia à oralidade so pode trazer vantajainx qompetitivax para a língua purtugeza i para a sua aixpansaum nu mundu.
Será qe algum dia xegaremux a exta perfaisaum? ”

(Uma autêntica maravilha de texto. A sua versão integral é de leitura obrigatória.)
                       

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