Mostrar mensagens com a etiqueta educação. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta educação. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Tudo ao molhe.


Hierarquia, do grego “hierarkhes”, é a organização de entidades em diferentes níveis (“acima”, “abaixo”, “igual”).
Numa hierarquia directa aqueles níveis conduzem a entidades “superiores”, “subordinadas” ou “iguais” consoante o seu grau de autoridade, importância, complexidade.
                                 
No passado recente a hierarquia da sociedade era muito clara nos vários domínios de actividade como, por exemplo, a familiar ou a profissional.
Assim, havia o pai e o filho, o professor e o aluno, o chefe e a equipa. Hoje em dia, na sociedade, com excepção da instituição militar, a autoridade e o respeito atenuaram-se ou mesmo desapareceram. Por exemplo, na relação pai-filho ou na do professor-aluno.
Na família, as cabeças pensantes de sociólogos e pedagogos eliminaram os degraus da autoridade e do respeito e reforçaram, dando-lhes uma importância que não têm, a camaradagem e a fraterna igualdade.
O difícil e importante problema da autoridade foi substituído pela fácil e afectuosa explicação mesmo que incompatível com os graus de experiência e de maturidade de cada um.
Modernos conceitos da educação, nascidos nos anos 50, louvavam a tolerância, a permissividade, a compreensão e a desculpa do claramente censurável.
Benjamim Spock foi o expoente duma nova e revolucionária teoria da relação entre pais e filhos. O seu livro “The Common Sense Book of Baby and Child Care”, publicado em 1946, foi um dos maiores “bestseller” de todos os tempos com 50 milhões de exemplares vendidos até 1950.
Entrou pelas casas alterando o tradicional relacionamento entre pais e filhos. Em novos moldes criou uma nova geração. Foi um desastre.
Mais tarde, face ao evidente fracasso, Spock foi levado a justificar-se afirmando que os seus críticos não tinham bem interpretado os seus escritos.
Na escola, a autoridade e, sobretudo, o respeito desapareceram praticamente, embora sem haver ainda uma clara contestação à “explicação” dos problemas e aos modos de “transmissão do saber”.
Alguns professores da geração “spokiana”, criados numa época cheia de facilitismos com muitos direitos e poucos deveres e aparentemente tecnicamente bem preparados, têm comportamentos próprios da má educação e não podem constituir exemplo para os seus alunos. Basta vê-los e ouvi-los nas suas manifestações transmitidas em reportagens de televisão. 
Resumindo, deixou de haver professores e alunos, pais e filhos. É tudo um molhe de amigos.
Assiste-se, incrédulo, ao que se pode designar como uma hierarquia invertida e cujos efeitos se fazem sentir a todos os níveis.
Incompetência e grosseria são algumas das consequências daquela inversão nos comportamentos diários.
Infelizmente, na política, que deveria ser uma das mais nobres actividades públicas, assiste-se incrédulo ao compadrio (que substituiu a competência), à corrupção (que a Justiça deixa ficar impune), ao profissionalismo (exercido em proveito próprio e que ignora o dever do serviço público devido à comunidade que os paga).
O que falta? Educação, e o que escandaliza e choca o cidadão do antigamente é a falta de educação de agora.
O respeito pela hierarquia natural é importante na educação? É, muito.
Há alternativa? Não há e aquilo a que se recorre é mau:
Tudo ao molhe e… fé em Deus.

                 

sábado, 16 de dezembro de 2017

Umas valentes palmadas



Frequentemente, insisto com outros (que comigo concordam) que existe uma enorme diferença entre instrução e educação.
O desabafo que se segue vem a propósito dos pequenos escândalos que recentemente assolaram este país, nomeadamente a invocação de falsas licenciaturas por responsáveis de órgãos de protecção civil e a denúncia de gestão danosa em instituições de solidariedade social.
O que distingue o ensino, a instrução da educação?
Ensino é a transmissão de conhecimentos, por exemplo de matemática, português, história, geografia, línguas, ciências, etc. Educação é incutir o bé-á-ba de uma relação social (bom dia, boa tarde, obrigado, desculpe, se faz favor…) e de comportamentos (ser pontual, respeitar os outros, ser-se arrumado, não deitar lixo para o chão, não mentir, ser solidário, ser honesto…). Por estes meros exemplos vê-se que existe entre os dois conceitos uma grande diferença.
Pode haver, e há, crânios muitíssimo instruídos mas que não passam de gente mal educada, tal como há outros muito pouco qualificados e que no dia-a-dia se comportam como senhores.
Há uma barreira, uma distinção, entre o que a academia dá e o que a escola, a família, os amigos, a sociedade no seu todo, ensinam como comportamento. De um lado, tem-se o vinte em saber e umas poeiras em comportamento e, do outro, têm-se umas migalhas de conhecimento e o que deveria ser uma esforçada acção educativa sobre o saber estar-se em sociedade.
Como mera prova, percorra-se um supermercado, frequente-se um restaurante, procure-se o bem estar de uma praia e assista-se às gritadas e desordenadas birras das criancinhas sob o olhar complacente ou distante dos pais, quando não embevecido.
Claro que nem tudo é preto ou branco, há, como sempre, uma nuvem de cinzento na qual, infelizmente, a realidade de hoje só difícil ou raramente se descortina.
A sinistralidade rodoviária, a pequena criminalidade, as disputas públicas, a gestão danosa para proveito próprio e a imbecilidade e a iliteracia mediática reduzir-se-iam drasticamente com uns gramas de educação. Mas não, é vê-los, ouvi-los, inchados com a importância conferida pelos graus de conhecimento e pelo poder que outros lhe deram.
Licenciado, mestre, doutor e qualquer outro grau (mesmo em instituições de aviário) é mais do que necessário mas é pouco. Fundamental é ser-se o que nunca se sonhou ser-se na escala de uma sociedade sã e, também, o poder praticar-se impunemente a golpada, a mentira, a prepotência para com terceiros, mesmo que tal tenha como preço o desrespeito por si próprio.
Poder é o que importa (em geral muito bem pago, em numerário ou em prepotência ou retribuído, em troca de cadeiras ou de favores). Poder, nem que este seja conquistado por uma sucessão de acasos de diversa origem, tais como o nepotismo puro ou partidário (tu és meu logo és dos nossos), a negociata (toma lá isto e não te esqueças para o que vier no futuro), a falta de vergonha (juro, desconheço totalmente, é uma cabala, etc.).
O importante para os coitados que nos governam ou que ensinam as crianças é a preocupação de se estar na média europeia da literacia e a embevecida análise de se ter abandonado os maus números estatísticos herdados do anterior regime. É claro que isto foi importante, mas foi um salto quantitativo que sendo de saudar afastou dramaticamente a juventude da “boa educação” a qual, quer se goste ou não, pautava o “antigamente”, o qual, aliás, existirá sempre.
Esta juventude tem já ou terá amanhã a responsabilidade de garantia de uma boa educação da sociedade em que se insere tendo em atenção a sua qualidade de futuros educadores como pais, professores, chefes.
Mas não, basta ver, por exemplo, as manifestações de professores os quais, pelo seu comportamento grosseiro e vociferante, são tudo menos exemplo aos jovens que instruem, bem ou mal. Por outro lado, os pais e avós sofrem de uma benevolência míope, de um total alheamento perante as birras das suas adoráveis e mal educadas criancinhas.
Antes poderia haver uma instrução limitada para uma muito grande faixa da população e a instrução nos graus superiores era reservada a uns poucos sendo, no entanto, exigentíssima (contrariamente ao que hoje sucede) e não ficando nada a dever à prática das melhores academias europeias.
Havia, sobretudo e nos dois casos, o respeito pelo outro, respeito esse que se incutia desde pequenino e era transmitido de pais para filhos numa sociedade que na sua generalidade era bem educada.
Hoje? As falcatruas financeiras, os escândalos futebolísticos, a gestão danosa, os lamentáveis galhardetes parlamentares, os passa-culpas políticos, as licenciaturas de aviário,... Na generalidade, gente sem vergonha e que deveria, se ainda fosse tempo, levar frequentemente umas valentes palmadas.