A selvagem morte do cidadão norte americano George Floyd
em Miniapolis chocou o mundo excepto nazis, KukluxKlans e ignorantes.
O grupo dos ignorantes tem atributos não identificáveis
para além da ignorância: um grande matemático ou um excelente médico, por
exemplo, podem ser ignorantes noutros domínios.
O mundo ficou chocado e uma onda de protesto, por vezes
violento, espalhou-se como um rastilho pela muito “culta” Europa.
Escrevo “culta” em contraposição com o carimbo “ignorante”
que fácil, justificada e repetidamente se põe na testa do americano médio. Os
E.U.A têm as melhores universidades, são pioneiros e os primeiros nos vários
horizontes técnicos (desde a inteligência artificial à biotecnologia) mas, de
facto, ignoram, na sua generalidade, com grande facilidade e naturalidade, a
geografia e a história.
O rastilho da revolta europeia copiou o americano não só
nas frases de ordem mas também nas pinturas e na danificação de monumentos, em
particular estátuas. Lembra-me a destruição dos Budas no Afeganistão pelo
governo fundamentalista Talibã.
Os Budas de Bamiyan localizavam-se no Vale do Bamiyan
(Afeganistão), local religioso Budista do século II até à época das conquistas
árabes, no século VII.
Muitos dos monges embelezavam as suas cavernas com
estatuária religiosa. Os maiores exemplares do mundo de Budas eram dois, um com
55m e outro com 38m de altura.
Em Março de 2001, o governo Talibã mandou destruir
aquelas gigantescas estátuas. Foram colocados explosivos ao redor das estátuas
detonados aos gritos de "Allah Akbar".
Para destruir completamente os restantes budas, faziam-se
duas ou três explosões por dia tendo o processo demorado 25 dias. No fim,
comemorou-se aquela total e selvagem destruição de um património da humanidade
com tiros para o ar e o sacrifício de nove vacas. Diz tudo.
Agora, na ressaca do assassínio de George Floyd, Thomas
Jefferson (1743-1826), considerado um dos maiores presidentes dos EUA, não
escapou à raiva por ser considerado um defensor do esclavagismo e era-o. A sua
estátua foi derrubada na cidade de Portland (Oregon) e a presidente do
Congresso (democrata) declarou recentemente que a existente no Capitólio seria
retirada. Nunca me admirei com a nomeação e posterior eleição do imbecil Trump
(republicano).
Também as estátuas de outras figuras notáveis da
Confederação foram derrubadas.
E, também, Baden Powell fundador do escotismo não escapou
e lá se foi outra estátua. Porquê? Muito provavelmente porque como oficial do
exército britânico e durante a guerra contra os zulus na África do Sul mandou
executar o chefe Uwini responsável pelo massacre de 300 colonos britânicos.
Quantos fuzilamentos foram realizados na Guerra Civil americana e nas guerras
europeias?
A questão é que se ignora com demasiada frequência que
tempos são tempos e que cada tempo tem a sua ética, os seus princípios e que
estes não podem ser analisados à luz dos do presente.
Lê-se
“Slave Owner”.
O mesmo também se aplica ao padre António Vieira
(1608-1697), um dos maiores se não o maior orador português, missionário e,
sublinhe-se, grande defensor das populações indígenas do Brasil combatendo
incansavelmente a sua escravização. No entanto, a sua estátua em Lisboa foi
vandalizada com o escrito “Descolonização” a vermelho.
E o que teve de anacrónico a nossa colonização com mais
de 600 anos tomando como referência a colonização da Madeira em 1418? E de que
sofre a população de S. Tomé e Príncipe para lá levada das costas africanas por
nós? Da sua independência? E a Índia portuguesa com a sua Goa tão amada pelo grande Afonso de Albuquerque que para lá queria deslocar a capital do Império? E o
Brasil? E a Língua Portuguesa espalhada pelos cantos do Mundo? Têm deles
vergonha os vândalos cretinos?
Pobre de espírito, o pintor. Imbecil como lhe chamou o
Marcelo? Talvez também, mas eu creio que foi um pobre executante às ordens de
um mandante politicamente correcto e cobardolas merdoso porque medroso de ser
descoberto. Suspeito que sim.
Inexplicavelmente escaparam à dinamite dos ignorantes e fundamentalistas cá do sítio a Torre de Belém, o Padrão
dos Descobrimentos e o Mosteiro dos Jerónimos.
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