No meio do meu arquivo descobri esta
interessantíssima informação que traduz a secular cultura popular dos
portugueses. A autoria é da “Associação de Paços de Silgueiros”. Reproduzo-a,
com a devida vénia, tal como está escrita:
“Pela primeira vez, em Portugal, no reinado de D.
Pedro II, se cunhou a moeda de três vinténs, de prata. E foi sendo cunhada até
ao fim do reinado de D. Miguel que terminou em 1834 pela convenção de Évora-Monte.
Nos reinados seguintes desapareceu esta simpática moedinha, embora continuassem
em circulação as anteriormente cunhadas.
Esta moeda de prata, pequenina, tem, para os
estudiosos da antropologia cultural, um encanto especial. É que a ela anda
ligada uma tradição de séculos e uma expressão linguística corrente ainda hoje,
embora com significado bem específico que todos conhecemos: aquela já não tem os três vinténs ou já lhe
tiraram os três vinténs. Mas, vamos à história:
Antigamente, as mães que podiam ofertavam às suas
filhas, às vezes logo no dia do nascimento, uma moedinha de prata, de três
vinténs, ou seja de 60 réis a que faziam um furinho por onde passava um fio que
permitia dependurá-la ao pescoço da menina. Funcionava como amuleto para
salvaguardar a pureza e a virgindade daquela jovem que durante toda a vida o
usava com orgulho.
Só com o casamento ela entregava a moedinha ao
marido, ou este, orgulhoso, lha tirava do pescoço para a guardar
religiosamente.
Podia então a sociedade afirmar com verdade que ela
já não tinha os três vinténs porque os deu ou o marido lhos tirou. Estava,
pois, casada, não era mais uma menina virgem.
A peça deste mês é uma dessas moedinhas, cunhada no
reinado de D. José I, e em data não assinalada na cunhagem: três vinténs de
prata.
A marca característica destas moedas, como se disse,
era o furinho por onde passava o fio que havia de as suspender. Todavia, a peça
que hoje vos trazemos tem dois furos, não alinhados, o que, muito
provavelmente, significa ter servido duas vezes: à mãe e à filha, à avó e à
neta...Talvez que uma importante superstição aconselhasse que o mesmo furo não
devesse servir duas vezes.
Bonito a nosso ver é o estudo da cultura tradicional
e popular dos portugueses; e esta peça e esta história e tudo o mais que gira à
sua volta, parecem-nos encantadores.”
ASSOPS-Associação de Passos de Silgueiros*
Rua Dr. José Assunção, 113.
SILGUEIROS *www.assops.pt * museudesilgueiros@gmail.com
Sem comentários:
Enviar um comentário