sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Os três vinténs

                                 O amuleto dos três vinténs






No meio do meu arquivo descobri esta interessantíssima informação que traduz a secular cultura popular dos portugueses. A autoria é da “Associação de Paços de Silgueiros”. Reproduzo-a, com a devida vénia, tal como está escrita:



“Pela primeira vez, em Portugal, no reinado de D. Pedro II, se cunhou a moeda de três vinténs, de prata. E foi sendo cunhada até ao fim do reinado de D. Miguel que terminou em 1834 pela convenção de Évora-Monte. Nos reinados seguintes desapareceu esta simpática moedinha, embora continuassem em circulação as anteriormente cunhadas.

Esta moeda de prata, pequenina, tem, para os estudiosos da antropologia cultural, um encanto especial. É que a ela anda ligada uma tradição de séculos e uma expressão linguística corrente ainda hoje, embora com significado bem específico que todos conhecemos: aquela já não tem os três vinténs ou já lhe tiraram os três vinténs. Mas, vamos à história:

Antigamente, as mães que podiam ofertavam às suas filhas, às vezes logo no dia do nascimento, uma moedinha de prata, de três vinténs, ou seja de 60 réis a que faziam um furinho por onde passava um fio que permitia dependurá-la ao pescoço da menina. Funcionava como amuleto para salvaguardar a pureza e a virgindade daquela jovem que durante toda a vida o usava com orgulho.

Só com o casamento ela entregava a moedinha ao marido, ou este, orgulhoso, lha tirava do pescoço para a guardar religiosamente.

Podia então a sociedade afirmar com verdade que ela já não tinha os três vinténs porque os deu ou o marido lhos tirou. Estava, pois, casada, não era mais uma menina virgem.

A peça deste mês é uma dessas moedinhas, cunhada no reinado de D. José I, e em data não assinalada na cunhagem: três vinténs de prata.

A marca característica destas moedas, como se disse, era o furinho por onde passava o fio que havia de as suspender. Todavia, a peça que hoje vos trazemos tem dois furos, não alinhados, o que, muito provavelmente, significa ter servido duas vezes: à mãe e à filha, à avó e à neta...Talvez que uma importante superstição aconselhasse que o mesmo furo não devesse servir duas vezes.

Bonito a nosso ver é o estudo da cultura tradicional e popular dos portugueses; e esta peça e esta história e tudo o mais que gira à sua volta, parecem-nos encantadores.”
ASSOPS-Associação de Passos de Silgueiros* Rua Dr. José Assunção, 113.

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