Marcelo sabia e, de acordo com a sua maneira de ser (o que pode ser
surpreendente para quem não o conhece), fez de conta que não negando o que lhe
não é conveniente.
António Costa também sabia, mas este é um espertalhão.
Sabiam os dois e hoje negam os dois.
Para um melhor entendimento, analise-se a cadeia de comunicação do
“problema” de Tancos, vergonha nacional que mancha as nossas Forças Armadas.
O director da polícia judiciária militar (coronel Luís Vieira) foi de
certeza informado sobre a realidade, nomeadamente sobre a simulação da
restituição das armas roubadas. A lealdade que lhe era devida
pelos princípios militares a isso obrigava. Só quem não foi militar ignora o
automatismo deste comportamento.
O presidente Marcelo ordenou ao coronel Luís Vieira, na sua
primeira visita a Tancos, que o mantivesse informado das investigações. Hoje
nega qualquer conversa, qualquer pedido/ordem. Hoje, nega tudo e afirma ter
sido o guardião da investigação da verdade.
O que é que poderá tornar inverosímil esta ordem? É totalmente legítima
vinda do comandante supremo das forças armadas.
Por outro lado, o então ministro da defesa Azeredo Lopes foi certamente posto
ao corrente da evolução da situação, dadas as suas funções e a pressão política
que sofria de todos os lados.
É totalmente impensável que não tivesse informado o primeiro ministro
António Costa.
Este, como João Ratão que é (ele é um espertalhote), deu
conhecimento da evolução das coisas (não vá o diabo – que anda por aí –
tecê-las) ao Sr. Presidente Marcelo (que, certamente, delas estava a par por outras vias).
O então chefe de gabinete do ministro (Major-General na altura) recebeu em
reunião o director da PJ militar (Coronel) e o responsável pelas investigações
(Major). Na altura, estes seus subordinados militares entregaram-lhe um
memorando (cuja existência ninguém, absolutamente ninguém, contesta excepto
Marcelo) sobre o “acordo” com a ladroagem.
Aquele Sr. Major-General confirmou, em âmbito parlamentar, aquela reunião e
a entrega de um memorando a ser entregue ao seu ministro. Um Chefe de Gabinete
tem funções e responsabilidades que ultrapassam em muito as de um alferes,
sobretudo quando se é Major-General.
A situação foi muito provavelmente reportada ao Sr. Presidente Marcelo, o
qual, no entanto, nega, novamente, o facto.
“Não sabia…Não toleraremos jogos de poder…A mim não me calam”? Ora, ora.
“O Sr. Presidente está com muita ansiedade!” (António Costa dixit).
Lama para a ventoinha! Muito elucidativo.
Com as carecas já claramente descobertas, Marcelo "apenas" não se cansa de lembrar
que sempre e repetidamente exigiu “em homenagem à transparência” todo o
apuramento dos factos e das responsabilidades. Responsabilidades? Não tem nenhumas. Apuramento dos factos? Claro que sim! Nada sabia? Ora, ora, pois,
pois.
Haverá alguém que acredite neste discurso de Marcelo?
Haverá alguém que acredite numa conspiração contra ele?
Haverá alguém que considere a investigação levada a efeito pela
RTP 1 uma fraude, uma confulabução contra o Sr. Presidente da República?
Acho claramente que não, mas infelizmente há quem ache que sim e são
jornalistas e comentadores televisivos com peso. Como é possível?
Pusilanimidade? Sim, pusilanimidade porque para aqueles lados há de tudo menos
ingenuidade.
Ah! se ele fosse Trump ou Bolsonaro talvez houvesse um coro de críticas e
de protestos. Assim, com ele, não…
“Et tu, Marcelo?!”
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