O adiamento
da construção do Novo Aeroporto de Lisboa (NAL) ressuscita a questão de o
manter associado a mais um.
A solução
"Portela+1" através da adaptação e consequente utilização da actual
base aérea do Montijo será uma errada decisão política que a técnica
dificilmente avaliza mas que a actual frágil situação económica nacional parece
justificar: não há dinheiro para uma solução sólida e de longo prazo.
Contrariamente
ao que se poderá pensar, o problema da Portela (com 75 anos de idade -1942),
dada a importância que tem, não foi descurado nos muitos estudos realizados até
à data.
Trata-se de
expandir, ou de manter ou não, um aeroporto no interior da cidade, actualmente
com um tráfego que se estima atingirá os 19 milhões de passageiros em 2017 e
“interdito” no período nocturno, de modo a permitir o descanso de milhares de
lisboetas (em 2010 menos de 5-6 movimentos por hora, das 22h às 6h da
madrugada).
Para um esclarecimento
do problema basta ler o estudo de 1982 da TAMS.
Este
consultor concluiu que uma expansão só deve constituir uma solução provisória e
não recomenda uma “Dual Airport Operation”, ou seja, um “Portela+1".
Poderá
argumentar-se que passados 35 anos as circunstâncias mudaram. É verdade, mas só
no número de passageiros anuais e no número de movimentos diários. Estes
números aumentaram muito para além das previsões.
Veja-se,
então, a que conclusão chegou quase 20 anos depois, em 1999, outro grande
consultor, os Aéroports de Paris (ADP), “para que não fosse descurada nenhuma
solução”.
Considerando
as experiências de outras cidades europeias e a correspondência demasiado
importante entre os tráfegos doméstico e internacional, a divisão do tráfego
entre dois aeroportos não é recomendada, devendo efectuar-se uma imediata a
transferência da Portela para o NAL.
No que
respeita à expansão, os ADP — sublinhando as expropriações necessárias, o
realojamento de milhares de pessoas, a segurança da cidade e os níveis de ruído
nos bairros do norte de Lisboa — consideram que a “SuperPortela” tem impactes
ambientais elevadíssimos e que a sua capacidade de expansão não é compatível
com a procura previsível: em 2020 a “SuperPortela” ficaria saturada.
De acordo
com aqueles estudos a hipótese da Portela sofre, pois, no cenário “mais-um” dos
males de um insuficiente tráfego global, de uma desajustada correspondência
entre os voos doméstico e internacional e de um mau binómio custo-benefício.
No cenário
de “ampliação”, não existe suficiente capacidade de expansão e os impactes
ambientais são incomportáveis, nomeadamente nos domínios da segurança da cidade
e do ruído nas freguesias limítrofes.
Naquele
mesmo ano de 1999, a NAER ponderou o diferimento do NAL através da expansão da
Portela. No seu relatório é feita uma análise detalhada de todos os factores
que caracterizam o problema e conclui-se que uma expansão da Portela não
constitui uma solução para o futuro.
Em Abril de
2004, a Parsons, numa estratégia de desenvolvimento da capacidade do aeroporto
da Portela, volta a analisar as alternativas possíveis e chega a idênticas
conclusões.
Como se
verifica, falta de estudos é que não houve (TAMS, ADP, ANA, Parsons) e todos
eles apontam, em 1982, 1999 e 2004 para a mesma conclusão: a necessidade de um novo aeroporto para Lisboa, não sendo a Portela solução, mesmo no médio prazo.
Hoje,
ignorando aqueles estudos ou encomendando a outros a conclusão que parece ser a
conveniente (para a valorização especulativa dos terrenos do Montijo,
certamente) é defendida a manutenção da Portela, continuando alguns a referir
os efeitos desfavoráveis de um novo aeroporto “fora” de Lisboa, nomeadamente os
prejuízos à sua economia e ao seu turismo.
Paris,
cidade turística por excelência, tem um a 15 km e outro a 25 km e os novos de
Atenas e de Oslo estão a 25 km e a 47 km, números, aliás, com pouco
significado, porque o factor a ter em conta é o tempo, é a qualidade das
acessibilidades.
Tudo indica não ser justificável uma reanálise da
Portela, quer na versão “mais-um”, quer na “ilusão” (como é qualificado pelos
ADP) de uma sua ampliação. Todos os consultores que analisaram a questão não
têm dúvidas quanto a estas questões e, feitos os estudos necessários, a
repetida insistência só poderá resultar de conveniência ou de afirmados
interesses regionais.
Estranhamente apareceu, como de uma varinha mágica,
uma outra empresa, a "Roland Berger", que após estudo, não público e
não acessível ao comum dos mortais, chega a conclusão diferente dos seus quatro
anteriores pares.
A conclusão estudada e repetida ao fim de 29 anos
de estudos (que custaram ao contribuinte uma fortuna e que, por terem sido
ignorados, conduziram a outra fortuna em obras de remodelação e ampliação da
Portela) é errada existindo, afinal, outra: a Portela associada a outro aeroporto.
Como é possível esta mudança de opinião? É possível,
tal como há dez anos outra conceituada empresa, a Parsons, jurava que um
aeroporto na "planície" da Ota era a melhor solução.
A política maneja a técnica, quando deveria ser a
técnica a orientar a decisão política.
Qual a solução, então? A que todos os consultores
recomendaram, com mais ou menos diferenças, ao longo de quase 30 anos: a
desactivação gradual e faseada do aeroporto da Portela e a construção, também
faseada, de um novo aeroporto que permita no longo prazo uma eventual
necessária expansão.
O "Mais-Um" no Montijo?
Do pouco conhecimento que se tem,
podem adiantar-se alguns pontos fracos:
- Implicação com áreas militares.
- Implicação severa com rotas de migração de aves e
proximidade da Reserva Natural do Estuário do Tejo das quais resultam riscos de
colisão com aves.
- Necessidade de drenagem profunda para protecção
dos pavimentos.
- Impossibilidade de aproveitamento das duas pistas
existentes, sendo apenas possível o aproveitamento de uma das duas, a principal
Este/Oeste (08/26).
- Demolição das construções da BA 6 para a
construção de uma 2ª pista.
- Inviabilidade de construção de uma 3ª pista dada
a proximidade da Pt. Vasco da Gama.
- Inviabilidade de acessibilidade por combóio.
Para além destes inconvenientes e admitindo a
bondade da solução "Montijo" (que o futuro revelará tratar-se de uma
solução provisória sem qualquer hipótese de correcção pela impossibilidade de uma
sua expansão) existe algum estudo que compare os seus custos com os de
uma construção faseada de um novo aeroporto para Lisboa (em Alcochete, por
exemplo)?
Se tudo
deve ser cabalmente esclarecido, para que uma decisão não suscite reservas por
falta de avaliação séria e honesta de cenários pertinentes, nada deve ser
repetido por economia de tempo e de dinheiros e a verdade demonstrada é que as
insuficiências da Portela não têm cura mesmo com
"mais 1".
"mais 1".
O aeroporto internacional de Lisboa
está aqui, mesmo no meio de uma zona altamente povoada e com importantes circulações rodoviárias à sua volta...
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