Vão ser
canonizados por Francisco que também o vai ser daqui a uns anitos. Assim,
a igreja católica terá Francisco de Assis, Francisco Xavier, Francisco de
Paula, Francisco Marta, outros e outros que ainda hão de surgir como os
necessários milagres justificativos. Como sublime e supremo milagre não deve
ser esquecido o do Sol, reservado a uma centena de populares da zona e ao papa
Pio XII.
Por decisão
governamental, haverá tolerância de ponto na ocasião.
A República
Portuguesa é laica mas, que diabo, como declarou o primeiro Costa, "Tenho um grande à-vontade sobre esta
matéria. Não só defendo a laicidade como não sou crente, mas respeito a crença
dos outros e não ignoro que muitos portugueses perfilham a fé católica e que
muitos portugueses desejarão estar em Fátima. Acho que seria uma grande
insensibilidade da parte do governo não o fazer, como temos feito noutras
ocasiões."
Tolerância de ponto?! Inaceitável.
Tolerância de ponto?! Inaceitável.
Defendo a
laicidade da república e não entendo como essa claríssima e constitucional
adjectivação obriga a qualquer tolerância de ponto. Esqueci-me de um
"pormenor": votos, são necessários votos e mais um apoio de um
presidente "beaticamente" católico o qual, no entanto, hoje já vê, na
acção do "nosso primeiro" o "roxo" (porque "irritantemente optimista") onde ontem só via o "côr-de-rosa" (porque ele acha que é "realisticamente optimista")… Novos tempo se
avizinham.
Acredito na
trindade Lúcia, Francisca e Jacinto? Acredito no aparecimento da senhora luminosa
com sapatinhos brancos, brincos nas orelhas (ambos artefactos constantes nas
crónicas da época e entretanto apagados nas imagens de hoje), rosário no regaço, pousada numa núvem
e falando um português perfeitíssimo?
Não acredito mas
respeito-o tanto como as sagradas vacas dos hindus, como o regime alimentar
sagrado dos islamitas, como a reincarnação juvenil dos tibetanos budistas, os
beijos e recados judaicos nas muralhas de Jerusalém, etecetera. Respeito convictamente as
crenças religiosas o que não me obriga a acreditar nelas.
No caso dos
"pastorinhos" estou muito bem acompanhado. Desde católicos, padres e
bispos todos rejeitaram os "factos" na altura dos
"milagres". Todos.
E há uma enorme
diferença entre os locais do charco em que bebiam as ovelhas e uma moderna
rotunda ou entre um campo com azinheira e uma basílica que nada tem de modesta
e que custou uma fortuna. Os locais são os mesmos só que uns miseráveis e ignorados ontem e os mesmos são, hoje, uma sodoma comercial e
conhecidos mundialmente. A mudança custou um dinheirão. Muitíssimo. Vindo de
dádivas de ricos, de esmolas de remediados, do apoio do Estado, de um comércio
despudorado que tem como artigos para venda, para além de todos os símbolos da
religião, "água santa" engarrafada e "ar santo". Há quem
compre.
Fátima? O que era
e o que é. As grandes fotos afixadas no "santuário" lembram-me a de
Mário Soares na sede do PS.
Tristezas,
desilusões e nada que restabeleça as crenças dos meus ingénuos e inocentes dez
anos. Nada, absolutamente nada.
Mário, Lúcia,
Jacinto e Francisca estão para mim no mesmo plano. Diferentes? Obviamente, com
certeza.
Que os fanáticos crentes católicos tentem perceber-me. Sei que não.
Que os fanáticos crentes católicos tentem perceber-me. Sei que não.