sexta-feira, 28 de abril de 2017

Os pastorinhos



Vão ser canonizados por Francisco que também o vai ser daqui a uns anitos. Assim, a igreja católica terá Francisco de Assis, Francisco Xavier, Francisco de Paula, Francisco Marta, outros e outros que ainda hão de surgir como os necessários milagres justificativos. Como sublime e supremo milagre não deve ser esquecido o do Sol, reservado a uma centena de populares da zona e ao papa Pio XII.
Por decisão governamental, haverá tolerância de ponto na ocasião.
A República Portuguesa é laica mas, que diabo, como declarou o primeiro Costa, "Tenho um grande à-vontade sobre esta matéria. Não só defendo a laicidade como não sou crente, mas respeito a crença dos outros e não ignoro que muitos portugueses perfilham a fé católica e que muitos portugueses desejarão estar em Fátima. Acho que seria uma grande insensibilidade da parte do governo não o fazer, como temos feito noutras ocasiões." 
Tolerância de ponto?! Inaceitável.
Defendo a laicidade da república e não entendo como essa claríssima e constitucional adjectivação obriga a qualquer tolerância de ponto. Esqueci-me de um "pormenor": votos, são necessários votos e mais um apoio de um presidente "beaticamente" católico o qual, no entanto, hoje já vê, na acção do "nosso primeiro" o "roxo" (porque "irritantemente optimista") onde ontem só  via o "côr-de-rosa" (porque ele acha que é "realisticamente optimista")… Novos tempo se avizinham.
Acredito na trindade Lúcia, Francisca e Jacinto? Acredito no aparecimento da senhora luminosa com sapatinhos brancos, brincos nas orelhas (ambos artefactos constantes nas crónicas da época e entretanto apagados nas imagens de hoje), rosário no regaço, pousada numa núvem e falando um português perfeitíssimo?
Não acredito mas respeito-o tanto como as sagradas vacas dos hindus, como o regime alimentar sagrado dos islamitas, como a reincarnação juvenil dos tibetanos budistas, os beijos e recados judaicos nas muralhas de Jerusalém, etecetera. Respeito convictamente as crenças religiosas o que não me obriga a acreditar nelas.
No caso dos "pastorinhos" estou muito bem acompanhado. Desde católicos, padres e bispos todos rejeitaram os "factos" na altura dos "milagres". Todos.
E há uma enorme diferença entre os locais do charco em que bebiam as ovelhas e uma moderna rotunda ou entre um campo com azinheira e uma basílica que nada tem de modesta e que custou uma fortuna. Os locais são os mesmos só que uns miseráveis e ignorados ontem e os mesmos são, hoje, uma sodoma comercial e conhecidos mundialmente. A mudança custou um dinheirão. Muitíssimo. Vindo de dádivas de ricos, de esmolas de remediados, do apoio do Estado, de um comércio despudorado que tem como artigos para venda, para além de todos os símbolos da religião, "água santa" engarrafada e "ar santo". Há quem compre.
Fátima? O que era e o que é. As grandes fotos afixadas no "santuário" lembram-me a de Mário Soares na sede do PS.
Tristezas, desilusões e nada que restabeleça as crenças dos meus ingénuos e inocentes dez anos. Nada, absolutamente nada.  
Mário, Lúcia, Jacinto e Francisca estão para mim no mesmo plano. Diferentes? Obviamente, com certeza.
Que os fanáticos crentes católicos tentem perceber-me. Sei que não.


terça-feira, 25 de abril de 2017

Donos de cães assassinos



Leça do Balio, Matosinhos, 10h00 da manhã.
Um grupo de pessoas, reunidas para um velório, alerta para a falta de trela e de açaime de um Rottweiller, cão considerado muito perigoso, que se passeava acompanhado pelo dono.
O "animal-dono" é advertido para o facto. Um assistente tenta tirar fotografias comprovativas do facto mas é agredido. Depois, a tragédia resultante da confusão. 
Uma menina de quatro anos é atacada duas vezes pelo cão, na cara, na cabeça, no ombro, na mão. Da segunda vez porque o pai se recusou a entregar o incriminatório telelemóvel ao dono. Três outras pessoas também, uma das quais a mãe da menina, mas com menor gravidade.
Como resultado, a menina fica desfigurada. É transportada para o Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos e transferida para o Hospital de São João, no Porto, por necessitar de ser submetida a uma cirurgia reconstrutiva à zona da cabeça e da cara.
A besta do "animal-dono", certamente revoltado por estarem a negar a liberdade que lhes assiste, a ele e ao cão, agride os presentes, abandona o local sem prestar assistência, deixa o cão em casa e troca de roupa (!). Açaime? Para quê, para abafar, incomodar o cãozinho que nunca fez mal a uma mosca e que foi sempre exemplo de doçura? Trela? Trela para quê, para atrapalhar a livre e fácil circulação de uma criatura de Deus? Ora, ora, prepotências a que a Lei obriga. Aliás, encontravam-se cumpridos requisitos legais necessários: seguro de responsabilidade civil e "chip".
No entanto, é dito que se trata de comportamento reincidente: a criatura já tinha sido detida no passado pela PSP e o cão recolhido a canil municipal. Tem 24 anos e uma versão diferente dos factos testemunhados. O que não tem de certeza é formação e educação para ser dono de um cão que faz parte do conjunto de cães muito perigosos e que são cerca de meia dúzia. Para além disso, fugiu sem prestar assistência, escondeu-se em casa, mascarou-se com outra roupa. Desconhece os deveres da cidadania e não reune as condições para ser dono de qualquer cão. Os tribunais que tenham mão pesada.
O "animal-dono" será amanhã presente a tribunal e incorre na prática de três crimes: ofensas à integridade física por negligência, ofensas à integridade física do pai da criança e omissão de auxílio.
Inicialmente, a PSP informou que a menina estava “praticamente desfigurada” e num “estado muito grave” e fonte hospitalar informou posteriormente que o estado é grave mas que não há perigo de vida.
De acordo com o ponto 1 do artigo 11 do Decreto-Lei n.º 312/2003, datado de 17 de Dezembro:
“o animal que cause ofensas graves à integridade física de uma pessoa, devidamente comprovadas através de relatório médico, é obrigatoriamente abatido, por método que não lhe cause dores e sofrimento desnecessários, após o cumprimento das disposições legais do Plano Nacional de Luta e Vigilância Epidemiológica da Raiva e Outras Zoonoses, não tendo o seu detentor direito a qualquer indemnização".
O PAN (partido das pessoas, dos animais e da natureza) ainda não se pronunciou. Se calhar porque na vertigem das comemorações de Abril escapou-lhe a minudência.
Mate-se o cão, puna-se a besta.

terça-feira, 11 de abril de 2017

Tabefes, faltam.


Esta semana a actualidade nacional ficou marcada pelos resultados das festividades de 800 a 1.000 finalistas do ensino secundário (17-18 anos) num hotel espanhol em Torremolinos.
“Os alunos foram expulsos do hotel por mau comportamento e incivilidades”.
Três versões estão em confronto: a do proprietário do hotel (os jovens terão quebrado azulejos, despejado extintores, atirado colchões pelas janelas e uma televisão para a banheira; prejuízos de 50.000 euros), a da agência que organizou a viagem (que considera tratar-se de um caso de xenofobia, tendo, no entanto, negociado bar aberto…), a dos jovens que afirmam a pés juntos que nada de especial ocorreu ("apenas" uns riscos nas paredes e nos elevadores, copos atirados para o chão, candeeiros partidos, "nada" que não fosse "normal"). Horríveis diabos versus meninos de coro.
A polícia espanhola, chamada ao local por outros hóspedes, tomou nota.
Depois, ouvi estarrecido os discursos compreensivos e justificativos de alguns pais e que a "prevenção" é que é importante. Entretanto, vi estupefacto os cerimoniais em que os jovens participavam alegremente: muito álcool (cerveja, vodka e "shots" bebidos de joelhos no chão e braços atrás das costas) e muita gritaria (talvez como na confraternização entre os comandos). 
Eles e elas reagindo de uma forma totalmente irresponsável, não sabendo distinguir entre a boa e a má educação, entre o inofensivo excesso, a imbecilidade e o vandalismo. 
Praxes académicas? Praxes militares? O que é pior? Todas imbecis
Mas o pior, o pior mesmo, o que desanima e revolta é o comportamento cúmplice de alguns agentes educativos, os pais à cabeça (muito preocupados com os 50.000 euros) e jornalistas/comentadores televisivos
Os paizinhos de hoje são os jovens de ontem. Será que os jovens teriam assim procedido se estivessem na companhia dos pais? Já nem sei. 
Tabefes, faltam.