terça-feira, 26 de maio de 2015

Não Tap a boca.



Os três macacos sábios tapam a boca, os olhos, os ouvidos. Não falam, não olham, não ouvem.
No caso do movimento “não TAP os olhos” a decisão foi a de não tapar a vista. No fundo, para olhar o quê?
Eventualmente, a postura eficaz deveria ter sido, talvez, a de falar e, também,  a de ouvir atentamente os relatos (mesmo que parciais) da outra parte e contestá-los taco-a-taco. A isto chama-se, julgo, oposição.



Quando o movimento “Não TAP os olhos” surgiu (http://www.naotaposolhos.com/), com várias personalidades de vários campos políticos convidando para a assinatura de uma petição à Assembleia da República, qual era, de facto, a verdadeira situação financeira da TAP e as limitações impostas pela CE para uma sua capitalização pelo Estado?
Fui ouvindo e relendo aqui e ali, desde o falhado processo de privatização levado a cabo há uns anos pelo partido socialista (mudam-se os tempos mudam-se as vontades, como quem muda de camisa), aos esclarecimentos de ambos os campos (pouco claros) até às declarações de uma porta-voz de um dos donos disto tudo (no caso a CE).
Se a situação financeira fosse sã (o que hoje em dia é demonstrado que não é), porque não, como forma de luta (cada vez gosto mais desta frase), não tapar a boca e berrar? Repito, julgo que o “não tape a boca” é que poderia ter trazido consequências.
Vejam-se os protestos das associações sindicais, mestres da contestação (professores mal educados e polícias desordeiros, por exemplo) e de movimentos cívicos como, por exemplo, o dos clientes lesados do BES. Será que alguma vez apelaram para “não se tapar os olhos”? Nunca.
A História demonstra que  para se levar “contra os ventos da História” um barco a bom porto a estratégia deve ser no mínimo dinâmicamente ruidosa e nunca de olhos abertos virados para baixo, virginalmente.
Mas o que conta é o previsível mau resultado: por meia dúzia de tostões o efremoqualquercoisavitch ou o bluezinho (ficámos a saber que são propostas equiparáveis e mais nada: o contribuinte pouco foi informado sobre a solução do problema porque, como sempre, a transparência não tem sido praticada por quem a proclama com a displicência do assobio - talvez porque tudo tem os seus limites, que diabo!).
Um daqueles dois ficará, portanto e como tudo leva a crer, com a TAP e, mais cedo ou mais tarde, porque qualquer deles é pindérico e sem qualquer história marcante na aviação civil, a TAP vai desaparecer. Qual “hub”, qual “rotas da emigração”, quais quê: a “companhia de bandeira” portuguesa vai desaparecer mais ano menos ano e não se assenem garantias “plasmadas” (outro vocábulo impressionantemente imbecil) nas especificações do Caderno de Encargos que,  na prática e no médio prazo, pouco valem no mundo em que vivemos.
[ Vide art.º 5 do Anexo do documento oficial:  http://www.portugal.gov.pt/media/2886237/20150119-me-caderno-encargos-tap.pdf 
Para uma abordagem mais terra-a-terra, ler, por exemplo, o artigo: http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=24&did=175547 ]

Num apelo à assinatura da referida petição um professor associado o Instituto Superior de Gestão, de seu nome Carlos Paz, escrevia num violento panfleto: http://portugalglorioso.blogspot.pt/2015/05/carlos-paz-arrasa-privatizacao-da-tap.html 
“O processo de privatização da TAP foi desenhado por pessoas sem escrúpulos, foi aprovado por políticos desonestos, está a ser conduzido por corruptos e, apesar da existência da capa de uma Comissão Independente (ciosa da ribalta mediática), será concluído da forma que melhor servir uma enorme rede de interesses instalados (...).”
E no final exclama: “Desculpem-me o desabafo, já chega de tanta porcaria! Já chega de tanta aldrabice! Já chega de tanta corrupção! Já chega de estarmos calados!”.
Apareceu um contestário à palavra de ordem: fez barulho.  Acho muito bem, mau grado a violência verbal que assoma em todas as linhas do escrito.
Mas os Taps ficaram caladinhos embora, obedientes ao lema e, portanto, inofensivamente de olhos bem abertos.
O resultado está à vista: com prazos de decisão inaceitáveis, porque muito curtos para além do razoável , num processo que se diz democrático (justificação muito na moda) o “governo de Portugal”  vai vender a TAP (2.000 milhões de exportações anuais, quase 3% das nossas exportações, 1% do PIB) por umas parcas dezenas de milhões de euros. 
Os exemplos proclamados das  luftansas, alitálias e swissaires não colhem. Será que Porugal, a sua economia e a sua situação geral é comparável com as de uma Alemanha, de uma Itália, de uma Suíça? Claro que não e aqueles exemplos, com ou sem esclarecimentos complementares, são demagogia. Falências há muitas e continuará a haver em todo o mundo mas cada caso é um caso.
O governo mostrará assim que é eficaz (no que é muito insistente), irresponsável e incompetente, como, por exemplo, na justiça, nos negócios estrangeiros (se é que estes existem) , nos “submarinos” (mui poderoso e caro instrumento de afirmação do nosso poder naval), na educação, na segurança social. Demonstrará, mais uma vez que é cumpridor das promessas constantes do seu programa eleitoral (descaramento é coisa que não falta).
Mas, facto indiscutível, a situação financeira da TAP é de rotura e no muito curto prazo terá que haver, com ou sem privatização, uma drástica reestruturação com despedimentos (actualmente a TAP assegura 20.000 postos de trabalho) e eliminação de rotas.
Sendo essa reestruturação uma inevitabilidade porquê a privatização? Ao menos que se ficasse recatadamente em casa. Haveria outra solução que não fosse uma apressada privatização (e a pressa como todos deveriam saber, principalmente os que governam, é péssima conselheira)? Entre uma privatização parcial, uma nacionalização, ou uma capitalização, alguma solução eficaz e sensata, incluindo uma dolorosa reestruração, deveria ser possível definir por um governo corajoso, competente e sensato.
O partido socialista (que tem andado ao sabor do vento, ziguezagueando em tudo,  entre o apelo à esquerda e a tentativa de conquista do centro do eleitorado) deveria, pelo passado nesta questão, estar caladinho e, sobretudo, limpar as mãos à parede em vez de “baritonar” como os outros.
Insisto: este pobre país está entregue a bichos que do interesse público pensam “pois sim, desde que a mim caiba algum”, como nos submarinos e nos tachos na U.E.  ou nas empresas públicas. Não? Devem andar de olhos tapados.


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