quarta-feira, 6 de maio de 2015

Golias, os Gigantes e a fotografia



             
                                                     (Litografia de Osmar Schindler)


Há uns tempos, em conversa com um amigo meu, tomei conhecimento de uma descoberta  espantosa em escavações  arqueológicas realizadas no extremo Norte da Grécia.  Nem mais nem menos do que os esqueletos das míticas figuras dos Gigantes.
Incrédulo e não permitindo que a minha natural ingenuidade deixasse de actuar (uma tal notícia deveria ter ocupado as primeiras páginas da imprensa nacional e internacional, com excepção, é claro, dos jornais desportivos), pedi-lhe que me enviasse tais fotografias.  Recebi, então, um mail intitulado “A Bíblia tem razão!” (ponto de exclamação incluído) que não só continha as fotografias (cujo visionamento ultrapassou em tudo todas as minhas expectativas) mas também as referências da Bíblia relacionadas com aquele mito (Génesis 6.4; Deuterónimo 2.10-11 e 3.11; Números 13.33; Samuel 17.4).
Consultei estes capítulos do livro sagrado e verifiquei que os escritos enviados correspondiam à verdade. Apressei-me, então, a divulgar a extraordinária “boa nova” aos meus correspondentes.
Hoje, numa leitura sobre a luta do gigante Golias com David, voltei a encontrar aquelas referências e, ao aprofundar o assunto, descobri que não foi só Estaline que mandou falsificar as fotografias em que figurasse a figura de Trotsky (apagando-o) mas, também,  que hoje em dia o “software” da fotografia digital permite “milagres” de manipulação, o que, aliás conheço e pratico mas à escala de amador.
Golias (1.200 a.C. – 1.000 a.C.),  natural da cidade filisteia de Gate (arrasada por Nabucodonosor depois da destruição de Jerusalém – 587 a.C.), tinha outros irmãos gigantes como ele, nomeadamente Lami (Livro I de Samuel, Crónicas 20.5).
Golias media seis côvados e um palmo de altura (2,97m) e na sua luta com David vestia uma cota de malha que pesava 57 quilos, uma lança com uma ponta de ferro de 6 quilos e uma espada que não deveria ter um peso acima das do tipo convencional  (estranho) uma vez que David a utilizou posteriormente nas suas batalhas. Uma descrição da breve luta pode ler-se no Livro I de Samuel (17-4).
Ao ler a descrição da muito breve luta, surgiu-me uma dúvida: como é que, genericamente, um objecto que bate na frente de um obstáculo o faz tombar para a frente? Como é que a pedra atirada por David e que atinge a testa de Golias com uma força estimada em mais de 3.000 Newtons o faz tombar para a frente? Deveria, segundo as leis da dinámica, fazê-lo recuar ou quanto muito tombar para trás. É outro “mistério” e há quem o resolva dizendo que a pedra não atingiu a testa do gigante mas antes se tenha alojado numa das caneleiras metálicas da armadura impedindo Golias de dobrar a perna para andar e, em resultado,  caír. Não é mal imaginado. Mas, seja como for, David  matou Golias e cortou-lhe a cabeça (aparentemente hábito daquela região).
Naquele tempo, existiam homens de estatura gigantesca (note-se que Saul era um homem alto -  tinha uma altura de mais de 1,80m - e que ao ver Golias ficou apavorado, ele e todo o exército hebreu). 
“Naquele tempo, havia gigantes na terra, e também depois, quando os filhos de Deus se uniram às filhas dos homens e delas tiveram filhos” (Génesis 6.4), “Até vimos ali gigantes, filhos de Anac, descendentesdos gigantes.
Comparados com eles parecíamos gafanhotos” (Números 13-33). A “Bíblia tem razão”, alguma ou muita, sem dúvida, mas as imagens dos esqueletos de gigante que me enviaram e que abaixo reproduzo são falsas e resultado de manipulação de fotografia digital:
Vide: https://answersingenesis.org/creationism/arguments-to-avoid/were-giant-skeletons-found-in-the-desert/




            
                                           

(**)Os Filisteus conviveram durante séculos com os povos semitas. Faziam parte dos “povos do mar” que invadiram o Egipto. Expulsos de lá pelo faraó Ramsés III, deslocaram-se para Oriente para a região de Israel onde fundaram as cidades de Asdobe, Ascalão, Ecrom, Gaza e Gate (a denominada Pentapolis Filisteia). Quando Ciro o Grande conquistou o império da Babilónia, os filisteus abandonaram as suas cidades (posteriormente ocupadas pelos Fenícios) e desapareceram da História como povo.



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