A sepultura do homem muda com os tempos. Hoje, na Europa,
qualquer cidadão tem a sua morte registada e a sua sepultura localizada.
Antigamente, os registos de um cidadão comum eram pouco ou nada detalhados (ou
não existiam mesmo) e a sua sepultura não tinha as características das de um
aristocrata do tempo com campa devidamente
identificada.
O cidadão comum era enterrado, segundo os costumes da época, numa vala comum num terreno junto à sua igreja e, tempos mais tarde, num cemitério construído para o efeito mas sem campa individual. A distinção social mesmo depois da morte perdurava.
Mas, para além deste facto, houve e há outros que podem impedir a localização de restos mortais. Desastres naturais destroem as construções e as sepulturas que eventualmente contêm. Guerras e revoluções também. Foi , por exemplo, o caso da revolução francesa durante a qual a fúria revolucionária violou e despejou os túmulos dos reis de França que se encontravam na catedral de S. Denis. Os túmulos continuam lá mas o que contêm não são, segundo me garantiram, as ossadas dos seus titulares.
Em Portugal a estas causas associa-se, pontualmente é certo, o mistério ou o mito. É o caso, respectivamente dos reis D. Sancho II de Portugal e D. Sebastião. Em Inglaterra, só em 2012 foram descobertas e identificadas as ossadas do rei Ricardo III.
Nesta época de impulso para a transladação de figuras mais ou menos relevantes na nossa vida contemporânea, achei interessante abordar quatro exemplos de túmulos de figuras notórias (como é o caso daqueles reis) ou geniais como as de Camões e de Mozart.
O cidadão comum era enterrado, segundo os costumes da época, numa vala comum num terreno junto à sua igreja e, tempos mais tarde, num cemitério construído para o efeito mas sem campa individual. A distinção social mesmo depois da morte perdurava.
Mas, para além deste facto, houve e há outros que podem impedir a localização de restos mortais. Desastres naturais destroem as construções e as sepulturas que eventualmente contêm. Guerras e revoluções também. Foi , por exemplo, o caso da revolução francesa durante a qual a fúria revolucionária violou e despejou os túmulos dos reis de França que se encontravam na catedral de S. Denis. Os túmulos continuam lá mas o que contêm não são, segundo me garantiram, as ossadas dos seus titulares.
Em Portugal a estas causas associa-se, pontualmente é certo, o mistério ou o mito. É o caso, respectivamente dos reis D. Sancho II de Portugal e D. Sebastião. Em Inglaterra, só em 2012 foram descobertas e identificadas as ossadas do rei Ricardo III.
Nesta época de impulso para a transladação de figuras mais ou menos relevantes na nossa vida contemporânea, achei interessante abordar quatro exemplos de túmulos de figuras notórias (como é o caso daqueles reis) ou geniais como as de Camões e de Mozart.
Rei D. Sancho II de
Portugal (1209-1248).
- Na Crónica de Frei António Brandão pode ler-se: “El-rei, vendo a resolução do Infante e que lhe era forçado, ou ficar em Portugal abatido, ou viver em Castela necessitado, escolheu este segundo (...)” (Cap. XXIX), “Escolho a minha sepultura no mosteiro de Alcobaça (...). Foi feito em Toledo nas casas do Arcebispo de Toledo no terceiro dia de Janeiro da era de 1286 (...)“ (Testamento, Cap. XXXIX).
- Na Crónica de Frei António Brandão pode ler-se: “El-rei, vendo a resolução do Infante e que lhe era forçado, ou ficar em Portugal abatido, ou viver em Castela necessitado, escolheu este segundo (...)” (Cap. XXIX), “Escolho a minha sepultura no mosteiro de Alcobaça (...). Foi feito em Toledo nas casas do Arcebispo de Toledo no terceiro dia de Janeiro da era de 1286 (...)“ (Testamento, Cap. XXXIX).
Alexandre Herculano afirma na sua História de Portugal que:
«Partindo Sancho II para Castela, deixara por alcaide de Coimbra um certo Martim de Freitas. Pôs o conde de Bolonha [futuro D. Afonso III] estreito assédio ao castelo. Nem as promessas nem os combates, puderam reduzir os cercados ... até que chegou a nova da morte de Sancho, em Toledo. Então o leal alcaide ... dirigindo-se à antiga capital da Espanha, fez abrir o túmulo do rei para com os seus próprios olhos saber se, na verdade, morrera.»
Vide “O portal da História” (http://www.arqnet.pt/portal/imagemsemanal/julho03.html).
Em 1947 o Dr. Oliveira Salazar enviou a Toledo uma comissão para averiguar onde estavam os restos mortais do Rei D. Sancho II que se supunha estarem na “Capela dos Reis Velhos” da Catedral de Toledo. Não se encontraram os restos mortais do Rei de Portugal. (http://es.wikipedia.org/wiki/Capilla_de_los_Reyes_Viejos).(http://pt.wikipedia.org/wiki/Sancho_II_de_Portugal)
«Partindo Sancho II para Castela, deixara por alcaide de Coimbra um certo Martim de Freitas. Pôs o conde de Bolonha [futuro D. Afonso III] estreito assédio ao castelo. Nem as promessas nem os combates, puderam reduzir os cercados ... até que chegou a nova da morte de Sancho, em Toledo. Então o leal alcaide ... dirigindo-se à antiga capital da Espanha, fez abrir o túmulo do rei para com os seus próprios olhos saber se, na verdade, morrera.»
Vide “O portal da História” (http://www.arqnet.pt/portal/imagemsemanal/julho03.html).
Em 1947 o Dr. Oliveira Salazar enviou a Toledo uma comissão para averiguar onde estavam os restos mortais do Rei D. Sancho II que se supunha estarem na “Capela dos Reis Velhos” da Catedral de Toledo. Não se encontraram os restos mortais do Rei de Portugal. (http://es.wikipedia.org/wiki/Capilla_de_los_Reyes_Viejos).(http://pt.wikipedia.org/wiki/Sancho_II_de_Portugal)
D. Sancho II não está sepultado nem no Mosteiro de Alcobaça nem na Catedral de Toledo. Onde
estará? Não se sabe.
Rei Ricardo III de
Inglaterra (1452-1485).
- Rei católico derrotado e morto na batalha de Bosworth Field com Henrique Tudor, o seu corpo foi transportado e enterrado em Leicester. Durante a Reforma, o seu túmulo foi destruído e os seus restos mortais estiveram perdidos durante mais de cinco séculos. Em 2012, escavações arqueológicas efectuadas no local descobriram ossadas que a Universidade de Leicester identificou, para além de qualquer dúvida, como sendo as de Ricardo III. A identificação foi efectuada com base em testes de radiocarbono e em análises de ADN comparativas com dois dos seus descendentes. Em Março deste ano os seus restos mortais foram transladados para a Catedral de Leicester. (http://en.wikipedia.org/wiki/Richard_III_of_England)
- Rei católico derrotado e morto na batalha de Bosworth Field com Henrique Tudor, o seu corpo foi transportado e enterrado em Leicester. Durante a Reforma, o seu túmulo foi destruído e os seus restos mortais estiveram perdidos durante mais de cinco séculos. Em 2012, escavações arqueológicas efectuadas no local descobriram ossadas que a Universidade de Leicester identificou, para além de qualquer dúvida, como sendo as de Ricardo III. A identificação foi efectuada com base em testes de radiocarbono e em análises de ADN comparativas com dois dos seus descendentes. Em Março deste ano os seus restos mortais foram transladados para a Catedral de Leicester. (http://en.wikipedia.org/wiki/Richard_III_of_England)
- Camões morreu de peste tendo sido sepultado numa vala
comum da Igreja do Convento de Santana
em Lisboa.
O convento, no Campo de Santana, ficou parcialmente destruído pelo terramoto de 1755, foi posteriormente objecto de obras de reconstrução e finalmente demolido em 1892. No seu lugar ergue-se hoje em dia o Instituto Bacteriológico Câmara Pestana.
Em 1880, ano do tricentenário da sua morte, procedeu-se a uma transladação de restos mortais para o Mosteiro dos Jerónimos. No relatório da comissão constituída para proceder aos trabalhos pode ler-se:
“A uma certa altura (viram-se) ossos em forma que se lhe não tinha mexido. Alguns destes eram pois sem dúvida os de Luiz de Camões, mas quais se nem era possível distinguir a sepultura? (...)”.
Nestas condições é impossível qualquer certeza sobre a pertença das ossadas que se encontram no túmulo do Mosteiro dos Jerónimos (in “Equívocos, Enganos e Falsificações da História de Portugal” de Sérgio Luís de Carvalho).
O convento, no Campo de Santana, ficou parcialmente destruído pelo terramoto de 1755, foi posteriormente objecto de obras de reconstrução e finalmente demolido em 1892. No seu lugar ergue-se hoje em dia o Instituto Bacteriológico Câmara Pestana.
Em 1880, ano do tricentenário da sua morte, procedeu-se a uma transladação de restos mortais para o Mosteiro dos Jerónimos. No relatório da comissão constituída para proceder aos trabalhos pode ler-se:
“A uma certa altura (viram-se) ossos em forma que se lhe não tinha mexido. Alguns destes eram pois sem dúvida os de Luiz de Camões, mas quais se nem era possível distinguir a sepultura? (...)”.
Nestas condições é impossível qualquer certeza sobre a pertença das ossadas que se encontram no túmulo do Mosteiro dos Jerónimos (in “Equívocos, Enganos e Falsificações da História de Portugal” de Sérgio Luís de Carvalho).
Rei D. Sebastião de
Portugal (1554-1578).
- Consta em acta e em cartas do embaixador de Filipe II e do cardeal-rei D. Henrique que o corpo do rei foi entregue em Ceuta a 10 de Dezembro de 1578 e deposto na capela de S. Tiago da igreja do Mosteiro da Santíssima Trindade e, posteriormente, na capela-mor da Sé de Ceuta.
“Quatro anos depois, em Agosto de 1582, procedeu-se à exumação do corpo para a sua transladação para Portugal. É primeiro levado a Faro e daí conduzido com muita pompa até Lisboa. No caminho passou por Tavira, Beja e chegou a Évora a 9 de Dezembro. O cortejo seguiu depois para Lisboa onde era esperado por Filipe II e definitivamente depositado na capela lateral do Mosteiro dos Jerónimos onde jaz num túmulo de mármore que repousa sobre dois elefantes.” (“D. Sebastião de Portugal” de António Villacorta Banos-Garcia).
Mau grado estes factos confirmados por testemunhos escritos e passados mais de quatrocentos anos perdura a crença que o corpo do rei não foi encontrado e que no túmulo dos Jerónimos o que lá está não é o do rei.
A tecnologia actual permitiria esclarecer o assunto por análises de ADN do corpo do rei e dos seus antepassados, nomeadamente D. Manuel , D. João III e o Cardeal-Rei D. Henrique que se encontram sepultados junto dele.
- Consta em acta e em cartas do embaixador de Filipe II e do cardeal-rei D. Henrique que o corpo do rei foi entregue em Ceuta a 10 de Dezembro de 1578 e deposto na capela de S. Tiago da igreja do Mosteiro da Santíssima Trindade e, posteriormente, na capela-mor da Sé de Ceuta.
“Quatro anos depois, em Agosto de 1582, procedeu-se à exumação do corpo para a sua transladação para Portugal. É primeiro levado a Faro e daí conduzido com muita pompa até Lisboa. No caminho passou por Tavira, Beja e chegou a Évora a 9 de Dezembro. O cortejo seguiu depois para Lisboa onde era esperado por Filipe II e definitivamente depositado na capela lateral do Mosteiro dos Jerónimos onde jaz num túmulo de mármore que repousa sobre dois elefantes.” (“D. Sebastião de Portugal” de António Villacorta Banos-Garcia).
Mau grado estes factos confirmados por testemunhos escritos e passados mais de quatrocentos anos perdura a crença que o corpo do rei não foi encontrado e que no túmulo dos Jerónimos o que lá está não é o do rei.
A tecnologia actual permitiria esclarecer o assunto por análises de ADN do corpo do rei e dos seus antepassados, nomeadamente D. Manuel , D. João III e o Cardeal-Rei D. Henrique que se encontram sepultados junto dele.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791).
- Nasceu em Salzburg, então capital do Arcebispado de
Salzburg parte do Sagrado Império Romano e hoje cidade da Austria. Viena foi a
cidade onde fixou residência mas grandes dificuldades financeiras obrigaram-no
a viajar para cidades alemãs em particular Leipzig, Dresden, Frankfurt, Berlim.
A 6 de Setembro de 1791 adoeceu gravemente em Praga onde faleceu a 5 de Dezembro. Tinha 35 anos.
A 6 de Setembro de 1791 adoeceu gravemente em Praga onde faleceu a 5 de Dezembro. Tinha 35 anos.
Foi enterrado no cemitério de S. Marx, nos arredores de
Viena, em vala comum de acordo com os costumes da época. Estas sepulturas eram
objecto de escavação ao fim de dez anos. Deste modo, até hoje não se sabe o
local exacto onde o seu corpo foi enterrado. No entanto, o seu túmulo existe
mas com restos mortais que não são, certamente, os de Mozart.
(tumulosfamosos.blogspot.pt) |
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