quarta-feira, 15 de abril de 2015

A Besta



“E foi-lhe permitido fazer guerra aos santos e vencê-los; e deu-se-lhe poder sobre toda a tribo, e língua, e nação” (Apocalipse 13.7).
Mosul, Nimrud e Hatra foram os locais do Iraque, com valiosíssimo património histórico, escolhidos pelo Exército Islâmico (“EI”) para outro tipo de decapitações filmadas.
Aquela cambada de bestas sanguinárias destruíu, nos passados meses de Fevereiro e Março, à bomba  e à marretada um espólio cultural e arqueológico de valor histórico incalculável.
O Iraque deixou de ter interesse económico para as potências ocidentais as quais, por isso, não mobilizaram em devido tempo meios militares que impedissem o crescimento e a dispersão deste novo terrorismo. Hoje em dia, o “Exercito Islâmico” controla um enorme território descontínuo, desde a Síria à Líbia, com vassalos no centro de África -  como é o caso do Boko Haram que se movimenta na Nigéria, no Tchad, no Niger, nos Camarões, matando e raptando civis, queimando aldeias inteiras – e com “células” já instaladas em alguns países ocidentais. Em Espanha, por exemplo.
Hoje o “EI” ultrapassou a pura acção militar e governa os territórios que controla, com o apoio de grande parte da população. Uma acção militar nestas circunstâncias levanta problemas que ultrapassam a luta antiterrorista e a mera  antiguerrilha. A passividade das Nações Unidas é escandalosa. Tudo isto não mereceu uma única palavra do Governo, do Parlamento, da Presidência de Portugal, todos embrenhados em importantíssimas questões domésticas. Por outro lado, os G7 reunidos esta semana  na Alemanha pronunciaram-se sobre a questão o que é de assinalar e de aplaudir mas quais as suas consequências práticas?


Mosul: a 400 km a norte de Bagdad, localiza-se na margem direita do rio Tigre oposta à antiga cidade de Nineve. O profeta Jonas tem lá o seu túmulo. Em 2008 a sua população era estimada em 1.800.000 almas. Ocupada pelo “EI” em 2014 só os arábes sunitas lá permaneceram, 500.000 habitantes fugiram. Em Fevereiro de 2015 as bestas sanguinárias destruiram à marretada as estátuas do museu da cidade e o sítio arqueológico de Nergal. 
A selvajaria foi justificada em termos religiosos. Perdeu-se, assim, uma herança cultural da Assíria. No entanto, os curadores do museu de Mosul vieram afirmar que o destruído não passava de cópias de gesso e que os originais se mantêm  preservados e a salvo (?). Seja como for, a UNESCO pediu uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU para análise da situação e definição das medidas a tomar. Para quê? Para sossego das consciências. Estamos em Abril e nada. 


Nimrud: a 30 km a sul de Mosul, data do 13º século a.C. e era a maior cidade da Assíria entre 210 e 610 a.C. O seu nome vem de Nimrod  bisneto de Noé. Aqui  as armas da destruição utilizadas em Março de 2015 foram mais potentes: explosivos e “buldozers”. Diz uma das bestas sanguinárias: “Destruímos os símbolos do politeísmo (...) destruiremos as campas e os templos dos Xiitas, esmagaremos as cruzes cristãs e e demoliremos a Casa Negra (Casa Branca), morada dos infiéis. 
Hatra: a 290 km a noroeste de Bagdade foi construída pelo império Seleucida no 3º século a.C. e foi capital do 1º reino árabe que se estendia até Petra passando por Palmira. Famosa pelo seu grande templo com 30 m de altura, era uma importante fronteira  fortificada que resistiu aos ataques de Roma (Trajano, Septimo Severo) e que derrotou os persas mas,  em 241, a.C. caíu finalmente sob o seu domínio e foi destruída. Tinha uma dupla muralha com 2 km de diâmetro e com 160 torres. No passado mês de Março de 2015 as bestas sanguinárias destruiram as suas ruínas. 
“Quem é semelhante à besta? Quem poderá batalhar contra ela?”.
 (Apocalipse 13.4)

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