quarta-feira, 3 de junho de 2015

Conta e Tempo



Recebi esta semana de um dos meus correspondentes o soneto do século XVII que abaixo transcrevo.
Não era novidade para mim: o meu pai deu-me uma litografia com o texto quando passei no exame da 4ª classe. E, quando saí de casa dos meus pais, aquela gravura acompanhou-me. Continua hoje no meu escritório, encostada aos livros de uma das estantes altas da minha biblioteca. Uma preciosidade a que só o Inverno da vida dá valor. “l´insouciance de la jeunesse oublie”...Como autoria consta a de Frei Castelo Branco.


Deus pede estrita conta de meu tempo.  

E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.

Mas, como dar, sem tempo, tanta conta,

Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?



Para dar minha conta feita a tempo,

O tempo me foi dado, e não fiz conta.

Não quis, sobrando tempo, fazer conta.

Hoje, quero fazer conta, e não há tempo.



Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,

Não gasteis vosso tempo em passatempo.

Cuidai, enquanto é tempo, em fazer conta!  



Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,

Quando o tempo chegar, de prestar conta

Chorarão, como eu, o não ter tempo.


       Frei Castelo Branco ou António Fonseca Soares ? (século XVII )


               

 



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