domingo, 16 de novembro de 2014

O "Estado" islâmico e o fanatismo.



“O silêncio dos chinelos é mais perigoso do que o barulho das botas”
“O mundo é perigoso não tanto por causa dos que fazem o mal, mas por causa dos que olham e deixam fazer”.  
Ouvi, agora, num noticiário da televisão, que o "Estado Islâmico" (Estado?) anunciou a decapitação de um funcionário de uma ONG de nacionalidade norte-americana de nome Peter Kassig (ouvi, também, em noticiário radiofónico que a declaração foi acompanhada de vídeo comprovativo no qual figurava, junto ao executor, uma cabeça...) assim como de mais 15 homens que se identificaram como soldados sírios.
Na minha opinião, a reacção da comunidade internacional a estes assassinatos tem sido timorata, tímida e inconsequente. Porque será? Provavelmente porque não há interesses políticos, económicos ou outros em jogo, como foi o caso do Iraque e é o caso do Afganistão. 
É cómodo culpar a Turquia, a qual tem cautelosas reservas, dado o seu problema curdo, sobre uma sua intervenção isolada. 
Não basta lançar de aviões mantimentos e armas aos heróicos resistentes no norte da Síria junto à fronteira com a Turquia. Justifica-se, muito mais, uma intervenção militar terrestre de uma ampla coligação ocidental. Só que não há interesses em jogo que obriguem a tal intervenção...É a miserável "ética" dos nossos tempos. Aliás, julgo pertinente a interrogação: quem está por detrás do "Islamic State of Iraq and the Levant (ISIL /ˈsəl/), also translated as the Islamic State of Iraq and Syria (ISIS /ˈsɪs/; ad-Dawlah al-Islāmīyah fīl-ʻIraq wa ash-Shām), also known by the Arabic acronym Daʿish and self-proclaimed as the Islamic State (IS)"?
http://en.wikipedia.org/wiki/Islamic_State_of_Iraq_and_the_Levant 
Ali há um ensurdecedor e sanguilonento "barulho de botas" e a Ocidente há, apenas, um vergonhoso "silêncio de chinelos" (a excepção confirma a regra) e um "olhar e deixar fazer". Porquê? Porque não há "interesses".

“Um homem cuja família pertencia à aristocracia alemã, antes da 2ª Guerra Mundial, possuía um certo número de grandes fábricas e de propriedades. Quando lhe perguntavam quantos alemaes eram verdadeiros nazis, respondia de um modo que nos pode guiar no que respeita o fanatismo. 
“Poucos são os verdadeiros nazis”, dizia ele “mas são numerosos os que se alegram com o regresso do orgulho alemão e ainda mais os que estão demasiadamente ocupados para a isso prestar atenção. Eu era um dos que simplesmente pensava que os nazis eram um bando de marados. Também a maioria contentou-se a olhar e a deixar passar. De repente, antes que nos pudessemos dar conta, eles possuíram-nos, perdemos toda a liberdade de manobra e tinha chegado o fim do mundo. A minha família perdeu tudo, acabei num campo de concentração e os aliados destruíram as minhas fábricas.”
A Russia era constituída de russos que apenas desejavam viver em paz, mau grado os comunistas russos tenham sido responsáveis pelo assassínio de cerda de vinte milhões de pessoas. A pacífica maioria era a isso alheia.
A imensa população chinesa era, ela também, pacífica mas os comunistas chineses conseguiram matar um número superior a sessenta milhões de pessoas.
O japonês médio, antes da 2ª Guerra Mundial, não era um sádico belicista. No entanto, o Japão, deixou um rasto de assínios e de carnificinas ao longo do seu caminho pelo sudeste da Ásia numa orgia de matanças incluindo o sistemático abate de doze milhões de chinese civis, a maioris mortos à espada, à pá ou à baioneta.
E quem pode esquecer a queda do Ruanda no meio de uma carnificina. Não se poderia afirmar que a maioria dos ruandeses era a favor da “Paz e do Amor”?
As lições da História são frequentemente inacreditavelmente simples e brutais e, no entanto, mau grado todas as nossas faculdades de raciocínio, passamos muitas vezes ao lado das coisas mais simples e menos complicadas: os muçulmanos pacíficos tornaram-se pelo seu silêncio inconsequentes.
Hoje os “peritos” e as “mentes bem pensantes” não se cansam de nos repetir que o Islão é a religião da paz e que a enorme maioria dos muçulmanos só deseja viver em paz. Se bem que esta gratuita afirmação possa ser verdadeira ela é totalmente infundada. É um engano desprovido de sentido destinado a reconfortar-nos e, em certa medida, a atenuar o espectro do fanatismo que invade o mundo em nome do Islão. 
O facto é que actualmente são fanáticos os que governam o Islão. São fanáticos exibicionistas. São fanáticos que financiam os numerosos conflitos armados que assolam o mundo. São fanáticos que sistematicamente assassinam cristãos ou grupos tribais em toda a África e que lentamente se apoderam de todo o continente, através de uma onda islâmica.
São fanáticos que colocam bombas, decapitam, massacram ou cometem os crimes de “honra”. São fanáticos que controlam mesquitas, uma a seguir a outra. São fanáticos que pregam zelosamente a lapidação e o enforcamento das vítimas da violação e os homosexuais. A brutal e quantificavel realidade é que a maioria pacifica, a maioria silenciosa nada faz e esconde-se. Se não reagirem, os muçulmanos pacíficos tornar-se-ão nossos inimigos porque, tal como o meu amigo alemão, acordarão um dia para constatar que são a presa dos fanáticos e que o fim do seu mundo terá começado. 
Os alemães, os japoneses, os chineses, os russos, os ruandeses, os albaneses, os afegãos, os iraquianos, os palestinianos, os nigerianos, os argelinos, todos amantes da paz, e muitos outros povos, morreram porque a maioria pacífica não reagiu antes que fosse demasiadamente tarde.
Quanto a nós, que contemplamos tudo isto, só devemos observar o único grupo importante para a nossa vida: os fanáticos.
“Quando vieram buscar os comunistas, não protestei porque não era comunista. Quando vieram buscar os judeus, não protestei porque não era judeu. Quando vieram buscar os sindicalistas, não protestei porque não era sindicalista. Quando vieram buscar os católicos, não protestei porque não era católico. E quando me vieram buscar, não havia ninguém para protestar.”
O autor deste texto, Martin Niemoller (1892-1984), foi um pastor protestante, preso em 1937 e enviado para o campo de concentração de Sachsenhausen. Foi depois transferido em 1941 para o campo de Dachau. Libertado com a queda do regime nazi em 1945.
“Na primeira noite eles aproximam-se
E colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.

Na segunda noite já não se escondem,
Pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.

Até que um dia, o mais frágil deles,
entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua
e, conhecendo o nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada,
Já não podemos dizer nada.”
Maiakovski, poeta russo, “suicidado” após a revolução de Lenin.
  

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