segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Números- garrafas de vinho e linhas férreas



                     Os 75 cl de uma garrafa de vinho
Por que é que as garrafas de vinho têm uma capacidade de 75 centilitros?
“As garrafas de vinho são, em geral, de 75 cl e não de um litro.

De onde vem esta excepção?
A capacidade de uma garrafa de vinho foi normalisada no século XIX e surgiram então as mais loucas explicações para este facto e que correspondiam a:
- A capacidade pulmonar de um vidreiro;
- O consumo médio numa refeição;
- A melhor capacidade para conservar o vinho;
- Uma facilidade de transporte.
Nada disto.
Trata-se simplesmente de uma organização prática e com uma base histórica.
Naquela época os principais clientes dos vitinivicultores franceses eram os ingleses. Mas estes nunca adoptaram o mesmo sistema de medidas dos franceses.
A unidade de volume dos ingleses era o “galão imperial” que equivalia precisamente a 4,54609 litros.
Para simplificar contas na conversão, transportavam o vinho de Bordéus em pipas de 225 litros, ou seja, aproximadamente 50 galões. Ora 225 litros correspondiam a 300 garrafas de 75 centilitros. Acontece que 300 é um número mais cómodo para os cálculos do que 225...
Tinha-se, portanto, uma pipa, 50 galões, 300 garrafas.
Deste modo um galão correspondia a 6 garrafas.
Aliás, é por isso que ainda hoje as caixas de vinho têm em geral 6 ou 12 garrafas”. 
(texto de autor francês não identificado).
   
                                                          A bitola ferroviária

Há tempos recebi de amigo meu um “mail” sobre os ascendentes da bitola ferroviária. Achei apenas “giro” e  “passei por cima”.
Hoje, com a falta de inspiração que me assola (resolvi “repescar” o tema porque, podendo ser muito discutível a sua veracidade histórica, é “ben trovato”.).
Trata-se da explicação do número 4 polegadas e 5/8 de polegadas, ou seja, 1, 435 m (há quem escreva com mais uma décima de milímetro…) que caracteriza na ferrovia a “bitola” internacional.
   
Em primeiro lugar: o que significa o termo “bitola”?
É, segundo os dicionários, a medida pela qual uma obra será feita; o modelo, o padrão.
E, agora, porque é que a distância “internacional” entre carris é aquele número abstruso? Aqui vai a cativante explicação.
Os romanos (cujo rasto nas ciência e, também, na arquitectura é, na minha opinião, nulo ou quase nulo) construíram através do seu magnífico e extenso Império pontes e estradas que assegurassem rápidas comunicações.
As estradas romanas estariam na base da bitola da moderna ferrovia (britânica, diria eu).
Como? Os carros de combate romanos (e aqui reside a minha primeira reserva porque o exército romano distinguiu-se pela sua infantaria e pouco pela sua cavalaria – quase sempre assegurada por bárbaros do norte e do leste – e foi buscar a “arma” das quadrigas aos persas que nela sempre depositaram a sua primazia militar).
Ora, as quadrigas eram carroças de uso principalmente guerreiro (e aqui reside a minha segunda reserva) e não eram o meio de transporte nos caminhos que atravessavam o Império. Passemos. Como é evidente (e aqui não tenho qualquer reserva) deixavam sulcos nas estradas ao longo da sua passagem. Qualquer carroça cujo rodado não tivesse uma distância entre eixos igual ao da quadriga tinha uma enorme probabilidade de sofrer “um furo” ao longo do seu trajecto.
Assim, a distância entre rodados das modernas carroças eram iguais às da quadriga romana e os “furos” evitavam-se (desde que o carroceiro fosse um profissional experiente e atento).
Os ingleses construtores de via férreas, povo do Norte atento, seguiram os romanos, povo do Sul displicente (e aqui reside a minha terceira e última reserva, porque absolutamente impossível na cultura deles).
O resto? É aprimorado com o exemplo de “(…) um dos sistemas de transporte mais avançado do mundo (o Space Shuttle) foi determinada pela largura... do rabo de um cavalo...” O cavalo de uma quadriga romana, claro, esquecendo-se que “quadriga” significa quatro cavalos e não dois..).
Mas, então, de onde resulta o número 1,4351m como bitola internacional? Daquela história romana? Não sei, não chego lá. Ora consultem o site:
http://en.wikipedia.org/wiki/Ancient_Roman_units_of_measurement 
As ferrovias em todo o mundo adoptam várias medidas de bitola, sendo a mais frequentemente usada a de 1435 mm (4 pés e 8½ polegadas), por isso denominada muitas vezes de bitola padrão, bitola standard, ou bitola internacional. A popularidade dessa bitola deve-se inicialmente à sua maior utilização nas primeiras linhas ferroviárias construídas no Reino Unido e, posteriormente, ao uso da mesma nos EUA em função do uso de material rolante britânico. As bitolas com medida maior do que a bitola de 1435 mm são consideradas bitola larga (bitola irlandesa- com 1 600 mm, bitola ibérica- com 1 668 mm. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bitola 
Porquê uma “bitola ibérica”? Muitíssimo objectivo, tem a ver com Napoleão e lá iremos se acharem o assunto interessante.



domingo, 7 de dezembro de 2014

Os amigos



"Um dia a maioria de nós irá separar-se. 

Sentiremos saudades de todas as conversas atiradas fora,

das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, 
dos tantos risos e momentos que partilhámos.
Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das
vésperas dos fins-de-semana, dos finais de ano, enfim...
do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje já não tenho tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja
pelo destino ou por algum
desentendimento, segue a sua vida.

Talvez continuemos a encontrar-nos, quem sabe... nas cartas

que trocaremos.
Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...
Aí, os dias vão passar, meses... anos... até este contacto
se tornar cada vez mais raro.
Vamo-nos perder no tempo...

Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e
perguntarão:
Quem são aquelas pessoas?
Diremos... que eram nossos amigos e... isso vai doer tanto!
- Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons
anos da minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...

Quando o nosso grupo estiver incompleto...
reunir-nos-emos para um último adeus a um amigo.
E, entre lágrimas, abraçar-nos-emos.
Então, faremos promessas de nos encontrarmos mais vezes
daquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a
sua vida isolada do passado.
E perder-nos-emos no tempo...

Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não
deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a
causa de grandes tempestades...
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem
morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem
todos os meus amigos!". 

Fernando Pessoa.

                                                          

terça-feira, 25 de novembro de 2014

As professoras e o seu casamento.

Reproduzo uma imagem que me foi enviada há tempos por "mail". Desconheço a sua fonte.
Ao pé disto as inaceitáveis violações dos direitos das professoras são uma brincalhotice e o "professor" Mário Nogueira, presidente da Fenprof - sindicato dos professores -, ( o qual não sei, dado o período de inactividade de décadas na "nobre função", se ainda sabe ensinar...) teria uma justificadíssima síncope. 

                                                                                                     Decreto 27 279 de 24.11.1936

(Estas disposições dos anos de 1936 e 1937 se ainda estivessem em vigor não permitiriam o casamento de uma professora com José Sócrates. De facto, se o hipotético pretendente tem um perfil que é largamente conforme ao disposto no artigo 2º do decreto - se se excluir a exigência de comprovação documental - , o disposto no artigo 1º e no último parágrafo da circular de 1937 tornariam hoje impossível uma autorização ministerial). 

domingo, 16 de novembro de 2014

O "Estado" islâmico e o fanatismo.



“O silêncio dos chinelos é mais perigoso do que o barulho das botas”
“O mundo é perigoso não tanto por causa dos que fazem o mal, mas por causa dos que olham e deixam fazer”.  
Ouvi, agora, num noticiário da televisão, que o "Estado Islâmico" (Estado?) anunciou a decapitação de um funcionário de uma ONG de nacionalidade norte-americana de nome Peter Kassig (ouvi, também, em noticiário radiofónico que a declaração foi acompanhada de vídeo comprovativo no qual figurava, junto ao executor, uma cabeça...) assim como de mais 15 homens que se identificaram como soldados sírios.
Na minha opinião, a reacção da comunidade internacional a estes assassinatos tem sido timorata, tímida e inconsequente. Porque será? Provavelmente porque não há interesses políticos, económicos ou outros em jogo, como foi o caso do Iraque e é o caso do Afganistão. 
É cómodo culpar a Turquia, a qual tem cautelosas reservas, dado o seu problema curdo, sobre uma sua intervenção isolada. 
Não basta lançar de aviões mantimentos e armas aos heróicos resistentes no norte da Síria junto à fronteira com a Turquia. Justifica-se, muito mais, uma intervenção militar terrestre de uma ampla coligação ocidental. Só que não há interesses em jogo que obriguem a tal intervenção...É a miserável "ética" dos nossos tempos. Aliás, julgo pertinente a interrogação: quem está por detrás do "Islamic State of Iraq and the Levant (ISIL /ˈsəl/), also translated as the Islamic State of Iraq and Syria (ISIS /ˈsɪs/; ad-Dawlah al-Islāmīyah fīl-ʻIraq wa ash-Shām), also known by the Arabic acronym Daʿish and self-proclaimed as the Islamic State (IS)"?
http://en.wikipedia.org/wiki/Islamic_State_of_Iraq_and_the_Levant 
Ali há um ensurdecedor e sanguilonento "barulho de botas" e a Ocidente há, apenas, um vergonhoso "silêncio de chinelos" (a excepção confirma a regra) e um "olhar e deixar fazer". Porquê? Porque não há "interesses".

“Um homem cuja família pertencia à aristocracia alemã, antes da 2ª Guerra Mundial, possuía um certo número de grandes fábricas e de propriedades. Quando lhe perguntavam quantos alemaes eram verdadeiros nazis, respondia de um modo que nos pode guiar no que respeita o fanatismo. 
“Poucos são os verdadeiros nazis”, dizia ele “mas são numerosos os que se alegram com o regresso do orgulho alemão e ainda mais os que estão demasiadamente ocupados para a isso prestar atenção. Eu era um dos que simplesmente pensava que os nazis eram um bando de marados. Também a maioria contentou-se a olhar e a deixar passar. De repente, antes que nos pudessemos dar conta, eles possuíram-nos, perdemos toda a liberdade de manobra e tinha chegado o fim do mundo. A minha família perdeu tudo, acabei num campo de concentração e os aliados destruíram as minhas fábricas.”
A Russia era constituída de russos que apenas desejavam viver em paz, mau grado os comunistas russos tenham sido responsáveis pelo assassínio de cerda de vinte milhões de pessoas. A pacífica maioria era a isso alheia.
A imensa população chinesa era, ela também, pacífica mas os comunistas chineses conseguiram matar um número superior a sessenta milhões de pessoas.
O japonês médio, antes da 2ª Guerra Mundial, não era um sádico belicista. No entanto, o Japão, deixou um rasto de assínios e de carnificinas ao longo do seu caminho pelo sudeste da Ásia numa orgia de matanças incluindo o sistemático abate de doze milhões de chinese civis, a maioris mortos à espada, à pá ou à baioneta.
E quem pode esquecer a queda do Ruanda no meio de uma carnificina. Não se poderia afirmar que a maioria dos ruandeses era a favor da “Paz e do Amor”?
As lições da História são frequentemente inacreditavelmente simples e brutais e, no entanto, mau grado todas as nossas faculdades de raciocínio, passamos muitas vezes ao lado das coisas mais simples e menos complicadas: os muçulmanos pacíficos tornaram-se pelo seu silêncio inconsequentes.
Hoje os “peritos” e as “mentes bem pensantes” não se cansam de nos repetir que o Islão é a religião da paz e que a enorme maioria dos muçulmanos só deseja viver em paz. Se bem que esta gratuita afirmação possa ser verdadeira ela é totalmente infundada. É um engano desprovido de sentido destinado a reconfortar-nos e, em certa medida, a atenuar o espectro do fanatismo que invade o mundo em nome do Islão. 
O facto é que actualmente são fanáticos os que governam o Islão. São fanáticos exibicionistas. São fanáticos que financiam os numerosos conflitos armados que assolam o mundo. São fanáticos que sistematicamente assassinam cristãos ou grupos tribais em toda a África e que lentamente se apoderam de todo o continente, através de uma onda islâmica.
São fanáticos que colocam bombas, decapitam, massacram ou cometem os crimes de “honra”. São fanáticos que controlam mesquitas, uma a seguir a outra. São fanáticos que pregam zelosamente a lapidação e o enforcamento das vítimas da violação e os homosexuais. A brutal e quantificavel realidade é que a maioria pacifica, a maioria silenciosa nada faz e esconde-se. Se não reagirem, os muçulmanos pacíficos tornar-se-ão nossos inimigos porque, tal como o meu amigo alemão, acordarão um dia para constatar que são a presa dos fanáticos e que o fim do seu mundo terá começado. 
Os alemães, os japoneses, os chineses, os russos, os ruandeses, os albaneses, os afegãos, os iraquianos, os palestinianos, os nigerianos, os argelinos, todos amantes da paz, e muitos outros povos, morreram porque a maioria pacífica não reagiu antes que fosse demasiadamente tarde.
Quanto a nós, que contemplamos tudo isto, só devemos observar o único grupo importante para a nossa vida: os fanáticos.
“Quando vieram buscar os comunistas, não protestei porque não era comunista. Quando vieram buscar os judeus, não protestei porque não era judeu. Quando vieram buscar os sindicalistas, não protestei porque não era sindicalista. Quando vieram buscar os católicos, não protestei porque não era católico. E quando me vieram buscar, não havia ninguém para protestar.”
O autor deste texto, Martin Niemoller (1892-1984), foi um pastor protestante, preso em 1937 e enviado para o campo de concentração de Sachsenhausen. Foi depois transferido em 1941 para o campo de Dachau. Libertado com a queda do regime nazi em 1945.
“Na primeira noite eles aproximam-se
E colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.

Na segunda noite já não se escondem,
Pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.

Até que um dia, o mais frágil deles,
entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua
e, conhecendo o nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada,
Já não podemos dizer nada.”
Maiakovski, poeta russo, “suicidado” após a revolução de Lenin.
  

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O "Muro de Berlim" e o Partido Comunista Português



              
                                                        (in Wikipédia)                
Há 25 anos (a 9 de Novembro de 1989) começou a ser derrubado o “Muro de Berlim” também conhecido por “Muro da Vergonha” que separava, em Berlim, as duas metades da Alemanha.
A sua construção pela República Democrática Alemã (RDA) teve início a 13 de Agosto de 1967. O muro era constituído por 155 km de vedação (dos quais 66,5 km na fronteira em Berlim), 302 torres de vigilância, 127 troços de rede metálica electrificada. Em Berlim, a vedação era constituída por um muro de betão com cerca de 3 m de altura precedido, para o lado de Berlim Este, por uma vedação metálica.
        
                                                     (in Wikipédia)                    
Para além dos militares, 1000 cães asseguravam a guarda. Segundo números das autoridades comunistas, das tentativas de fuga para o Ocidente resultaram oitenta mortos (fontes ocidentais asseguraram que foram mais de duzentas), cento e doze feridos e milhares de prisioneiros.

A data foi celebrada e objecto de grande cobertura mediática, como se compreende. “Como se compreende” depende. Ora leiam este extracto de um longo editorial com 9 pontos do jornal “Avante” (órgão oficial do Partido Comunista Português), nº 2136 do passado dia 6 de Novembro:

“A pretexto da passagem de 25 anos sobre a chamada «queda do muro de Berlim» está a ser levada a cabo uma campanha anticomunista de intoxicação da opinião pública.” (...) 
“Mais do que a ‘queda do muro de Berlim’ o que as forças da reacção e da social-democracia celebram é o fim da República Democrática Alemã (RDA), é a anexação (a que chamam de ‘unificação’) da RDA pela República Federal Alemã (RFA) com a formação de uma ‘grande Alemanha’ imperialista (...).

E, mais adiante,: (…) Mas o imperialismo nunca desistiu das suas tentativas de liquidar a RDA socialista acabando em 1989 por alcançar a vitória, conseguindo que manifestações (...) ganhassem a dinâmica contra-revolucionária que conduziu (...) à anexação forçada da RDA pelo governo de Helmut Kohl.(...). A construção do muro de Berlim em 1961, com carácter defensivo (...) é a resposta a constantes provocações na linha de demarcação entre a parte Leste e Ocidental da cidade(...). Um tal contexto confere ainda mais significado às realizações e ao prestígio mundial da RDA socialista, e à sua activa política de paz e de solidariedade internacionalista (...).
http://www.avante.pt/pt/2136/internacional/132905/


É chocante verificar a dualidade de critérios na posição do PCP. De facto, os muros erigidos por Israel, pela Coreia do Sul, por Marrocos, pelos EUA são todos eles “barreiras do  mais variado tipo (sociais, raciais, religiosos e outros), por esse mundo fora, incluindo muros físicos intransponíveis” (ponto 4 do editorial), ao passo que o de Berlim tinha “caracter defensivo” (ponto 5), o qual, se calhar, era transponível...
 
Comentários para quê?
                                                                 (Brejnev e Honecker)








segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Fibonacci e o "número de ouro"




No meio dos meus apontamentos descobri um texto instrutivo de autor não identificado, muito interessante, sobretudo para os apaixonados pela Matemática e os seus “enigmas”. Aqui o reproduzo na sua parte essencial apenas com pequenas alterações à sua redacção.
“O número Pi. é o número irracional mais famoso da história. Representa a razão entre o perímetro de qualquer circunferência e o seu diâmetro. Equivale  a: 3,141592653589793238462643383279502884197169399375... e é vulgarmente conhecido por 3,1416.

O número Phi (letra grega que se pronuncia "fi") apesar de não ser tão conhecido, tem um significado muito mais interessante e intrigante, profunda e escondidamente marcado na natureza.
Durante anos o homem procurou a proporção ideal.
Os gregos criaram o 
rectângulo de ouro.
Um rectângulo no qual a proporção do lado maior dividido pelo lado menor é igual a 1,618. E a partir dessa proporção tudo era construído. É o caso do Parthenon: os rectângulos que formam a face central e a lateral; a profundidade dividida pelo comprimento ou altura; tudo segue a proporção de 1,618.

Os Egípcios fizeram o mesmo com as pirâmides: cada pedra era 1,618 menor do que a pedra de baixo, ou seja, a de baixo era 1,618 maior que a de cima, que era 1,618 maior que a da 3ª fileira e assim por diante.
Durante 
milénios, a arquitectura clássica grega prevaleceu, sendo o  rectângulo de ouro o padrão.
No ano 1200 Leonardo Fibonacci um matemático que estudava o crescimento das populações de coelhos, criou aquela que é provavelmente a mais famosa sequência matemática, a Série Fibonacci.
                                

A partir de 2 coelhos, Fibonacci foi contando como a população que deles resultava aumentava. A partir da reprodução de várias gerações chegou a uma sequência onde um número é igual a soma dos dois números anteriores: 1 2 3 5 8 13 21 34 55 89 ..
Aqui aparece a 1ª "coincidência": a proporção de crescimento média da série é... 1,618 (o número Phi). Os números variam, um pouco acima às vezes, em outras um pouco abaixo, mas a média é 1,618 - exactamente a proporção das pirâmides do Egipto e do rectângulo de ouro dos gregos.

A descoberta de Fibonacci levou os cientistas a começar a estudar a natureza em termos matemáticos,descobrindo coisas estranhamente interessantes.
                                  

A proporção de abelhas fêmeas em comparação com abelhas machos numa colmeia é de 1,618;

A proporção em que aumenta o tamanho das espirais de um caracol é de 1,618;
                                      
A proporção em que aumenta o diâmetro das espirais de sementes de um girassol ou o das escamas de uma pinha é de 1,618;
                                                 
A proporção em que se diminuem as folhas de uma árvore à medida que subimos de altura é de 1,618.”

E a mesma proporção ocorre no céu e no Universo:
 Muito interessante e, sobretudo, intrigante.



                            

terça-feira, 19 de agosto de 2014

A "burka" em Portugal



Do blog “Trajes de Portugal” transcrevo, pela sua actualidade (vide o actual impacto do uso da "burka" em países europeus, nomeadamente em França) e interesse, excertos do artigo de Agosto de 2006 relativo ao uso do traje feminino que hoje em dia se poderia chamar “burka” ou “chador”

(…) A Côca, o Biuco e o Capelo são três trajes de diferentes regiões, Alto Alentejo, Algarve e Ilha Terceira (Açores), no entanto, apesar da distância geográfica existem muitas semelhanças entre eles e uma história comum.

(…) São Paulo introduz o costume das mulheres cobrirem a cabeça para que se distingam das mulheres descobertas ou meretrizes. Entrar na igreja com a cabeça coberta era sinal de respeito, submissão e humildade perante Deus (...).

Não se sabe quando este tipo de indumentária foi introduzido em Portugal, no entanto, podem-se encontrar registos da sua utilização desde 1609, no reinado de Filipe II, e existem autores que defendem a sua origem árabe.
(…) A sua utilização destinava-se a impedir o contacto da mulher com os transeuntes que com ela se cursassem na rua, ocultando a sua identidade. Para além de isolar a mulher do mundo exterior, permitia-lha também alguma liberdade, já que não sendo identificável podia movimentar-se livremente oculta dos olhos castradores da moralidade alheia.

Estes três trajes femininos possuem pequenas variações, ou particulares alterações regionais, no entanto, a sua forma elementar baseava-se numa mantilha, com ou sem véu, amplamente distribuída, de norte ao sul do país, e que teve a generalizada denominação de biôco (ou biuco no Sul e rebuço no Norte).

Genericamente compõe-se de uma capa, mais amplas e compridas nos Açores e Algarve que no Alentejo, em cuja cabeça era coberta de forma a impedir que se visse a cara da sua utilizadora. É a forma como a cabeça é coberta que distingue os três trajes.

Côca –Alto Alentejo
 
                                                  
As côcas terão sido um traje de noiva na nossa região, na segunda metade do século XIX. (…) Mas, como traje de noiva acabou por cair rapidamente em desuso enquanto tal, passando a ser fundamentalmente moda nas mulheres aristocratas ou da alta burguesia de todas as idades, quando estas saíam à rua para assistir a actos religiosos ou nas visitas, (…). Na frente o biôco era armado em papelão, ou tarlatana, para se manter aberto. Em alguns, a renda era colocada (…) sobre a cara (…).

O biôco (ou biuco) – Algarve
      
                                    
Raul Brandão escreve a propósito do biuco no seu livro "Os Pescadores", em 1922:
" Ainda há pouco tempo todas (as mulheres de Olhão) usavam cloques e bioco. O capote, muito amplo e atirado com elegância sobre a cabeça, tornava-as impenetráveis.
É um trajo misterioso e atraente. Quando saem, de negro envoltas nos biocos, parecem fantasmas. Passam, olham-nos e não as vemos. Mas o lume do olhar, mais vivo no rebuço, tem outro realce... Desaparecem e deixam-nos cismáticos. Ao longe, no lajedo da rua ouve-se ainda o cloque-cloque do calçado - e já o fantasma se esvaiu, deixando-nos uma impressão de mistério e sonho. (…).

Trata-se de uma capa que cobre inteiramente quem a usava. A cabeça era oculta pelo próprio cabeção ou por um rebuço feito por qualquer xaile, lenço ou mantilha. As mulheres embiocadas pareciam “ursos com cabeça de elefante”
Oficialmente a sua extinção ocorreu em 1882 e por ordem de Júlio Lourenço Pinto, então Governador Civil do Algarve, foi proibido nas ruas e templos, embora continuasse a ser usado em Olhão até aos anos 30 do século XX em que foram vistos os últimos biocos.

O Capelo – Açores
                              
À semelhança de outras regiões também a mulher açoriana usava agasalho capotes com capelo, diferindo o seu feitio de ilha para ilha.
Leite de Vasconcelos visitou os Açores no Verão de 1924 e testemunhou o uso de mantos e capotes pelas mulheres da ilha Terceira (em comentário é dito que não, que é em S.Miguel) e do Faial. Com efeito até meados do século XX era frequente encontrar nos meios citadinos mulheres envoltas no seu capote preto e capelo armado (…).

Estamos assim perante três trajes, que para além da sua função de abafo, remete o papel da mulher para a total exclusão da sociedade, uma vez que, completamente coberta jamais alguém descobriria a sua identidade (…).



Proibido usar burka ou do chador no Algarve desde 1892 .
             

              
«Faço saber que pelo regulamento policial d’este Governo Civil, de 6 do corrente mes, com execução permanente, aprovado pelo governo, determino o seguinte:

Artigo 32º – É proibido nas ruas e templos de todas as povoações deste distrito o uso dos chamados rebuços ou biôcos de que as mulheres se servem escondendo o rosto.

Artigo 33º – As mulheres que, nesta cidade, forem encontradas transgredindo o disposto no precedente artigo serão, pelas vezes primeira e segunda, conduzidas ao comissário de polícia ou posto policial mais próximo, e nas outras povoações à presença das respectivas autoridades administrativas ou aonde estas designarem, a fim de serem reconhecidas; o que nunca terá lugar nas ruas ou fora dos locais determinados; e pela terceira ou mais vezes serão detidas e entregues ao poder judicial, por desobediência.
Parágrafo único – Esta última disposição será sempre aplicável a qualquer indivíduo do sexo masculino, quando for encontrado em disfarce com vestes próprias do outro sexo e como este cobrindo o rosto.
Artigo 34º – O estabelecido nos dois precedentes artigos não terá lugar para com pessoas mascaradas durante a época do Carnaval, que deverá contar-se de 20 de Janeiro ao Entrudo; subsistirão, porém, as mesmas disposições durante a referida época, em relação às pessoas que não trouxerem máscara usando biôco ou rebuço.

Artigo 41º – O presente regulamento começa a vigorar, conforme o disposto no artigo 403º do código administrativo, três dias depois da sua publicação por editais – Governo Civil de Faro, 28 de Setembro de 1892. – Júlio Lourenço Pinto.»