segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Os dias da semana em Portugal.

    
Desde sempre o homem preocupou-se com o registo do tempo. Nesse registo, geralmente a cargo dos sacerdotes, constavam (na sucessão dos dias que constituíam o que era considerado o ano consoante as concepções astronómicas da época) as datas de natureza civil, religiosa ou agrícola sendo, hoje em dia, denominado “calendário“ ou, mais raramente, “almanaque“. 
O termo calendário vem do latim “calendarium“ que, para os romanos, constituía um registo das dívidas a serem liquidadas nas calendas, ou seja, no 1º dia de cada mês. 
A designação almanaque julga-se provir do árabe (“acção de contar”) e aplica-se ao registo no qual se indicam as divisões do ano, os meses, as semanas, os dias, as fases da lua, as estações, as festas religiosas, etc. Um quadro, com esta natureza, era designado pelos romanos não por “calendarium“ mas por “fasti“, porque nele se identificavam os dias “faste“ e “nefaste“ (permitidos/benéficos e proibidos/maléficos).
A opção dos Babilónios em adoptar as fases da Lua como base do seu calendário condicionou durante séculos o modo de registo do tempo.


Ainda hoje, o Islão continua a viver segundo o calendário lunar. 
Não é por acaso que o crescente figura na bandeira de um país muçulmano: a lua, a lua nova, marca o começo do Ramadão (9º mês) e marca a cadência regular do calendário, no qual os meses são independentes das estações (o jejum do Ramadão ou a peregrinação a Meca tanto pode calhar no verão como no inverno).
Os Egípcios foram os primeiros (há mais de 10.000 anos?) a definir a duração do ano solar. Em 4300 a.C. estabeleciam como ano civil o “ano do Nilo” e adoptaram um calendário constituído por um ano de 12 meses de 30 dias aos quais se deviam adicionar 5 dias. O erro do calendário egípcio era muito pequeno: as estações ocorreriam durante o mesmo mês durante um período de cerca de 1460 anos.
A designação ano manteve a sua justificação como unidade de medida uma vez que, como “anel” (annulus em latim) do tempo, mede o ciclo sazonal da vegetação e dos factores climáticos. A estrutura do ano ao longo da História variou de época para época, em cada época de povo para povo e, inclusivamente, no mesmo povo de estado para estado (como ocorreu na antiga Grécia).
Aristóteles calculou a duração do ano em 365, 25 dias e a do mês em 29 dias e 499/940.
A estes valores (calculados em 335 a.C.) correspondem erros de 11,232 minutos num ano e de 22,7 segundos num mês. É uma precisão notável.
Júlio César, em 46 a.C., recorrendo ao astrónomo Sosigenes, estabelece a duração do ano em 365 dias e 6 horas, aumenta para 445 dias o ano de 47 a.C. (por isso designado o “ano da confusão”) e introduz o ano bissexto (de modo diferente do actualmente adoptado). O ano corrente tinha uma duração de 365, 25 dias, enfermando de um erro de 11 minutos e 14 segundos. César alterou a data de início do ano de 1 de Março para 1 de Janeiro.
O actual Calendário Gregoriano resulta de uma revisão do calendário juliano, efectuada por ordem do papa Gregório XIII. Nesse ano de 1582 verificava-se, relativamente ao ano solar, um avanço de 10 a 11 dias resultante da sucessiva acumulação do erro de 11 minutos e 14 segundos dos cálculos de Sosigenes. 
A mando do papa, o astrónomo Lélio reduziu em 10 dias o ano em curso, passando o dia 5 de Outubro a ser 15 de Outubro. O ano gregoriano tem uma duração de 365, 2425 dias e é, portanto, mais comprido 0, 0003 dias do que o “ano solar“. No futuro ano de 11582 o actual calendário terá mais 3 dias em relação ao “calendário solar”.
Portugal e Espanha foram as primeiras nações que adoptaram de imediato o calendário gregoriano (o dia seguinte a 4 de Outubro de 1582 foi 15 de Outubro, mas só no século XVIII a reforma gregoriana foi adoptada pelos protestantes da Alemanha, Suíça, Suécia e Inglaterra).
A identificação dos ciclos naturais não dispensou o homem da necessidade de pormenorizar a medida do tempo, que manifestamente se revelava na alternância entre o dia e a noite. Esta sucessão da luz e da treva impôs-se, naturalmente, como a primeira unidade de medida do tempo. 
No século IV, os gregos fizeram a sua associação com o Sol, mas só em 1543, no meio de escândalo e de polémica, Copérnico demonstrou a relação entre o movimento de rotação da Terra e a ocorrência do dia e da noite. Pode dizer-se, sem exagero, que a Terra foi o primeiro relógio da humanidade, relógio de grande e inultrapassável precisão.
No“Génesis“ lê-se: “As trevas cobriam o abismo... Deus disse faça-se a luz. E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. Deus chamou dia à luz e ás trevas, noite. Assim surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o primeiro dia“. 
De acordo com as Escrituras, o dia começa, portanto, com a noite.

A divisão do dia em horas (do latim hora que significa duração, parte do dia) deve-se, provavelmente, aos caldeus e desde a antiguidade até hoje que é adoptado, na astronomia, o seu sistema numérico de base 60. 
A hora foi, assim, dividida primeiro em 60 partes designadas por minutos (do latim pars minuta prima) e, novamente, uma segunda vez em 60 partes designadas segundos (do latim partes minutae secundae).
Como medida astronómica é duvidoso que o minuto, e muito menos o segundo, tenha constituído, senão em recentes épocas, uma medida prática, dada a inexistência de aparelhagem adequada a tal precisão
No mundo medieval, um intervalo de três horas canónicas dividiam as actuais 24 horas do dia: de três em três horas, os sinos anunciavam matinas (meia-noite), laudas (três da madrugada), prima (seis da manhã), tercia (três horas), sexta (meio-dia), nona (três da tarde), vésperas (seis da tarde) e completas (nove da noite). 

Tal como foi considerada necessária a divisão do dia em partes mais pequenas, igualmente se considerou vantajoso o agrupamento dos dias numa unidade maior incluída no mês.
Esta divisão do mês variou de povo para povo, mas por razões de comodidade será aqui adoptada a designação vinda do latim septimana (grupo de 7 dias), a semana (os gregos e antes deles os egípcios e os chineses, contavam os dias por décadas).
Os romanos tinham uma muito particular divisão em calendas, idos e nonas (respectivamente, o 1.º dia da lua nova, o da lua cheia e o nono dia antes desta) e foi do Oriente que se herdou, pelos hebreus e árabes, o sistema dos caldeus numa base de 7.
O imperador Augusto mandou adoptar para nomes dos dias da semana os daqueles planetas, que se acreditava terem influência na 1.ª hora do dia e, portanto, em todo o dia: Sol, Lunae, Martis, Mercurii, Jovis, Veneris, Saturni, (dies). O 7.º dia da semana, como o Saturni dies dos romanos ou o Shamash dos babilónios, ou o Shabbat dos judeus, ou o nosso Sábado, manteve-se o “pivot“, o início da semana.   
  
 
                 
Em 321 da nossa era, o imperador Constantino, a conselho dos “Pais da Igreja”, ordenou que o dia do Sol (dia de veneração do deus do Sol pré-cristão, Mitra) passasse a ser o dia do Senhor: dies Dominica, o nosso Domingo.
Data também dessa época a determinação oficial da Igreja de rejeitar a designação pagã dos dias da semana e de seguir uma sua simples enumeração.              
Os nomes pagãos e o seu significado mantiveram-se, até aos nossos dias, nos países de língua latina e germânica. No entanto, nos países de influência da igreja ortodoxa, como os de língua eslava e a Grécia, adoptam-se designações numéricas: Pyat e Pyatnisa (5º e 6.º) na Rússia, Deutera, Triti, Tetarti (2.º, 3º, 4º) na Grécia.

                 
Paradoxalmente, as nações cristãs que, num ou noutro momento da sua História, sofreram a influência ou o poder religioso de Roma, não seguiram, a partir de uma dada época, a determinação da Igreja, com a singular excepção de Portugal, não só no contexto da Europa Ocidental mas também no da Península Ibérica.
A semana cristã distinguia-se pela designação “feria“: Domenica (feria prima), feria secunda, feria tertia, feria quarta, feria quinta, feria sexta. Que significa “feria“? Em latim clássico só existe o plural feriae com o significado de “dias de descanso“. 
Mas, por que é que dos países da Europa Ocidental só Portugal e, também, no 1.º quartel deste século, a Galiza, se manteve, até hoje, fiel a uma determinação da Igreja que data do século IV da nossa era?
Mas a influência da Igreja só se fez sentir em Portugal? E na mui vizinha e católica Castela, não? O sistema cristão foi certamente seguido nas Espanhas, tendo sido substituído em época indeterminada pelo pagão (como consta em documentos do século XIII) mas nunca em Portugal “… onde não há notícia, em documentos, de se haverem empregado algum dia nomes pagãos...”.
As interrogações por responder mantêm-se.
Em que época em Espanha e na Europa cristã se infringiu a determinação papal? Por quê? Por que razão Portugal e, também, a Galiza onde a língua era a mesma (note-se que até 1931 “... en algús escritores… carta, quinta e sesta feira súplena coas palabras mércoles, xoves, vernes. Voces, de xeito inteiramente galego e conforme coa orixe latina...”) não foi seguida essa desobediência?                                                                                           

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Os cinco primitivos patriarcados



Ecclesias era como se chamavam as primeiras comunidades dos seguidores de Jesus (o termo “cristianismo” só surgiu mais tarde). Eram células à semelhança das comunistas de hoje. 
A chefia de cada ecclesia era assegurada por um presbítero livremente eleito pela comunidade. O presbítero era assistido por diáconos e subdiáconos, acólitos, leitores e exorcistas (aos quais se confiava a cura dos “possuídos”, dos epilépticos). O presbítero dava conta da sua conduta apenas aos seus fiéis, não existindo qualquer relação hierárquica entre os de cada cidade ou de cada comunidade. Melhor exemplo de democracia não há.
No entanto, a partir do século IV, com a enorme expansão do cristianismo transformado em religião de estado, a multiplicação de ecclesias em cada cidade tornou essencial uma verdadeira organização religiosa. 
Assim, os presbíteros passaram a eleger, para a coordenação das suas acções, um epíscopo (um bispo). Posteriormente, apareceram a aparecer os arcebispos, os metropolitas e os primazes que eram os supervisores dos bispos de uma província. 

Até que em cinco cidades – Roma, Constantinopla, Antioquia, Jerusalém e Alexandria – foi instalado um patriarca. (Constantinopla, inaugurada em 330, só foi sede do Patriarcado do Oriente no séc. V, em 450. No séc. VI, com o seu  milhão de habitantes, era a cidade mais populosa do mundo, seguida, mas a muita distância, de Cartago, Alexandria e  Antioquia). 
Paulo, nas suas cartas, informa que o movimento de Jesus era dirigido por três “pilares”: Simão-Pedro, João e Tiago “irmão do Senhor”, ressaltando claramente que este último, que exercia o seu magistério em Jerusalém, constituía a autoridade suprema. Apenas no século V é que começou a teoria de que Pedro, fundador da primeira ecclesia em Roma, tinha primazia e foi nessa altura que apareceu a designação Papa, título também usado por muitos outros bispos. 


                                                Simão-Pedro e Tiago ("o Justo", irmão do Senhor)

O papa de Roma era apenas o bispo de Roma, eleito, como todos os outros, pelo clero e pelo povo da cidade e tinha a mesma importância e os mesmos atributos que os das outras quatro sedes patriarcais. Só no Concílio de Calcedónia de 381 o bispo de Roma foi reconhecido, com muitas dificuldades e divergências, primus interpares.
Depois, no séc. VI, a supremacia de facto do bispo de Roma foi consagrada com o título de Pontífice, ou seja, chefe da Igreja. 

                                                                         Brasão de Bento XVI 

Neste brasão destacam-se três elementos: a cabeça coroada de um negro, uma concha e um urso que carrega um fardo atado, formando o cordame uma cruz de St. André.  
Um mouro figura nas bandeiras da Córsega e da Sardenha, simbolizando em ambas a victória daqueles povos sobre os sarracenos (século XIII). 
A concha tem um triplo significado para os cristãos: a lenda de S. Agostinho relativa ao menino que pretendia encher com ela todo o mar numa cova feita na areia (inútil tentativa de fazer entrar a infinidade de Deus na limitada mente humana), é o símbolo do peregrino e é o utensílio utilizado no baptismo cristão.   

O urso - que consta das armas da cidade de Freising cujo patrono é S. Corbínio (séc. VIII) o qual tem uma história que explica a figura do urso identifica o arcebispo de Freising-Munich, Joseph Aloisius Ratzinger, tal como o leão de Veneza identifica o papa João-Paulo I que daquela cidade foi arcebispo. 


O urso foi utilizado pela Igreja como símbolo da victória do cristianismo sobre o paganismo podendo também, nas armas de Bento XVI, ser interpretado numa leitura mais livre como estando a carregar o peso da Igreja (S. André era irmão de Pedro, segundo o Novo Testamento).   


 


 


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Ossadas e tecnologia



D. Sebastião e Ricardo III

Há uns anos, em conversa com um grupo de amigos, afirmei, frente a incredulidade geral, que D. Sebastião se encontrava sepultado no Mosteiro dos Jerónimos (no transepto estão os túmulos de D. Sebastião e do Cardeal D. Henrique).  
Que não, que não, que o seu corpo nunca tinha sido encontrado nos campos de Alcácer Quibir. Que o que estava nos Jerónimos não era D. Sebastião.
Insisti até ao admissível pela boa educação porque tive vontade de exclamar “ignorantes”. Mas lembro-me de ter dito “hoje em dia é facílimo: bastaria um teste de ADN ...”.
Depois, não esqueci que uma investigadora da Universidade de Coimbra quis investigar o túmulo de D. Afonso Henriques o que lhe foi negado, à última hora, pela direcção nacional do IPPAR, cujo porta-voz esclareceu que as razões do indeferimento seriam explicadas em comunicado (o qual desconheço por eventual distracção minha). 
O túmulo da igreja do Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, guarda duas pequenas urnas de madeira, uma sobre outra. , a segunda urna deve ser da mulher de D. Afonso Henriques, D. Mafalda. Em 1515, os restos mortais dos monarcas foram transladados para o novo túmulo, que ficaria na nave da igreja. Entre 1522 e 1530, foram de novo transladados, para a capela-mor, onde se encontram actualmente. 
Mas, em vez da invocação da “modernice ADN”, deveria ter remetido para o livro, interessantíssimo e esclarecedor, sobre “D. Sebastião, rei de Portugal” da autoria de Antonio VillaCorte Baños e publicado pela “Esfera dos Livros”.
Como, em muitas ocasiões o bom senso aconselha, “encostei-me às boxes” e deixei correr a sabedoria e as convicções dos meus amigos.
Eis que, anos passados (“anteontem”), fiquei satisfeito (feitios...) com uma notícia amplamente divulgada pelos media relativa à identificação de personalidades históricas e sobre o que a moderna tecnologia permite na reconstrução em carne de ossadas, o que me impressionou muito menos.
Refiro-me ao rei Ricardo III de Inglaterra.
Morreu na batalha de Bosworth (“Guerra das Rosas”) derrotado por Henry da casa de Tudor, embora com relevante superioridade numérica não sendo de afastar a hipótese de traição por parte dos seus aliados.
Em Agosto de 2012, a Universidade de Leicester anunciou que, juntamente com o “City Council” e a fundação Ricardo III, iria proceder a escavações no local da igreja de Greyfiars,
demolida no tempo de Henrique VIII (1509-1547) com o objectivo de localizar os restos do rei
Ricardo III (último rei plantageneta, último rei inglês a morrer em batalha, último da casa de
York, que reinou de 1483 a 1485) ali enterrado apressadamente e sem pompa. 

Em Fevereiro de 2013 foi confirmada que uma ossada ali descoberta era a de Ricardo III por
correspondência com o ADN de um descendente da sua irmã Ana de York, um marceneiro
canadense.

D. Sebastião morreu em 1578, cerca de cem anos após Ricardo III (contemporâneo do nosso D. João II) e interrogo-me porque razão não haverá ainda por aí alguém com sangue dele (tinha ascendência muito numerosa em Portugal e Espanha) e acabar de uma vez por todas com o mito de ele “aparecer numa manhâ de nevoeiro”...
De Ricardo III, com má fama sobre o seu carácter, têm-se descrições fidedignas sobre o seu físico. Era, segundo Thomas More (1519), coxo e de braços desequilibados e, na peça de Shakespeare, : “...Now is the winter of our discontent...I that am curtail´d of this fair proportion, cheated of feature by dissembling nature, unfinish´d send before my time…and so lamely and unfashionable that dogs bark at me as I halt by them…and descant on my own deformity…
(Ricardo III sofreu aos 12 anos de escoliose genética e  degenerativa que se traduziu numa corcunda e num ombro direito muito mais alto do que o esquerdo). 
 
http://en.wikipedia.org/wiki/Richard_III_of_England 
Sabe-se como Ricardo II morreu (cortado aos bocados com o crâneo esfaqueado e esfacelado) e esse facto foi comprovado pela investigação arqueológica das suas ossadas.
D. Sebastião?
Também se sabe como morreu e qual o aspecto do seu cadáver.
Então o que falta?
Um marceneiro?


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Cinco Figuras da História



                                          Sócrates, Alexandre, César, Jesus, Maomé


Sócrates era calvo,  feíssimo, barrigudo, de nariz achatado e narinas abertas, lábios espessos e olhos esbugalhados. Tinha o aspecto de imbecil anormal. A sua apresentação era sempre modesta, não só porque era pobre mas, sobretudo, porque era simples Socrates era corajoso e tinha uma invulgar paciência e um notável autodomínio. Conviva agradável e jovial, bebia muito mas sempre sem se embriagar. Não era colérico nem irritável. 
Ao darem-lhe um dia uma bofetada respondeu calmamente: “É muito aborrecido não saber quando é necessário pôr um capacete antes de sair”, ou quando o pontapearam: Mas então, se fosse um burro que me tivesse dado um pontapé eu processava-o?”


Alexandre o Grande tinha o corpo de um atleta. A sua beleza era célebre O seu rosto, branco e rosado, tinha uma aparência de indolência. Os seus cabelos espessos e encaracolados eram de um louro dourado e descobriam uma testa larga e ligeiramente abaulada. Os seus olhos eram azuis e lançavam um estranho olhar devido ao facto do olho direito ser mais escuro do que o esquerdo. O nariz era direito e no prolongamento da testa. Tinha uma expressão severa, quase feroz. Contrariamente ao costume da época, muito em particular na classe militar, fazia a barba. Falava sempre muito depressa como se o tempo fosse precioso e tivesse muito para dizer. Tinha o hábito de manter inclinada a cabeça para o lado esquerdo. Bebia rápida e enormemente. Dormia excessivamente. Era pouco atraído pelas mulheres.
Excepcional cavaleiro, corredor e caminhante infatigável de passada insolitamente rápida. Aliava a uma grande força uma inacreditável resistência. Muito ardente, enérgico, perseverante e de uma obstinada tenacidade. Era valente até à total inconsciência. De uma megalomania arrogante, as suas qualidades de chefe eram incomparavelmente superiores à sua visão da táctica militar.
Tinha uma elevada opinião de si próprio, fanfarrão e incansável falador. Tinha uma forte tendência para a crítica e não tinha sentido de humor ou de ironia. Excepcionalmente dotado do sentimento divino, místico e muitíssimo supersticioso (a questão de se saber se era são de espírito foi frequentemente debatida pelos eruditos). 
De notórias insuficiências intelectuais, muito ignorante da geografia e da natureza humana, tinha, no entanto, um gosto natural pela literatura e pelo estudo. Lia muito. 


César era de estatura acima da média dos seus contemporâneos romanos. Precocemente calvo, tinha uma testa alta, um rosto pálido e ligeiramente alongado, olhos negros e penetrantes, nariz aquilino e um pouco grande, uma boca larga de lábios finos e de cantos ligeiramente descaídos. Embora de constituição delicada e de saúde frágil, tinha uma extraordinária forma física obtida por contínuo exercício e treino. 
O seu valor em combate era excepcional, valente até à temeridade. Implacável conquistador mas generoso para com os vencidos. Era adorado pelos “seus” soldados. De temperamento tranquilo e pensativo, de inteligência lúcida, penetrante e firme. Não castigava sob cólera. Era proverbial a sua rapidez na tomada de decisões, nunca cedendo à impulsividade.
Não era homosexual, falsidade muito insinuada pelos seus inimigos e que motivava a gargalhada das suas tropas. Pelo contrário, gostava muito de mulheres, sobretudo as dos outros.
Desprezava o dinheiro. Sofria do estômago, era sujeito a crises de epilepsia.


 Maomé era de estatura inferior à média e de fraca constituição. De cabeça grande, olhos negros, nariz direito, dentes afastados e barba espessa. De mãos e pés grossos e articulações imponentes. Era muito peludo e a sua pele era clara, rosada. O seu cabelo era negro e  comprido, o que lhe permitia enrrolá-lo em duas ou três dobras. Cobria-se de perfumes, tingia o cabelo e pintava os olhos.  
A sua imagem constava inicialmente no escudo das suas tropas, mas, posteriormente, foi proibida qualquer representação do seu rosto.
Era de temperamento sábio, embora impressionável, inquieto, nervoso e frequentemente colérico. Embora com particular sentido de humor, nunca se ria em público, mantendo uma impassível dignidade. Era vaidoso e imensamente orgulhoso. Sofria de epilepsia.



Sabe-se que Jesus gostava da discussão, de comer, da companhia das mulheres. Mas Jesus não tem rosto e nenhuma memória do seu aspecto ficou registada. Ninguém sabe se era alto ou baixo, moreno ou loiro, gordo ou magro, belo ou feio. Durante séculos, milhares de pintores deram dele inúmeras representações que nos dão a ilusão de o terem visto. 
O “sudário“ de Turim deu uma  fascinante, mas falsa imagem de Jesus. Revelado por uma fotografia de 1898, a sua datação pelo carbono 14, feita a pedido do Vaticano, apenas confirmou o que já se sabia desde o final do século XIV por dois bispos de Troyes, região onde apareceu: data do periodo de 1260-1390 e não dos anos 30 da nossa era.