terça-feira, 16 de junho de 2020

Os merdosos.


A selvagem morte do cidadão norte americano George Floyd em Miniapolis chocou o mundo excepto nazis, KukluxKlans e ignorantes.
O grupo dos ignorantes tem atributos não identificáveis para além da ignorância: um grande matemático ou um excelente médico, por exemplo, podem ser ignorantes noutros domínios.
O mundo ficou chocado e uma onda de protesto, por vezes violento, espalhou-se como um rastilho pela muito “culta” Europa.
Escrevo “culta” em contraposição com o carimbo “ignorante” que fácil, justificada e repetidamente se põe na testa do americano médio. Os E.U.A têm as melhores universidades, são pioneiros e os primeiros nos vários horizontes técnicos (desde a inteligência artificial à biotecnologia) mas, de facto, ignoram, na sua generalidade, com grande facilidade e naturalidade, a geografia e a história.
O rastilho da revolta europeia copiou o americano não só nas frases de ordem mas também nas pinturas e na danificação de monumentos, em particular estátuas. Lembra-me a destruição dos Budas no Afeganistão pelo governo fundamentalista Talibã.
                    
Os Budas de Bamiyan localizavam-se no Vale do Bamiyan (Afeganistão), local religioso Budista do século II até à época das conquistas árabes, no século VII.
Muitos dos monges embelezavam as suas cavernas com estatuária religiosa. Os maiores exemplares do mundo de Budas eram dois, um com 55m e outro com 38m de altura.
Em Março de 2001, o governo Talibã mandou destruir aquelas gigantescas estátuas. Foram colocados explosivos ao redor das estátuas detonados aos gritos de "Allah Akbar".
Para destruir completamente os restantes budas, faziam-se duas ou três explosões por dia tendo o processo demorado 25 dias. No fim, comemorou-se aquela total e selvagem destruição de um património da humanidade com tiros para o ar e o sacrifício de nove vacas. Diz tudo.
         
Agora, na ressaca do assassínio de George Floyd, Thomas Jefferson (1743-1826), considerado um dos maiores presidentes dos EUA, não escapou à raiva por ser considerado um defensor do esclavagismo e era-o. A sua estátua foi derrubada na cidade de Portland (Oregon) e a presidente do Congresso (democrata) declarou recentemente que a existente no Capitólio seria retirada. Nunca me admirei com a nomeação e posterior eleição do imbecil Trump (republicano).
Também as estátuas de outras figuras notáveis da Confederação foram derrubadas.
E, também, Baden Powell fundador do escotismo não escapou e lá se foi outra estátua. Porquê? Muito provavelmente porque como oficial do exército britânico e durante a guerra contra os zulus na África do Sul mandou executar o chefe Uwini responsável pelo massacre de 300 colonos britânicos. Quantos fuzilamentos foram realizados na Guerra Civil americana e nas guerras europeias?
A questão é que se ignora com demasiada frequência que tempos são tempos e que cada tempo tem a sua ética, os seus princípios e que estes não podem ser analisados à luz dos do presente.

           

                               Lê-se “Slave Owner”.
O mesmo também se aplica ao padre António Vieira (1608-1697), um dos maiores se não o maior orador português, missionário e, sublinhe-se, grande defensor das populações indígenas do Brasil combatendo incansavelmente a sua escravização. No entanto, a sua estátua em Lisboa foi vandalizada com o escrito “Descolonização” a vermelho.
E o que teve de anacrónico a nossa colonização com mais de 600 anos tomando como referência a colonização da Madeira em 1418? E de que sofre a população de S. Tomé e Príncipe para lá levada das costas africanas por nós? Da sua independência? E a Índia portuguesa com a sua Goa tão amada pelo grande Afonso de Albuquerque que para lá queria deslocar a capital do Império? E o Brasil? E a Língua Portuguesa espalhada pelos cantos do Mundo? Têm deles vergonha os vândalos cretinos?
Pobre de espírito, o pintor. Imbecil como lhe chamou o Marcelo? Talvez também, mas eu creio que foi um pobre executante às ordens de um mandante politicamente correcto e cobardolas merdoso porque medroso de ser descoberto. Suspeito que sim.
Inexplicavelmente escaparam à dinamite dos ignorantes e fundamentalistas cá do sítio a Torre de Belém, o Padrão dos Descobrimentos e o Mosteiro dos Jerónimos. 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

As bestas e as vítimas colaterais.




A besta do Trump é um dos responsáveis. O Governo do Irão outro.
A besta do Trump destabilizou toda a zona do Médio-Oriente. Começando pela Síria. Lá a besta do Daesh tinha sido derrotada com o importante apoio das milícias curdas, do Hezbolah (Xiita) e dos russos.
O chamado Ocidente não deve meter a colher no conflito milenar entre sunitas e xiitas. Eles que tratem uns dos outros, tal como por cá entre católicos e protestantes.
Ali, no Yemen, no Iraque, etc. a besta do Trump deixou de ter interesse na estabilidade política dos produtores de petróleo. Para quê se hoje os EUA podem extrair toneladas de petróleo do xisto?
Interesses que entram em conflito com os seus apoios militares ao país que lhes der mais jeito? Apoiaram, armaram, os curdos. Apoiaram, armaram um general iraniano para depois o assassinarem.
Enquanto servirem, servem.
Depois? Já não interessam: “kaput” embrulhado em papel higiénico.
  
“Shame on you!”.
Há poucos dias, mais de 170 iranianos embarcaram de Teerão num avião de fabrico americano (Boing 373) para regressarem aos seus países de acolhimento. Passados 3 minutos o avião era abatido por 2 mísseis iranianos.
Morreram todos com o carimbo de “baixas colaterais”. O raio que os parta.
Precipitação de quem carregou o botão? Certamente. Mas quem o ordenou premir o fatal botão?
Honra seja feita ao supremo “ayatola” que, publicamente, esclareceu que não era só ele, o do botão, o culpado. Eram todos, em particular os ordenantes e que todos seriam julgados e castigados. Veremos.
Que diferença com o vôo da Malaysia Airlines entre Amsterdão e Kuala Lumpur (!):
“(…) em 17 de julho de 2014, um Boeing 777-200ER, caiu perto de Grabove, no oblast de Donetsk, no leste da Ucrânia, a 40 km da fronteira com a Rússia, transportando 283 passageiros e 15 tripulantes de vários países. (…)
Relatos iniciais do governo ucraniano informaram que a aeronave foi abatida a uma altitude de 10 000 m por um míssil terra-ar disparado utilizando o sistema de mísseis Buk. As duas partes envolvidas na rebelião no leste da Ucrânia, a princípio, negaram responsabilidade pelo incidente, acusando-se mutuamente. (…) Este foi o maior incidente da Malaysia Airlines superando o voo 370, que resultou na morte de 227 passageiros, e que não foi encontrado.
Nenhuma semelhança: uns, passados uns dias, batem no peito, os outros, atá hoje, assobiam para o lado…
Comentários para quê?
Tudo vítimas colaterais de mísseis mandados por irresponsáveis bestas.


quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Porta dos Fundos


“Porta dos fundos” é sempre um caminho maléfico-esperto. Por ele, talvez se entre e talvez um problema se resolva. “Pela Porta dos Fundos” é a firma produtora do filme “A Primeira Tentação de Cristo”, de 2016, mal classificado pela crítica porque, de facto, é mauzote.

Nesse filme, retrata-se Jesus como homosexual acompanhado pelo namorado na sua estadia de 40 dias no deserto e desafiando a mãe, que fuma haxixe e engana José, para ir para a cama com ele, os apóstolos passam o tempo em orgias.
Edificante.
A questão levantou e continua a levantar enorme e violenta polémica no Brasil. Desde abaixo-assinados com mais de 2 milhões de assinaturas até ao lançamento de “cocktails Molotov” contra a sede da firma produtora, houve de tudo.
Se há liberdade de expressão para defender os caricaturistas de Ala como troglodita com uma bomba na cabeça (“Je suis Charlie”) porque é que a mesma não é legítima quando Jesus é retratado como maricas? Sim “maricas” como eram educadamente apelidados os “gays” no meu tempo de juventude. Quando não havia educação, eram apelidados fabricantes de panelas.
Mas hoje é socialmente admitido fazer parte de uma comunidade mais abrangente, a dos “LGBT”, ou seja Lésbicas + Gays + Bisexuais + Transgénicos.

Enormes diferenças não discriminatórias porque diluídas naquela designação, a qual é, também, politicamente muitíssimo correcta.
No passado, os membros daquela comunidade eram discretos e, na sua enorme maioria tinham vergonha de o proclamar.
Hoje, afirmam-se como tal publicamente e quanto mais luz houver, melhor. Desde o vestir, as mãos dadas, os olhares, os beijos.

Lindo.
Se permitirem que eu também tenha liberdade de expressão sem ofender ninguém, chegamos ao segundo ponto: não se deve forçar ninguém a seguir as nossas convicções e deve-se respeitar as convicções dos outros. Sou cristão por educação e considero, porque estudei a sua história e não a da catequese, Jesus como uma das personalidades mais marcantes da história da humanidade.
Não é pelo facto de Alexandre o Grande ter chorado a morte do seu amante Héfestion ou porque as tropas do grande César cantavam nos seus triunfos que ele era “o homem de todas as mulheres e a mulher de todos os homens” (historicamente falso) ou porque a arma mais temível do exército grego, o  Batalhão Sagrado de Tebas, ser constituído por 150 pares de amantes homossexuais (historicamente verdadeiro), que esta catacterística pode ser praticada sem pudor ou reserva ou não ser criticável hoje, mais de 2000 anos depois.
Nada do que é invocado para dar estatuto social ao LGBT justifica qualquer ofensa aos cristãos e às suas crenças e a “Pela Porta dos Fundos” foi inaceitavelmente insultuosa o que não é justificável à luz de qualquer tipo de liberdade.
Não sou hindu mas nunca troçaria do desmesurado respeito que eles têm pelas vacas. Não sou muçulmano mas nunca troçaria do modo das suas rezas, virados para Meca. Nunca troçaria das vestimentas e penteados dos judeus ortodoxos, etecetera.
No fundo, é tudo uma questão de educação, no seu sentido mais lato, e de respeito pelos outros.
Pela porta dos fundos? Nunca.