quinta-feira, 18 de julho de 2019

Quando for grande.



As astronómicas verbas de transferências futebolísticas e a rápida ascenção financeira e profissional de alguns jogadores novinhos baralharam completamente as aspirações juvenis. Hoje ser futebolista ou político na calha é o que está a dar.

Antigamente, o desejo de qualquer jovem era ser médico, advogado, engenheiro, arquitecto, economista. A admissão à Universidade era um confessado objectivo, a preocupação de emprego estável era grande e a motivação financeira fraca.

Esse país de “doutores” transformou-se num país de “misteres” que, catedrática e televisivamente, seringam diariamente o telespectador com interessantíssimas novidades e explicações futebolísticas. O “esférico”, como eles dizem, passou a ser um instrumento de enriquecimento garantido e rápido.

           
Do futebol, ao futsal e ao futebol de praia chegou-se, muito recentemente e finalmente, ao hóquei, gloria portuguesa dos anos 40 a 50 do século passado. A selecção será recebida e certamente condecorada pelo presidente Marcelo dada a sua condição de campeã do mundo. Do mundo. Que orgulho.
No entanto, Portugal está, de acordo com as estatísticas mundiais, na primeira linha da corrupção. Que vergonha.

Chegar-se a político é um novo “canudo”, não universitário mas partidário. Faculta não só injustificáveis proveitos financeiros - no salário, nos subsídios, nas pensões vitalícias, nas viagens, nas ajudas de custo, etecetera – mas garante, também, poder. Poder resultante de nepotismo e que, demasiadas vezes, conduz à corrupção.

Uma vergonha denunciada por muitos mas em relação à qual os detentores do poder político nada têm feito, desde o Presidente da República, à Assembleia da República, ao Governo.

O cidadão vive assim entre o orgulho no que interessa muito pouco e na vergonha no que é importante numa “democracia de direito” como hoje se diz.

E onde está o presidente Marcelo no meio de isto tudo? Continua no afã de não perder nenhuma transmissão televisiva dos sucessos portugueses no desporto e limita-se a inofensivos comentários aos vergonhosos comportamentos de membros do governo, de deputados, de autarcas.

Já com Tancos e o SNS é muito mais incisivo. Por um lado, não pode comentar, segundo diz, o que é próprio de uma separação de poderes a que constitucionalmente está obrigado mas, por outro lado, comenta e palpita quando lhe é conveniente.

Sendo as coisas assim, não espanta que “quando for grande” se queira ser futebolista (como já ouvi a um inocente anjinho) ou político (quando crescidinho, como está comprovado e não havendo emprego bem pago). Qual é a profissão praticada pelos jovens deputados? Na enorme maioria, nenhuma.

             

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