As astronómicas
verbas de transferências futebolísticas e a rápida ascenção financeira e
profissional de alguns jogadores novinhos baralharam completamente as
aspirações juvenis. Hoje ser futebolista ou político na calha é o que está a
dar.
Antigamente, o
desejo de qualquer jovem era ser médico, advogado, engenheiro, arquitecto, economista.
A admissão à Universidade era um confessado objectivo, a preocupação de emprego
estável era grande e a motivação financeira fraca.
Esse país de
“doutores” transformou-se num país de “misteres” que, catedrática e televisivamente,
seringam diariamente o telespectador com interessantíssimas novidades e
explicações futebolísticas. O “esférico”, como eles dizem, passou a ser um instrumento
de enriquecimento garantido e rápido.
No entanto, Portugal
está, de acordo com as estatísticas mundiais, na primeira linha da corrupção. Que
vergonha.
Chegar-se a
político é um novo “canudo”, não universitário mas partidário. Faculta não só injustificáveis
proveitos financeiros - no salário, nos subsídios, nas pensões vitalícias, nas
viagens, nas ajudas de custo, etecetera – mas garante, também, poder. Poder
resultante de nepotismo e que, demasiadas vezes, conduz à corrupção.
Uma vergonha
denunciada por muitos mas em relação à qual os detentores do poder político
nada têm feito, desde o Presidente da República, à Assembleia da República, ao
Governo.
O cidadão vive
assim entre o orgulho no que interessa muito pouco e na vergonha no que é
importante numa “democracia de direito” como hoje se diz.
E onde está o
presidente Marcelo no meio de isto tudo? Continua no afã de não perder nenhuma
transmissão televisiva dos sucessos portugueses no desporto e limita-se a inofensivos
comentários aos vergonhosos comportamentos de membros do governo, de deputados,
de autarcas.
Já com Tancos e o
SNS é muito mais incisivo. Por um lado, não pode comentar, segundo diz, o que é
próprio de uma separação de poderes a que constitucionalmente está obrigado
mas, por outro lado, comenta e palpita quando lhe é conveniente.
Sendo as coisas
assim, não espanta que “quando for grande” se queira ser futebolista (como já
ouvi a um inocente anjinho) ou político (quando crescidinho, como está
comprovado e não havendo emprego bem pago). Qual é a profissão praticada pelos jovens deputados? Na enorme maioria, nenhuma.
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