sexta-feira, 28 de julho de 2017

O inferno em Portugal



Particulares adversas condições atmosféricas caracterizadas por muito altas temperaturas (acima dos 35ºC), vento fortíssimo (rajadas com mais de 70 km/h) de direcção variável e baixa humidade atmosférica, foram o catalisador da tragédia que Portugal sofreu no último mês e cujo fim não se antevê.
Começou tudo, há mais de um mês, na zona de Pedrógão Grande e após um tortuoso caminho, o fogo atacou Góis, Sertã, Mação e está agora em Nisa.
Mau ordenamento da floresta (principalmente de pinheiros e eucaliptos) que não é limpa e por isso acumula muito material combustível, deficiente coordenação de meios humanos e materiais, falta de eficazes comunicações, são algumas das causas para terem ardido em curto espaço de tempo um total que estimo em cerca de 80.000 hectares de floresta (o número oficial não foi divulgado e cada fonte de informação apresenta um número.).
No meio, no entretanto, o cidadão assiste revoltado, enojado, ao aproveitamento partidário da dor, do desespero, da raiva, dos que sofreram e dos que assistiram.
Há mais de 40 (quarenta) anos que o problema é discutido, “entusiasticamente” quando em cima do acontecimento, displicentemente quando este já está longe e escondido na fraca memória dos homens.
Em 2003 o país foi varrido por grandes incêndios mas que não atingiram a tremenda dimensão dos deste último mês. 
Em 2002 foi lançado concurso para um sistema de comunicações. Depois de vários acidentes de percurso foi feita em 2006 uma adjudicação ao consórcio SIRESP. O Estado, nós, pagámos pelo “brinquedo” 450 milhões de euros, embora haja quem diga que 50 milhões teriam bastado. Houve, é certo, em 2007, 2008 e 2010 renegociações para uma “Reposição do Equilíbrio Financeiro” (?) que provavelmente se poderiam resumir a um “tira-se daqui, põe-se ali”. Aquele sistema de comunicações falhou estrondosamente, que o digam bombeiros, GNR, câmaras municipais, aviação, exército e os diversos agentes da protecção civil.
Ainda há bem pouco tempo, no incêndio de Mação, o Secretário de Estado da Administração Interna sossegava o cidadão afirmando que o serviço estava a funcionar, com as intermitências naturais decorrentes da situação, tendo havido “apenas” uma interrupção de 2 horas…
Falta de meios é que julgo não ter havido: 2.000 operacionais no terreno, várias centenas de veículos, mais de uma dezena de meios aéreos e a amiga e pronta ajuda do país vizinho.
Que dizer? Que a partir de agora é que é?
Para uma mais completa informação, transcrevem-se em seguida algumas notícias da agência Lusa e artigos publicados na RR e no DN. 
“Mais de 50 concelhos de dez distritos do continente estão esta sexta-feira em risco “máximo” de incêndio, incluindo os de Nisa que está a ser afectada por dois fogos e que mobiliza mais de 600 operacionais. De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), várias dezenas de concelhos nos distritos de Castelo Branco, Faro, Portalegre, Santarém, Coimbra, Leiria, Guarda, Vila Real, Viseu e Bragança estão esta sexta-feira em risco “máximo” de incêndio. Além destes em risco “máximo” de incêndio, o IPMA colocou também em risco “muito elevado” e “elevado” vários concelhos dos 18 distritos de Portugal continental.”
(Agência Lusa, 28 de Julho.)
“A área ardida no incêndio de Pedrógão Grande é já de 41.000 hectares e equivale a quatro vezes a área de Lisboa (8.500 hectares), dez vezes a da cidade do Porto (4.200 hectares) e metade da área total da Região Autónoma da Madeira. Os dados, recolhidos pelo Sistema Europeu de Informação de Fogos Florestais (EFFIS), mostram que é o 11.º incêndio que mais pessoas matou desde 1900 e que é também o que mais área consumiu desde que há registo em Portugal. (…) o incêndio (Pedrógão Grande) terá consumido, em média, 10 mil hectares por dia. (…) matou 64 pessoas, feriu mais de 200 e fez mais de 150 desalojados.(…) começou em Escalos Fundeiros no concelho de Pedrógão Grande, no sábado, e alastrou-se aos concelhos de Figueiró dos Vinhos, Castanheira de Pera, Alvaiázere, Penela. (…). Na terça-feira, todas as atenções se voltaram para o município de Góis quando uma frente com 58 quilómetros de fogo contínuo obrigou 40 aldeias a serem evacuadas.
Estima-se que em Mação a área ardida tenha sido superior a 26.000 hectares. Total: quase 80.000 hectares em pouco mais de um mês, 10 (dez) vezes mais do que a área ardida esta semana no sul de França. Desde o início do ano o fogo fez desaparecer 120.000 hectares de floresta!

sexta-feira, 21 de julho de 2017

O caso do paiol de Tancos - Uma hipótese.



Conheci o coronel Rodrigo Sousa e Castro no norte de Moçambique, em Nangade mais concretamente.
Eu como alferes de engenharia integrado na operação “Nó Górdio”, ele capitão da CCS do batalhão lá sediado. Estávamos no princípio dos anos 70.
Na altura tínhamos grandes discussões políticas. Eu então na direita e defensor do regime e do Ultramar português, ele, sempre frontal, assumidamente do "reviralho". Despedimo-nos com amizade.
Em 1974 o ainda capitão Sousa e Castro fez parte do Conselho da Revolução e tendo-me cruzado com ele, em data que não sei precisar, em Galamares, trocámos breves e amigas palavras. Nunca mais o vi, excepto numa recente entrevista na televisão, mas a imagem de homem inteligente, corajoso e sério permaneceu no meu espírito.
Vem isto a propósito de um seu escrito na sua página do Facebook, que, pela sua pertinência, passo a transcrever.
 “E SE EM TANCOS NÃO TIVESSE HAVIDO NEM ASSALTO, NEM ROUBO, NEM FURTO?”
“Deixemos o pequeno buraco na rede da cerca do quartel e o arrombamento sem violência da porta do paiol como peças para finalizarmos o puzzle que nos “atormenta”.
1 – Todo o material em falta é material perecível, isto é, não existe uma única espingarda, metralhadora, revólver canhão ou lança mísseis no rol das faltas. Nem sequer um cinturão ou qualquer outra peça do fardamento e equipamento. Por outras palavras, e clarificando, perecível quer dizer que todo esse material em falta, era e sempre foi usado em exercícios militares de rotina ou imprevistos e gasto ali mesmo devendo em bom rigor ser abatido à carga, do paiol ou armazém onde foi requisitado logo após cada exercício. 
Era esta prática corrente e usual na tropa do meu tempo. Mas também havia graduados, oficiais, que muitas vezes passavam por cima das dotações estipuladas para cada exercício e descartavam os “resmungos” dos subordinados responsáveis pelo municiamento abusivo extra, com dichotes e palavrões. 
O resultado era quem tinha requisitado o material excedido no exercício não o abater e depois, raciocínio comum à época, “logo se veria”.
2 – Para esclarecer cabalmente a natureza “perecível” do material em falta é necessário desmitificar a forma ignorante com que muitos, e até alguns “experts”, quer em jornais quer nas TV´s, induziram na população, a ideia que o material em falta incluía armamento e, mais grave, mísseis. Desmontemos, pois, esta cabala para podermos prosseguir.
a) Da lista oficial de faltas consta uma munição, impropriamente chamada pelos tais “experts”, de lança míssil ou míssil, mas que se resume a uma granada antitanque, lançada de um tubo articulado que após o lançamento é descartável e não reutilizável, tal como acontece com o cartucho que contém a pólvora que provoca a saída duma bala. Tão simples como isto.
Na verdade é uma arma que só pode ser utilizada uma vez, tal como qualquer granada. Para quem se interessa por estas coisas trata-se de um filhote dos “panzerfaust” nazis, que até uma criança podia lançar. 
Acresce que esta arma, cuja sigla é LAW (“Light anti-armour weapon”) foi retirada do serviço em 1983, portanto há TRINTA E QUATRO ANOS e o seu fabrico descontinuado como agora se diz. Com o ridículo alcance de 200 metros e sem sistemas de guiamento autónomos foi naturalmente substituída por misseis de muito maior alcance, guiados por fio ou wireless através de lançadores esses sim, sistemas não descartáveis e de grande valor bélico e financeiro, como o míssil TOW ou o MILAN.
Presumo, até, que se alguém quisesse negociar no mercado internacional esta arma, não só não teria êxito, como seria alvo de chacota, incluindo dos rapazes do DAESH que estão armados até aos dentes com o armamento mais moderno que há.
Estando em uso no Exército anos e anos a fio fácil é admitir que toda a gente se estaria (…)(marimbando), para o seu consumo excessivo e para o acerto das cargas.
b) Todos os outros materiais em falta eram e são obviamente utilizados e consumidos integralmente em exercícios de treino.
3 – Antes de fechar o puzzle uma pergunta que julgo ser a pertinente face ao acontecimento:
– Se havia paióis na zona, vizinhos do “violado”, com certeza com armas sofisticadas, incluindo os tais misseis TOW e MILAN além de armamento de infantaria pelo menos com valor militar actual, porque foram os hipotéticos assaltantes abrir a porta do paiol com fraco valor? 
Não é por acaso que o comentário do secretário geral da NATO a este desaparecimento de material foi a consideração da sua irrelevância.
4 – Acabemos agora o puzzle juntando as ridículas circunstâncias do pseudo-roubo: o buraco na rede e o arrombamento discreto.
          
Coisa fácil de fazer para quem, acossado pela iminência da entrega do espólio e da prestação de contas das existências tenha sido impelido a optar pela diversão “naif”.
Boa sorte aos investigadores da PJ e PJM. 
Um bom domingo para todos os meus amigos do FB.”
Rodrigo Sousa e Castro
(Retirado do Facebook | Mural de Rodrigo Sousa e Castro).



Ora aqui está uma hipótese vinda de um militar muito experiente e, sobretudo, sério, sem desvios partidários que podem conduzir, na sua expressão máxima, à insinuação que a importância dada ao assalto é parte de uma conspiração contra o actual governo.
Tem, no entanto, uma fragilidade: é um “entalanço” dos comandantes das diferentes unidades sediadas em Tancos. As funções desses oficiais foram “suspensas” pelo CEME. Será que este cometeu um erro ao exonera-los “provisoriamente”? Não. Esses comandantes deveriam ter apresentado a sua demissão de livre vontade. Só e mais nada.

O teatro da manifestação de oficiais ofendidos “devolvendo” as suas espadas ao Sr. Presidente da República? Patético, como patéticas foram as declarações na televisão do aposentado militar promotor dessa manifestação. Afirmou repetidamente a componente “cerebral” da condição militar e confessou, com uma ingenuidade próxima da loucura, que aquela manifestação teria 3 (três) adesões efectivas embora com inúmeras mensagens de solidariedade…