terça-feira, 20 de dezembro de 2016

As guerras do século XXI




                                            
O que se passa com as comunidades cristãs em África, na Ásia, no Médio Oriente não tem sido devidamente reportado passando por isso quase desapercebido nos nossos meios de comunicação social. Claro que a questão dos refugiados, de enorme dimensão, também contribuiu para o desconhecimento do drama pela sua fortíssima componente social e política, na qual se misturam interesses dos EUA, da França, da Grã Bretanha, da Rússia, da Turquia, etc., e relegou para plano secundário o genocídio (porque é disso que se trata) dos cristãos naquelas zonas do Mundo.
Numa época de balanços, são elucidativos os seguintes dois exemplos da situação dos cristãos em 2017 no Iraque e na Síria. 
Em 2003 a população cristã no Iraque era de 2 milhões. Foi dizimada e hoje o seu número é de apenas 180.000 dos quais 100.000 foram obrigados a abandonar as suas casas.
Na Síria, a maior ameaça para os cristãos é o DAESH (e outras organizações terroristas a ele ligadas). Antes de 2011 os cristãos representavam 8% de uma população de 22 milhões. Hoje, cerca de metade abandonou o país.


Mas as guerras do século XXI não se limitam ao terrorismo no Terceiro Mundo. Estão aqui na Europa. A guerra deixou de ser entre Estados, é urbana e desenvolve-se na Europa, sob o nome de “terrorismo”, nomeadamente em Espanha, na França, na Alemanha, na Bélgica, no Reino Unido e onde mais? A Europa deixou de ter fronteiras interiores o que impossibilita uma vigilância que se julga imprescindível para um combate eficaz ao terror. O tratado de Schengen de 1985, que obriga 26 estados com uma população de 400 milhões e uma área de 4312099 km2, foi incorporado em 1999 nas leis da União Europeia. A livre circulação de pessoas nesta imensa área sem fronteiras impossibilita qualquer vigilância minimamente eficaz. A EU deveria analisar esta situação. A questão dos refugiados também não é clara: há joio entre o trigo.
Pelo seu interesse e oportunidade, transcrevem-se a seguir alguns extractos de uma tradução livre de um recente editorial de Thierry Desjardins. (Director-geral adjunto do “Figaro”, laureado da Academia francesa, prémio Alberto Londres 1975, prémio Louis Pauwels 2000).


“(…) Deflagrou uma nova guerra religiosa, desta vez à escala planetária. Os Islamitas massacram os cristãos no Egipto, no Iraque, nas Filipinas, na Indonésia, no Paquistão, na Nigéria, um pouco por todo o lado. (…) coptas (que significa “egípcios” e cujas igrejas datam muitos séculos antes das nossas catedrais) são massacrados em Alexandria e cristãos assassinados em Bagdade. (…). 
Aliás, o mesmo se pode dizer de todos os cristãos do Oriente sejam eles católicos (do rito de Antioquia, do rito sírio, como dos maronitas libaneses, do rito bizantino, do rito arménio, do rito de Alexandria) (…) ou dos ortodoxos (tenham o seu patriarcado em Istambul, em Alexandria, em Jerusalém ou em Damas), Todos eles estão “na sua casa” desde milénios, alguns falando o aramaico a língua de Cristo. Fazer deles os embaixadores do Ocidente, os representantes do capitalismo colonial é um absurdo (…).
Este ódio ao cristão ultrapassa em muito todos os problemas da fé. Ao atacar as igrejas, os padres, as religiosas, os fiéis, os islamitas querem derrubar a civilização ocidental (…), os Direitos do Homem, o progresso tal como o concebemos.
 



O século XX foi marcado pelo confronto Este-Oeste, o bloco comunista contra os países “livres”. Hoje, Marx, Lénine e Staline (…)  foram substituídos por Allah e o seu Profeta. O Corão tomou o lugar do Comunismo, a bandeira verde do Islão o da bandeira vermelha, os imãs pregadores das mesquitas o dos comissários políticos. O século XXI será uma guerra impiedosa porque as multidões imensas do Terceiro Mundo islamizado e os arrabaldes das nossas grandes metrópoles são, de maneira diferente, mais perigosas do que alguma vez foram os tanques do Pacto de Varsóvia. Já passou o tempo das cruzadas e as experiências no Afeganistão ou no Iraque (onde Saddam Hussein, que começa a ser recordado, sabia fazer respeitar o laicismo baasista) são, no mínimo, questionáveis.
De qualquer modo, não continuemos a fechar os olhos, a falar da “amizade islamo cristã”, de um “Islão à ocidental”, da “harmoniosa coabitação dos três monotéismos”. Sejamos intransigentes com as regras da nossa laicidade mas não nos deixemos arrastar nem pelo o estigma nem pela descriminação (…).
Se há uma lição que nunca deve ser esquecida é a de Munique.(…). 

Nunca deveremos tentar pactuar com os que nos declararam guerra.”

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