O que se passa com as comunidades cristãs em África, na Ásia, no Médio
Oriente não tem sido devidamente reportado passando por isso quase
desapercebido nos nossos meios de comunicação social. Claro que a questão dos
refugiados, de enorme dimensão, também contribuiu para o desconhecimento do
drama pela sua fortíssima componente social e política, na qual se misturam interesses
dos EUA, da França, da Grã Bretanha, da Rússia, da Turquia, etc., e relegou para plano secundário o genocídio (porque é disso que se trata) dos cristãos
naquelas zonas do Mundo.
Numa época de balanços, são elucidativos os seguintes dois exemplos da
situação dos cristãos em 2017 no Iraque e na Síria.
Em 2003 a população cristã no Iraque era de 2 milhões. Foi dizimada e
hoje o seu número é de apenas 180.000 dos quais 100.000 foram obrigados a
abandonar as suas casas.
Na Síria, a maior ameaça para os cristãos é o DAESH (e outras
organizações terroristas a ele ligadas). Antes de 2011 os cristãos
representavam 8% de uma população de 22 milhões. Hoje, cerca de metade abandonou o país.
Mas as guerras do século XXI não se limitam ao terrorismo no Terceiro
Mundo. Estão aqui na Europa. A guerra deixou de ser entre Estados, é urbana e desenvolve-se
na Europa, sob o nome de “terrorismo”, nomeadamente em Espanha, na França, na
Alemanha, na Bélgica, no Reino Unido e onde mais? A Europa deixou de
ter fronteiras interiores o que impossibilita uma vigilância que se julga
imprescindível para um combate eficaz ao terror. O tratado de Schengen de 1985, que obriga 26
estados com uma população de 400 milhões e uma área de 4312099 km2, foi incorporado
em 1999 nas leis da União Europeia. A livre circulação de pessoas nesta imensa área
sem fronteiras impossibilita qualquer vigilância minimamente eficaz. A EU deveria
analisar esta situação. A questão dos refugiados também não é clara: há joio entre o trigo.
Pelo seu interesse e oportunidade, transcrevem-se a seguir alguns
extractos de uma tradução livre de um recente editorial de Thierry Desjardins. (Director-geral
adjunto do “Figaro”, laureado da Academia francesa, prémio Alberto Londres
1975, prémio Louis Pauwels 2000).
“(…) Deflagrou uma nova guerra
religiosa, desta vez à escala planetária. Os Islamitas massacram os cristãos no
Egipto, no Iraque, nas Filipinas, na Indonésia, no Paquistão, na Nigéria, um
pouco por todo o lado. (…) coptas (que significa “egípcios” e cujas igrejas
datam muitos séculos antes das nossas catedrais) são massacrados em Alexandria e
cristãos assassinados em Bagdade. (…).
Aliás, o mesmo se pode dizer de
todos os cristãos do Oriente sejam eles católicos (do rito de Antioquia, do
rito sírio, como dos maronitas libaneses, do rito bizantino, do rito arménio,
do rito de Alexandria) (…) ou dos ortodoxos (tenham o seu patriarcado em
Istambul, em Alexandria, em Jerusalém ou em Damas), Todos eles estão “na sua
casa” desde milénios, alguns falando o aramaico a língua de Cristo. Fazer deles
os embaixadores do Ocidente, os representantes do capitalismo colonial é um
absurdo (…).
Este ódio ao cristão ultrapassa em
muito todos os problemas da fé. Ao atacar as igrejas, os padres, as religiosas,
os fiéis, os islamitas querem derrubar a civilização ocidental (…), os Direitos
do Homem, o progresso tal como o concebemos.
O século XX foi marcado pelo confronto
Este-Oeste, o bloco comunista contra os países “livres”. Hoje, Marx, Lénine e
Staline (…) foram substituídos por Allah
e o seu Profeta. O Corão tomou o lugar do Comunismo, a
bandeira verde do Islão o da bandeira vermelha, os imãs pregadores das mesquitas o dos comissários
políticos. O século XXI será uma guerra
impiedosa porque as multidões imensas do Terceiro Mundo islamizado e os arrabaldes das
nossas grandes metrópoles são, de maneira diferente, mais perigosas do que alguma vez foram os
tanques do Pacto de Varsóvia. Já passou o tempo das cruzadas e as
experiências no Afeganistão ou no Iraque (onde Saddam Hussein, que começa a ser
recordado, sabia fazer respeitar o laicismo baasista) são, no mínimo, questionáveis.
De qualquer modo, não continuemos a
fechar os olhos, a falar da “amizade islamo cristã”, de um “Islão à ocidental”, da “harmoniosa
coabitação dos três monotéismos”. Sejamos intransigentes com as regras da
nossa laicidade mas não nos deixemos arrastar nem pelo o estigma nem pela descriminação (…).
Se há uma lição que
nunca deve ser esquecida é a de Munique.(…).
Nunca deveremos tentar
pactuar com os que nos declararam guerra.”
Sem comentários:
Enviar um comentário