segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

O homem e o clima de amanhã.

Há quase 20 anos que nas Nações Unidas é debatida a questão do aquecimento global provocado pelas emissões de gases com efeito de estufa (GEE): as emissões de CO2 resultantes da utilização dos combustíveis fósseis (mais de 80% do total) e as emissões de metano e do protóxido de azoto. 
Para além dos GEE também é muito significativa, para o aquecimento global do planeta, a enorme desflorestação levada a efeito pelo homem.
As atenções estão agora centradas na COP 21 que está a decorrer em Paris, com múltiplas opções que deverão ser objecto de decisão dos países participantes até ao final da Conferência em 11 de Dezembro (2015).
Note-se que as alterações climáticas são um processo lento, progressivo e, em certa medida, irreversíveis: o que hoje for feito só será significativo daqui a duas gerações e não remediará o mal do passado. Reduzir as emissões de CO2, em nunca menos de 2ºC, tem como medida fundamental e incontornável uma transferência para outras fontes de energia, em particular as energias renováveis e a energia nuclear. Esta transferência tem custos e levanta interrogações económicas baseadas no parâmetro “custo-benefício”, o que é, de facto, a questão central porque o custo é certo e de curto prazo e o benefício é incerto e sempre de longo prazo.
Em termos económicos, pode afirmar-se que o investimento de um processo de alteração para aquelas fontes de energia, menos poluentes e com maior eficácia, será tanto menor quanto maior forem as taxas de juro de hoje e mais distante o horizonte temporal da meta a atingir.
O homem-económico, o homem-político, embora tenha a consciência de ter arruinado a natureza do nosso planeta, tal como a conheceram e usufruiram os nossos avós, afirma, por pura conveniência, que sem nada ser feito a natureza se adaptará às barbaridades por ele praticadas e que o futuro sendo certamente diferente não será tão catastrófico como o homem-cientista alerta e comprova. 
Tudo começou em 1988 (há quase 30 anos) na Conferência de Toronto, seguida da Conferência da ONU Eco-92 no Rio de Janeiro. Era proposto que os pses-membros tivessem a obrigação de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em pelo menos 5,2% em relação aos níveis de 1990 e no período de 2008 a 2012. Para que esse protocolo entrasse em vigor era necessária a sua ratificação por 55 países que juntos produzissem 55% das emissões (continua a ser a condição legal imperativa).
Seguiu-se, então, em 1997 o Protocolo de Quioto que só entrou em vigor 8 anos mais tarde, em 16 de Fevereiro de 2005, após a Rússia o ter ratificado em 2004. 
Se tivesse sido então implementado, a temperatura do globo ter-se-ia reduzido de 1,4ºC a 5,8ºC até 2100, valores mesmo assim contestados como insuficientes pela comunidade científica.
Os EUA (segundo maior emissor de GEE) negaram-se a ratificar o Protocolo,  algumas nações europeias admitiram então que não conseguiriam atingir as metas do Protocolo e que a redução dos GEE seria em 2010 apenas de 1%  e 9 dos 15 países europeus signatários do Protocolo viram as suas emissões aumentar entre 20% e 70% (!).
O Protocolo expirou em 2012 e aqui estamos com o Mundo cada vez mais à beira de uma catástrofe ecológica nos próximos 50 anos se não antes. Os sinais aí estão, entre outros o degelo nos polos, inundações, tempestades e secas extremas, como é o caso do Lago do Tchad que já foi o maior lago de África e que hoje ocupa um área inferior a 10% da sua área em 1960 (23.000 km2 em 1963, 4.000 km2 em 2001, 2.500 km2 em 2008). https://pt.wikipedia.org/wiki/Lago_Chade
No passado dia 12 de Dezembro foram publicados os termos do acordo da Cimeira de Paris. É um texto em inglês com 31 páginas que incluem os 29 artigos do Acordo propriamente dito.

No seu Artigo 1 é declarado “Suster o aumento da temperatura média global bem abaixo de 2ºC acima dos níveis pré-industriais e continuar os esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, reconhecendo que tal reduziria significativamente os riscos e impactos da mudança climática”.
Foi muito e sorridentemente aplaudido.
“Continuar os esforços”? Quais? O “acordo” continua a ser imperativo só se 50% dos países que etc...
Enfim, veremos se, mais uma vez, os interesses políticos e económicos não se irão sobrepor às exigências científicas as quais se desenvolvem apenas pela preocupação do equilíbrio climático do planeta e, portanto, com o bem-estar do homem que nele habita.

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