Foi-me dito que os blogues, por norma estabelecida não sei por quem em particular mas certamente pelos donos deles, têm que ser "originais". É como nas teses para doutoramento: têm que ser originais. A questão é de saber como é que tal é possível num mundo "supermaioritariamente" vulgar.
Lembra-me uma afirmação de um professor catedrático da Universidade Técnica de Lisboa (hoje, e bem a meu ver, não há universidades técnica e clássica há apenas a de Lisboa) que eu ouvi, ainda aluno, quando da arguição de uma tese de doutoramento no IST: “na sua tese o que é bom não é original e o que é original não é bom” e sorria amigavelmente neste “jogo floral” consciente de que o bom original quando de dimensão importante fica registado na história da ciência.
Os normais se querem ser doutores (ambição de muito imbecil) têm que se limitar ao original corrente o qual, geralmente, encontra-se no domínio do suficiente.
Por outro lado, acho que um dos objectivos fundamentais de um blog é, entre outros, a transmissão de conhecimentos e de informação. Assim, transcrevo, com deleite e a devida vénia, um texto de Ricardo Araújo Pereira sobre o verbo “falir” que além de ser original é muito bom.
"E quando o
leitor pensava que já tinha ouvido tudo acerca da crise, de repente fica a
saber que, gramaticalmente, é muito difícil que Portugal vá à falência. E,
enquanto for gramaticalmente impossível, eu acredito. Justifico esta ideia com
a seguinte teoria fascinante: normalmente, considera-se que o verbo falir é
defectivo. Significa isto que lhe faltam algumas pessoas, designadamente a
primeira, a segunda e a terceira do singular, e a terceira do plural do
presente do indicativo, e todas as do presente do conjuntivo. Não se diz
"eu falo", "tu fales", nem "ele fale". Não se diz
"eles falem". Todos os modos e tempos verbais do verbo falir se
admitem, com excepção de quatro pessoas do presente do indicativo e todo o
presente do conjuntivo. Em que medida é que isto são boas notícias? O facto de
o verbo falir ser defectivo faz com que, no presente, nenhum português possa
falir. Não é possível falir, presentemente, em Portugal. "Eu falo" é
uma declaração ilegítima. Podemos aventar a hipótese de vir a falir, porque
"eu falirei" é uma forma aceitável do verbo falir. E quem já tiver falido
não tem salvação, porque também é perfeitamente legítimo afirmar: "eu
fali". Mas ninguém pode dizer que, neste momento, "fale".
Acaba por ser justo que o verbo falir registe estas falências na conjugação. Justo e útil, sobretudo em tempos de crise. Basta que os portugueses vivam no presente - que, além do mais, é dos melhores tempos para se viver - para que não "falam" (outra conjugação impossível). Não deixa de ser misterioso que a língua portuguesa permita que, no passado, se possa ter falido, e até que se possa vir a falir, no futuro, ao mesmo tempo que inviabiliza que se "fala", no presente. Se eu nunca "falo", como posso ter falido? Se ninguém "fale", porquê antever que alguém falirá? Talvez a explicação esteja nos negócios de import/export. Nas outras línguas, é possível falir no presente, pelo que os portugueses que têm negócios com estrangeiros podem ver-se na iminência de falir. Mas basta que os portugueses não falem (do verbo falar, não do verbo falir) acerca de negócios com estrangeiros para que não "falam" (do verbo falir, não do verbo falar). Eu tenho esse cuidado, e por isso não falo (do verbo falir e do verbo falar).
Bem sei que o prof. Rodrigo Sá Nogueira, assim como outros linguistas, se opõe a que o verbo falir seja considerado defectivo. Mas essa é uma posição que tem de se considerar antipatriótica. É altura de a gramática se submeter à economia. Tudo o resto já se submeteu.".
Verbo defectivo…a gramática de hoje não é a do meu tempo. Desconhecia a existência de verbos defectivos. Coisas defectivas sim: coisas defeituosas, a que falta qualquer coisa.
Por exemplo, a ONU, a CE, a Troika, eteceteraetal e, também, os governos do presente e do próximo passado, os partidos do presente e quase certamente do próximo futuro e os políticos de hoje.
Acaba por ser justo que o verbo falir registe estas falências na conjugação. Justo e útil, sobretudo em tempos de crise. Basta que os portugueses vivam no presente - que, além do mais, é dos melhores tempos para se viver - para que não "falam" (outra conjugação impossível). Não deixa de ser misterioso que a língua portuguesa permita que, no passado, se possa ter falido, e até que se possa vir a falir, no futuro, ao mesmo tempo que inviabiliza que se "fala", no presente. Se eu nunca "falo", como posso ter falido? Se ninguém "fale", porquê antever que alguém falirá? Talvez a explicação esteja nos negócios de import/export. Nas outras línguas, é possível falir no presente, pelo que os portugueses que têm negócios com estrangeiros podem ver-se na iminência de falir. Mas basta que os portugueses não falem (do verbo falar, não do verbo falir) acerca de negócios com estrangeiros para que não "falam" (do verbo falir, não do verbo falar). Eu tenho esse cuidado, e por isso não falo (do verbo falir e do verbo falar).
Bem sei que o prof. Rodrigo Sá Nogueira, assim como outros linguistas, se opõe a que o verbo falir seja considerado defectivo. Mas essa é uma posição que tem de se considerar antipatriótica. É altura de a gramática se submeter à economia. Tudo o resto já se submeteu.".
Verbo defectivo…a gramática de hoje não é a do meu tempo. Desconhecia a existência de verbos defectivos. Coisas defectivas sim: coisas defeituosas, a que falta qualquer coisa.
Por exemplo, a ONU, a CE, a Troika, eteceteraetal e, também, os governos do presente e do próximo passado, os partidos do presente e quase certamente do próximo futuro e os políticos de hoje.
No passado os políticos eram, na sua maioria,
experientes, não viviam da política porque exerciam uma profissão e tinham, em
geral, uma ideia da causa pública. Foram substituídos por novatos incompetentes, inexperientes, sem profissão, preocupados
apenas com a sua ascenção social e política e com a situação das suas finanças.
Criados nas "jotas", tendo como objectivos o controlo das máquinas
partidárias e o apadrinhamento de interesses, comandam hoje e provavelmente amanhã, directa ou indirectamente,
o governo de Portugal. É ouvi-los e vê-los a “botar sabedoria” nos órgãos de
comunicação social, sem o mínimo grão de humildade. Só à estalada.
Esta
miserável situação partidária, que afecta muito em particular os partidos do
denominado "arco do poder", mereceu a rejeição dos cidadãos como é
traduzido por uma análise dos resultados numéricos destas eleições autárquicas:
PS/PSD/CDS obtiveram 4.324.534 votos em 2009 mas nestas eleições perderam no
seu conjunto mais de um milhão e quinhentos mil votos e a abstenção de 47,4%
foi a maior dos últimos trinta anos (28,6% em 1982, 40,99% em 2009).
O Grupo de Cidadãos
Independentes recolheu 6,90% dos votos obtendo, assim, o quarto melhor
resultado à margem de qualquer partido;
Os votos brancos e nulos (2,97% em 2009; 6,82% nestas eleições, ou seja, 130% mais)
tiveram uma expressão dupla dos votos recolhidos pelo CDS (3,04%);
O PSD obteve
apenas 16,5% dos votos e as coligações de outros partidos com o PSD recolheram
14,74% de votos, quase tantos como os obtidos pelo PSD;
O resultado obtido pelo
PS (36,25%) foi em percentagem de votos inferior ao de 2009 (37,67%), o que
“sabe a pouco” e está longe de poder ser considerado como uma vitória
esmagadora.
Tendo em atenção o valor record da abstenção, o aumento exponencial
dos votos brancos e nulos (os quais em conjunto representam um aumento de 10,3% em relação aos resultados de 2009), a vitória das listas de independentes (três conjuntos que totalizam 61,12% do número total de eleitores inscritos), a derrota do
PSD e o semi sucesso do PS, de que côr é o cartão mostrado pelos eleitores aos
partidos? Vermelho e isto sem ser necessário referir a clara vitória da CDU
(11,06%)...
A este propósito consultar: www.eleicoes.mj.pt
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