terça-feira, 17 de setembro de 2013

A Sagrada Congregação



A Inquisição, cuja acção preencheu as páginas mais negras da Igreja Católica, data do século XII como resposta aos movimentos de oposição a um cristianismo cuja imagem era a da riqueza dos mosteiros e o luxo do clero.
O programa desses movimentos, dos quais se destacam os “Cátaros” (do grego katharoi: os puros) também designados por “Albigenses” (do nome da cidade francesa de Albi), tinha como mote: “pregação itinerante e pobreza apostólica”. Encontraram apoio sobretudo nas regiões mais desenvolvidas do sul da França e do norte e centro da Itália.
O Papa Inocêncio III ordenou uma cruzada contra os cátaros, militarmente comandada por Simon de Monfort, e nomeou seu delegado Arnaud de Amaury. No saque da cidade de Béziers, cátaros e católicos refugiaram-se na igreja local e quando Amaury foi questionado sobre como reconhecê-los respondeu "matai-os todos que Deus saberá distinguir uns dos outros".
Os “heréticos” depois de julgados pelas autoridades religiosas eram entregues ao poder secular para punição a qual era, em geral, a morte na fogueira ou, no mínimo, o corte da língua.
O papa Inocêncio IV autorizou a Inquisição a recorrer à tortura a fim de obter a confissão. Tendo hoje desaparecido as práticas ignominiosas do passado (já não há torturas nem fogueiras), aquele tribunal subsiste nos nossos dias após várias mudanças de nome.
Foi o Papa Paulo VI que lhe deu o nome que hoje tem: “A Sagrada Congregação para a Doutrina e da Fé”. Esta “sagrada congregação” continua a proceder, quando para tal é chamada, contra os mais elementares princípios da Justiça ocidental e da “Declaração Universal dos Direitos do Homem”.
De facto: o processo é secreto; os informadores permanecem no anonimato; as testemunhas e peritos não são interrogados pelas duas partes; os documentos do processo são confidenciais; os acusadores são simultaneamente juízes; não existe recurso para um tribunal independente; a única verdade é a da igreja católica.
O actual prefeito da “Sagrada Congregação” é o bispo Gerhard Ludwig Muller. De Novembro de 1981 a Abril de 2005 foi o cardeal Joseph Ratzinger. Nenhuma relação existe entre a mensagem de Jesus da Nazaré e este tribunal.
Pelo seu passado ele é um insulto ao Evangelho. 
Ref.: “O Cristianismo” de Hans Kung (sacerdote católico, filósofo, teólogo, nomeado pelo Papa João XXIII como consultor para o Concílio Vaticano II, colega de Joseph Ratzinger.). 
Em Portugal, D. Manuel I, para cumprir o acordo de casamento com Maria de Aragão, pediu para que fosse instituída a Inquisição em todas as regiões do Império Português (23 de Maio de 1536). Foi decretada uma lei que proibia a todos de apedrejarem, cuspirem, ou insultarem os réus e os condenados, contudo exceptuavam-se as crianças que apedrejavam de forma "desculpável". Pela bula Cum ad nihil magis, publicada em 22 de Outubro desse ano, a população era convidada a denunciar os casos de heresia de que tivesse conhecimento.
Em 1539 o cardeal D. Henrique, irmão de D. João III, tornou-se inquisidor geral do reino.
A Inquisição foi extinta gradualmente ao longo do século XVIII mas só em 1821 as Cortes Gerais decretaram a sua extinção.


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