A decisão do actual Governo da construção no
Montijo do Novo Aeroporto de Lisboa (NAL) ressuscitou a questão da ampliação do aeroporto da Portela e de o manter associado a mais um.
O problema da Portela, dada a importância que tem,
não foi
descurado nos muitos estudos realizados até à data.
Trata-se de expandir ou de manter ou não, um
aeroporto no interior da cidade com um tráfego de 29 milhões
de pessoas em 2018 (acréscimo de 8,9%, em termos homólogos) e “interdito” no período nocturno, de
modo a garantir o descanso de milhares de lisboetas (menos de 5 movimentos por hora, das 22h às 6h da madrugada).
Para o estudo do problema foram contratados
consultores com experiência internacional: a SARC (firma americana)
e o IDGW (consórcio luso-alemão) recomendam em 1972 o sítio de Rio Frio, a Tams Profabril em
1982 avalia as localizações da Ota, Porto Alto e Rio
Frio e, em 1994, um extenso e detalhado estudo da ANA considera
o local de Rio Frio como “o único dispondo de área (…) sem qualquer restrição para ampliações futuras (…) de
expansão até 4 pistas paralelas”, classifica a alternativa
de Montijo como a menos dispendiosa e aconselha uma desactivação da Portela.
Em 1999, os “Aeroports de Paris” (ADP) escolhem Rio Frio como a melhor solução. Esta última recomendação foi, no entanto, rejeitada por decisão
de 5 de Julho de 1999 do Ministro do Ambiente que optou, sem qualquer estudo, por
uma localização na Ota.
De sublinhar que o consultor ADP concluía que uma expansão do aeroporto da Portela só deveria constituir
uma solução provisória e que uma “Dual Airport
Operation”, ou seja, o “Portela-mais-um”, não tinha justificação
em termos de custos, por falta de tráfego suficiente.
De
facto e como consta no seu relatório, “para que não fosse descurada nenhuma solução”, sublinhava a relação demasiado importante entre os tráfegos doméstico e internacional
e concluía que se deveria transferir, o mais
rapidamente possível, a Portela para um novo aeroporto.
Quanto à expansão da Portela, os ADP, assinalava as expropriações necessárias, o realojamento de
milhares de pessoas, a segurança da cidade, os níveis de ruído
nos bairros do norte de Lisboa e consideram a “SuperPortela” com impactes ambientais elevadíssimos e uma capacidade de expansão não compatível com a procura previsível.
Ficou também demonstrado que a hipótese da Portela
sofre no cenário “mais-um” dos males de um insuficiente tráfego global e de um
mau binómio custo-benefício. Idêntica conclusão é apresentada em 2004 pela Parsons, no
âmbito da avaliação de uma estratégia de desenvolvimento
da capacidade do aeroporto da Portela.
Passaram-se entretanto 20 anos e tudo ficou na
mesma, embora, após os estudos da consultora Parsons e de
ampla e polémica discussão pública, o sítio de Alcochete tivesse ficado definido, com o aval do LNEC, como a melhor localização.
Como se verifica, falta de estudos é que não houve
e todos eles apontam, em 1972, 1982, 1999 e 2004 para a mesma conclusão: a necessidade
de um novo e único aeroporto, não sendo a Portela uma solução a considerar mesmo
no médio prazo.
Hoje, ignorando todos os estudos, o governo ainda defende
a manutenção do aeroporto da Portela e outros, pulando de um sítio para outro,
passam da Ota para o Montijo e, recentemente, deste para Alverca.
Conselho:
estudem, estudem, leiam, leiam o que há trinta e cinco anos especialistas do ramo concluíram.
Não há plano B para a rejeição do Montijo? Já está tudo decidido? E quando
a “Portela+1” se revelar insuficiente? Tanto a
Portela, como o Montijo ou Alverca não permitem qualquer expansão!
“Portela+1”? Como é possível com tantos estudos
pagos pelo contribuinte?
Tudo indica não se
dever insistir na ilusão de uma ampliação da Portela,
a qual pela sua repetição só pode hoje resultar de interesses partidários ou regionais.
Tudo deve ser cabalmente esclarecido, para que uma decisão não suscite futuras críticas por falta de avaliação séria de cenários pertinentes. Por outro lado nada deve
ser repetido por economia de tempo e de dinheiros.
A verdade demonstrada é que as insuficiências da
Portela não têm cura, incluindo uma sua associação ao Montijo ou a Alverca ou a qualquer outro sítio.
Que se avance já com a construção faseada de um novo
aeroporto em Alcochete ou em Rio Frio e que não se esbanjem mil milhões de euros com a solução do
Montijo, solução de médio prazo porque incapaz, tal como Alverca, de sustentar uma muito provável e inevitável expansão.
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