segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Os incêndios e as praias fluviais de Marcelo





          
Para os catastrofistas assinala-se que Portugal não é excepção.
Recordem-se os recentes incêndios. Na Califórnia (cuja resolução só se prevê possível em Setembro) e na Grécia ("horrível tragédia é o adjectivo que me ocorre), para não referir Suécia, Inglaterra, Espanha. Portugal, com 27.000 hectares ardidos até à data, está no topo da tabela europeia.
O incêndio na Grécia, pelas suas trágicas consequências, não deixou de impressionar fortemente. Morreram pessoas afogadas na sua fuga no mar ou no impasse de uma alta arriba da qual se atiraram para a segurança desse mesmo mar.
Um horror cuja comparação com o que ocorreu no ano passado em Pedrógão e hoje em Monchique não deve ser feita.
O que ocorreu e ocorre no enorme incêndio em Monchique, no Algarve, deveria levantar interrogações e, também, delinear soluções. Difíceis? Sem dúvida, se o não fossem não haveria “um problema”, mas que não se podem limitar a rezas para alteração das condições climáticas ou a mobilizar batalhões de meios humanos e materiais.
O "problema" tem factores determinantes e evidentes: a natureza do meio arbóreo (cuja alteração levará uma geração) e a flagrante ausência de acessos ao interior de uma floresta implantada numa região de orografia montanhosa, muito favorável à progressão das chamas. 
Que estão mobilizados mais de 1140 efectivos, 350 viaturas e 14 meios aéreos. Impressionante? Irrelevante? Impressionante à nossa escala mas não quando se comparar com o incêndio na Califórnia que dura à 3 semanas. Irrelevante a meu ver: podia duplicar-se os meios que o resultado seria provavelmente o mesmo.
Os especialistas que se pronunciem numa base técnica e não politicamente correcta. 
Que a prioridade é, reafirmando o evidente (para quê? à laia de justificação?), a salvaguarda de vidas, mas essa salvaguarda é indissociável de um combate eficaz às chamas!
Não é na natureza dos meios de combate que reside a solução, é na coordenação e na correcta afectação dos meios de combate e, sobretudo, na prevenção.
Que sim, mas o que foi feito desde o ano passado? Alertou-se a população pelos mais variados meios. Pelos jornais, pela televisão, etc. Eu próprio recebi um SMS com um número de alerta 808..., errado porque deveria ter sido 800...(o outro número é o de uma empresa de reparação de vidros de automóvel).
Dizem que tais avisos reduziram significativa e comparativamente o número de ignições. Importa? É relevante? Pelas actuais consequências não, mas os peritos que se pronunciem.
O enorme e incontrolável fogo ainda lá está a esta hora numa mancha verde contínua, com vales de 500 m e inacessível aos meios de combate terrestres. Inacessível…Esta situação não acendeu luzes vermelhas nos responsáveis da protecção civil?
Que não, lembrou um especialista em combate de incêndios florestais que elaborou um estudo sobre os fogos ocorridos em 2012 na região de Tavira (ardeu um terço do Concelho) no qual sublinhava a necessidade de se abrir no interior das florestas uma rede de acessos.
Os anos passaram e o interior da floresta continua hoje inacessível, impenetrável a meios humanos e mecânicos.
Mas, invocam os poderes, governamentais e não só - embora tenham ardido cerca de 20 mil hectares de floresta (vão arder muitos mais se as condições meteorológicas não se alterarem), armazéns, carros e, provavelmente, habitações e tenham que ter sido evacuadas aldeias - salvaram-se vidas com as novas orientações dadas pela protecção civil (afirmação de natureza essencialmente política e eleitoral). E os 6 desgraçados jovens que fugiram do incêndio de Estremoz? Cinco em estado muito grave. Fugiram da habitação, os carros arderam e eles foram também ardendo pelo caminho. Um horror.
Tão doloroso e trágico como na Grécia.
Há quem faça comparações favoráveis com o que ocorreu em 2017, mas nada, absolutamente nada há a fazer contra temperaturas acima dos 30º, ventos superiores a 30 km/h e humidade do ar inferior a 30%, numa floresta inacessível e constituída por materiais altamente combustíveis como são as resinosas, os eucaliptos, o mato (atenção: os eucaliptos são desculpa fácil mas apenas isso).
Absolutamente nada a fazer com umas condições de tempo desfavoráveis (sobretudo o vento forte), quando a orografia muito montanhosa não tem, no seu interior qualquer tipo de acesso?
A propósito de acesso, está garantido o do professor Marcelo à próxima presidência. Monchique ardia desde 6ª feira e ele, sorridente como sempre, banhava-se no Domingo nas praias fluviais (Nandufe, Tondela, Arganil) do Centro devastado pelos incêndios de 2017.
Festinhas no bebé, beijocas e selfies com os escuteiros, turistas, meninas e senhoras. 
Ele, segundo afirmou, acompanha o incêndio em Monchique à distância "para não atrapalhar"...
O homem é assim e, como diria o Eça, não tem a noção da salada. Vai ser reeleito porque é daquilo que o povo gosta.
Que se em 2018 se repetisse o que ocorreu em 2017 não haveria uma recandidatura ao cargo? Quem disse? O professor Marcelo.
Monchique, Marvão? A tragédia de Estremoz? Minudências, está tudo em comparação melhor.

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