Em 2017, os vergonhosos acontecimentos que assolaram este país foram diários, semanais, mensais.
Corrupção,
nepotismo, mentira, roubo, incompetência, são alguns dos carimbos na acção
política, financeira, económica, empresarial. Claro que em 2017 nem tudo foi
reprovável ou criminoso. Houve outros acontecimentos, uns enormemente trágicos
e outros bons.
A infernal e dupla tragédia dos incêndios vai marcar tragicamente e durante
muito tempo terras e gentes. Como foi possível esta enorme catástrofe, misto de
condições atmosféricas anormais e de impreparação no limite da incompetência de
organismos e autoridades que têm como obrigação primeira a segurança do povo e
dos seus bens? Houve inquéritos, peritagens e pareceres diversos que deixaram
muitas dúvidas e desconfianças. Os bombeiros voluntários foram de uma dedicação
inexcedível e merecem a gratidão de todos.
Depois, o bom, o muito bom. A situação da economia e das finanças que,
graças ao novo governo, deu uma volta de 180º, inicialmente muito criticada
pelo “reviralho”, com resultados só vistos há mais de quinze anos e nos quais
poucos acreditavam. Pelos vistos, a nova política económica da “Geringonça” funcionou
para despeito confrangedoramente aparente e pouco louvável da oposição.
Nos “diversos” negativos podem referir-se a banca, os paióis das forças
armadas, as tricas parlamentares e futebolísticas, o jantar no Panteão.
Houve ainda outros acontecimentos, também negativos, aos quais só
recentemente se deu uma certa relevância.
Por exemplo a IPSS “Raríssimas”, na qual um ex-secretário de Estado está
alegadamente envolvido; as licenciaturas reivindicadas por responsáveis da
protecção civil que se revelaram falsas; elementos da família (pais e irmão) de
um ex-secretário de Estado e ex-quadro do BES que não sendo funcionários da
empresa receberam 54.000 euros do saco azul
daquele grupo através de uma conta offshore; a inacreditável e irresponsável
participação financeira (200 milhões de euros) da Misericórdia no Montepio em provável estado de pré-falência.
Dado que a verdade ainda que venha sempre ao de cima leva o seu tempo, julgo
que esta procissão ainda vai no adro.
Tudo isto sob o olhar incompetente ou distante das mais variadas
governações, supervisões e fiscalizações.
Ninguém nos meios político, mediático, desportivo ou empresarial denunciou
em devido tempo fosse o que fosse. Nem mesmo o Sr. Presidente, que comenta o
tudo e o nada, está a conseguir garantir um são funcionamento das instituições
nacionais e parece ignorar que a sociedade sob a sua alta chefia está doente.
A culpa é sempre dos outros, mesmo que estes sejam sempre vizinhos chegados.
A culpa morrerá solteira e um “como sempre” não consola.
A estratégia de afectos é confrangedora pela sua total irrelevância social
e política. Chegará o tempo em que os “afectos” levantarão sobrolhos e
suscitarão sorrisos trocistas.
“Afecto”, palavra que deveria ser eleita como a do ano.
Esta sociedade, escandalosamente endogâmica nas esferas do poder político, deveria
ser objecto de mais severidade, de mais exigência. Com “afectos” tudo ficará na
mesma se não pior. É como na educação das crianças: respeito e uma boa palmada
em tempo certo, diálogo ôco e beijinhos é que não.
Então o que se pode fazer e quem é que tem o poder para o fazer?
Antigamente, durante séculos havia uma entidade que o tinha: as forças armadas,
cuja acção era catalisada e potenciada pelo povo. Hoje, vale rigorosamente zero.
Os portugueses estão de pés e mãos atados. A soberania está entregue a
terceiros que de Portugal nada entendem ou pouco sabem. Mas tudo tem o seu
preço e escolheu-se, não tão democraticamente como se afirma e se pretende
fazer crer, o que hoje se tem e que aflige os que estão atentos e de olhos
abertos.
A “Europa” há muito que manda em tudo, na moeda, nas finanças, na economia,
na agricultura, nas pescas, nas forças armadas. Em tudo, e os portugueses
inclinam-se porque, infelizmente, andaram demasiadas vezes de mão estendida.
Isto tem que dar uma volta. Tem que se aumentar o nível de exigência na
família, no trabalho e na escola e alterar radicalmente os métodos de
governação da coisa pública.
Existe um problema de educação e, também, uma desadequação à realidade do regime
político.
A actual Constituição já deu o que tinha a dar. O regime parlamentar já
não serve e não está, claramente, no ADN do povo português.
Basta analisar os períodos de decadência ou de confusão e os de sucesso,
ordem político-social e progresso que Portugal viveu ao longo dos seus 1300
anos de existência. Os primeiros, sob a égide de fracos chefes (“os fracos reis
fazem fraca a forte gente”), os segundos sob o primado de uma autoridade central competente e forte.
Hoje, o regime parlamentar não passa de um numeroso grupo de personagens,
com inúmeras benesses pagas pelo cidadão contribuinte, que periodicamente
participam, por vezes sonolentamente, em sessões ordinárias e também em
comissões de inquérito das quais nada resulta.
É assim que se quer continuar a ir?
Tudo está nas mãos do povo, que só se revolta quando manipulado pelos
sindicatos e que nada pode fazer excepto delegar periodicamente o seu poder a
anónimos deputados e autarcas que não estão à altura da governação.
Isto tem que dar uma volta mas no estado em que as coisas estão só com uma
revolução que ninguém quer, excepto, claro, se for democrática o que não se vê
como.
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