segunda-feira, 26 de junho de 2017

Os incêndios e a incompetência



Dados da Comissão Europeia:

Desde 2006, Portugal é o país do Sul da Europa que mais incêndios florestais teve nos últimos 25 anos e é um dos que tem uma maior área do seu território destruída pelo fogo.
Em Portugal, entre 1980 e 2006, houve doze anos em que os incêndios ultrapassaram os 100 mil hectares de área ardida por ano, tendo em 2003, chegado aos 420 mil hectares.
Entre 1980 e 2006, houve 487.172 incêndios (cerca de 36,5% do total ocorrido nos países do Sul da Europa). Neste período, a superfície ardida foi de 5.070.305 hectares em Espanha, 3.128.592 em Itália, 3.121.776 hectares em Portugal, 1.167.396 hectares na Grécia e 810.417 hectares em França.
Quanto à área ardida em cinco países do Sul da Europa, entre 1980 e 2013, Portugal surge desde meados dos anos 90 como o país com mais hectares atingidos por fogos florestais, ano após ano. Seguem-se a Espanha, Itália, França e Grécia. Mas enquanto em Portugal a área florestal diminuiu 7 % em Espanha aumentou 30%.
A tragédia do passado Domingo dia 17 de Junho (porque de tragédia se tratou com um número de mortes – 62 - nunca atingido mesmo no passado longínquo) trouxe consigo, para além de três dias de luto nacional que reflectem a “dor e solidariedade” dos responsáveis do Estado, um rol de “reflexões”.
Porque, dizem, se trata de um problema de prevenção, de ordenamento do território, de insuficiência de meios humanos e materiais e de etecetera. É verdade. E a coordenação entre todos os intervenientes (Bombeiros, GNR, INEM, forças militares, meios aéreos...)? Não houve, embora haja uma Autoridade Nacional de Protecção Civil. E a correcta e cabal informação a todos os intervenientes? Não houve, embora haja um sistema integrado de informação, o chamado SIRESP, que custou ao Estado cerca de 500 milhões de euros mas que não funcionou.

Que tudo se deveu a invulgarmente altas temperaturas (ultrapassaram os 44ºC), à muitíssimo baixa humidade do ar, a ventos fortíssimos e cruzados.
Sim, as muito adversas condições atmosféricas são incontestáveis mas não explicam os 47 mortos que na sua fuga ficaram encurralados numa estrada nacional invadida por chamas, de um lado e outro, que ultrapassaram as copas de árvores plantadas junto às bermas. Segundo a GNR a estrada não foi cortada por falhas nas comunicações e falta de meios: uma viatura, dois guardas no terreno e um no posto...
Sim, o muito baixo “tecto” dificultava, pelo muito fumo, qualquer combate aéreo. 
Que a explicação também está nos baldios com os seus terrenos não limpos e na falta de água (sempre escassa). 
Sim, a floresta (que é o nosso "petróleo") continua vulnerável ao fogo e tudo aquilo que ninguém nega não é desculpa porque a questão não é de hoje, tem dezenas de anos.


Disse o Marquês de Pombal, depois do terrível sismo de 1755, que era “tempo de enterrar os mortos e cuidar dos vivos” e promoveu de imediato a construção de uma cidade nova destruída pelo maior sismo registado na história da humanidade.

O tempo que passou após os enormes fogos que assolaram o território nacional desde os últimos 30 a 50 anos dariam para construir várias cidades devastadas por desastres naturais ou por guerras, apenas com os meios humanos e materiais de há quatro séculos. 
A explicação da tragédia também está na incompetência e, sobretudo, na incúria e criminosa passividade dos que têm governado este desgraçado país. Após poucos dias do controlo da catástrofe ficaram de lado o choro, os beijos e abraços de condolência e começou a caça aos possíveis culpados; os "outros" como sempre. 
As eleições autárquicas estão à porta…



                   


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