domingo, 29 de maio de 2016

Marcelo no teatro da presidência



Um comentador político pode ser Presidente da República? Pode, tal como um sindicalista ou um actor de cinema o pode.
Um Presidente da República pode continuar a ser, no exercício das suas funções, um comentador político? Poder pode mas não deve, tal como não devem exercer as suas anteriores habilitações um sindicalista ou um actor cinematográfico. Não são exemplos imaginários: houve um Lula e um Reagan. Nem um nem outro misturaram o que competia às suas novas funções com o que lhes era familiar ou habitual na sua vida profissional.
Vem isto a propósito das recentes atitudes de Marcelo Rebelo de Sousa (MRS).
É desanimador, para quem admira as suas inúmeras qualidades e nele depositou grandes esperanças depois do mandato catastrófico do Sr. Aníbal Silva, vê-lo em confrangedoras e folclóricas danças moçambicanas ou palrando por tudo e por nada como se comentandor político continuasse a ser.
O homem tem que ter uma compostura mais condizente com a do mais alto magistrado da Nação e falar muito menos a propósito de tudo e de nada. O melhor seria calar-se.
Julgo, infelizmente, que estão a ocorrer preocupantes afloramentos do modo de ser que sempre o caracterizaram: frenética exuberância, jogo de cintura no disse-mas-não-disse, “catavento” na política e na sociedade.
Começou o seu mandato com um risonho piscar de olhos à esquerda mas hoje advinha-se o deslisar para uma palmada à mesma.
Manteve os seus tiques políticos e não há assunto em que não doutamente se prenuncie estendendo a sua sábia verborreia dos assuntos internos à esfera africana e europeia (por exemplo, comentando as personalidades dos chefes de governo e da oposição, a natureza das contas públicas, a polémica distinção entre o ensino público e o privado ou, por outro lado, aconselhando as forças políticas em confronto em Moçambique ou comentando as presumíveis intenções do Eurogrupo quanto à eventual aplicação de sanções a Portugal e à Espanha).
É caso para exclamar: Ó homem, contenha-se e não danse. Ó homem cale-se!
Tal como o Sr. Passos Coelho ainda não percebeu que já não é Primeiro-Ministro, MRS ainda não conseguiu libertar-se da sua condição de comentador político estando deslumbrado com a sua nova posição política e, eventualmente, com a hipótese de passar à História como o “Presidente do Povo” tal como Sidónio Pais foi o “Presidente Rei”, ele também um ilustre professor universitário, íntegro, muito inteligente e trabalhador.
No jornal Público do passado dia 28 pode ler-se: “O núcleo duro de seis conselheiros de Marcelo Rebelo de Sousa aconselhou prudência ao Presidente da República em reunião na passada semana no Palácio de Belém (...) este círculo de influência presidencial recomendou a Marcelo moderação nas suas palavras e atitudes (...) Corrigir excessos, evitar falar sobre tudo e fugir de uma amálgama de mensagens (...) sobre os mais variados temas da actualidade política.”
Ora aí está, a realidade é mesmo essa.

Lá vai ele à Alemanha pedir o apoio da chanceler Merckl para os problemas que Portugal tem com o seu sistema financeiro, nomeadamente com os do Novo Banco e da CGD. Não esqueceu, como nenhum português deveria ter esquecido, as “marionetes” Passos Coelho e Paulo Portas. Veremos o que consegue e como o comunica. 


 
 








 
 
 

 


 

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