quarta-feira, 13 de abril de 2016

Lambadas e palmadas


Há tempos, quando ainda ministro da cultura, o Sr. Dr. João Soares publicou na sua página do Facebook (modernices às quais nem o cessante Presidente da República, o Sr. Silva, resistiu) um texto perfeitamente expectável nesta nossa sociedade mal educada.
Nele informou, “ter a sorte” de dar “salutares bofetadas” a dois colunistas muito conhecidos e, julgo, apreciados pela maioria dos leitores dada a acutilância, pertinência e elegância da sua prosa. Até aqui tudo bem, Portugal não é Angola e vive num clima social e político de liberdade de expressão.
Só que o Dr. Soares não era um vulgar cidadão. Era membro do governo e, ainda por cima, responsável pela pasta da cultura a qual, para mim, é indissociável da educação, da boa educação.
Sob uma chuva de críticas, vindas inclusivamente do seu partido, o Dr. Soares limitou-se a esclarecer que é um homem pacífico, que nunca bateu em ninguém e que se porventura assustou pede desculpas. Pensou que a estúpida ironia podia ser inteligente.
Não sei se é um homem pacífico, se é um falhado praticante de artes marciais ou se é parvo. O que sei (e que qualquer um vê) é que tem boas bochechas para estalos e rabo para levar umas palmadas que enquanto menino nunca recebeu.
A questiúncula tem como origem uma demissão legítima e justificada (nem que seja por razões de confiança pessoal ou política) do responsável pela administração do Centro Cultural de Belém, o qual respondeu à demissão não com factos mas como um mártir seguidor de S. Sebastião.
“Quem sai aos seus não é de Genebra”, como risonhamente foi distorcido o adágio popular. Pois não. Quem é que não se lembra da grosseria prepotente do Dr. Soares sénior, ainda no pleno uso das suas faculdades, para com um agente da GNR que se tinha limitado a exercer as suas funções? “Abra-me aqui uma janela...Ó Sr. Guarda desapareça...diga ao seu colega para desaparecer que não queremos polícia”.
https://www.youtube.com/watch?v=3hHwz_vjHRA
Viajava com comitiva num autocarro em direcção ao Porto. O autocarro ia a 199 km/h pela A8 (na qual a velocidade máxima permitida é de 120 km/h) e foi mandado parar por excesso de velocidade. Aconteceu depois do almoço pelas 15h00.
https://www.youtube.com/watch?v=yb0r11jx0aA
Depois do almoço já houve um ministro das obras públicas que dançou

espanholadas e declarou com estranha voz que o sul do Tejo era um

deserto (só faltou exclamar que era habitado por camelos).

Estes factos são chocantes porque testemunham que há quem pense que pode tudo, que existe uma “dinastia” que se permite ser mal educada, grosseira, prepotente e etc. por falta de palmadas em tempo e sítio certos.
Outra notícia muito recente e incomodativa foi o pedido de demissão do Chefe do Estado-maior do Exército, aceite prontamente pelo actual Presidente da República.
Dizem que o pedido de demissão foi resultante da exigência da tutela governamental na demissão do director do Colégio Militar no seguimento das declarações do seu sub-director numa autorizada entrevista ao diário “Observador”.
Este, nessa entrevista, esclareceu que " (…) nas situações de afetos (homosexualidade) obviamente não podemos fazer transferência de escola. Falamos com o encarregado de educação para que percebam que o filho acabou de perder espaço de convivência interna e a partir daí vai ter grandes dificuldades de relacionamento com os pares. Porque é o que se verifica. São excluídos (…)".
Houve caretas de todos os lados, nomeadamente do Primeiro Ministro e da esquerda parlamentar a qual criticou aquelas declarações apontando a sua ilegitimidade constitucional por constituírem uma discriminação por orientação sexual.
Do outro lado, vários oficiais superiores do Exército consideraram a exigência do ministro da defesa e, inclusivamente, a demasiadamente pronta reacção do Presidente da República, como inconstitucional por ser uma ingerência nos assuntos internos das forças armadas.
Essa esquerda solicitou a presença do Sr. General no Parlamento para prestar esclarecimentos o qual, como ex paraquedista que foi, deve ter reagido com uma careta e um encolher de ombros.
Qual a relação entre estes dois acontecimentos? Caras e caretas, umas resultantes de má educação e outras de fundamentalismo ideológico ou de ignorância das exigências próprias de uma instituição militar.
Neste último caso, a questão não é nova e muito menos exclusiva de Portugal. Há relativamente poucos anos, a polémica estalou no interior da poderosa força militar dos EUA envolvendo oficiais da mais alta patente. Após longas e acaloradas discussões, as instituições norte americanas aprovaram disposições legislativas que permitem hoje um relacionamento homosexual nas fileiras militares. A decisão não foi pacífica, nomeadamente nos meios militares.
Um exército não é uma instituição financeira, diplomática ou empresarial e o exercício de funções militares exige comportamentos que não são os da sociedade civil. Alguns lembrarão um dos mais poderosos exércitos da antiguidade, o de Tebas com o seu batalhão sagrado. Os tempos e costumes eram outros e, sobretudo, a verdade histórica esclarece que a razão não era o afecto homosexual mas, sobretudo, a força e eficácia militares com as quais Esparta (batalha de Queroneia, 338 a.C) e, posteriormente, Alexandre o Grande tiveram que confrontar-se.
A situação lembra-me uma história que me garantiram ser verídica sobre um importante governante do passado que ao conhecer certo alto funcionário do Estado interrogou “Ele é assim porque está lá ou está lá porque é assim?
PS: Este escrito para além de violar o “Acordo” Ortográfico não é políticamente correcto.

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