sábado, 28 de dezembro de 2013

Justiça e corrupção.


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Transcrevem-se a seguir extractos do Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 9 de Abril de 2002 que em tempos me enviaram à laia de anedota (publicado na Colectânea de Jurisprudência, Ano XXVII (2002), tomo 2, pagina 142 e seguintes, segundo me garantiram).
O Ministério Público deduziu acusação pela prática de crime de ameaças porque "durante uma discussão, o arguido ameaçou o ofendido, dizendo que lhe dava um tiro nos cornos (...)".
O Juiz decidiu não receber a acusação "porque inexiste crime de ameaças (...) simplesmente pelo facto de o ofendido não ter “cornos”, face a que se trata de um ser humano. (...)”.
O Ministério Público recorreu da decisão, tendo o Tribunal da Relação de Lisboa acolhido o seu recurso, dando-lhe razão, remetendo-se o processo para julgamento, entre outros pelos seguintes motivos:
"(...) não se percebe quais as objecções colocadas à integração do crime. Se é por o visado não ter “cornos” estar-se-ia então perante uma tentativa impossível? Parece-nos evidente que não." (...). "Será porque por não ter “cornos” não tem de ter medo, já que não é possível ser atingido no que não
se tem? (...) não é pouco vulgar dirigir a alguém expressão que inclua a referida terminologia. Assim, quer atribuindo a alguém o facto de "ter cornos" ou de alguém "os andar a pôr a outrem" ou simplesmente de se "ser corno" (...) tem significado conhecido e conotação desonrosa, especialmente se o seu detentor for de sexo masculino (...) também se utiliza a expressão "dar um tiro nos cornos" ou outras idênticas, face ao corpo do visado, como "levar no cornos", referindo-se à cabeça, zona vital do corpo humano. Já relativamente à cara se tem preferido, em contexto idêntico, a expressão “focinho”(...)."
Textos desta natureza suscitam risonha perplexidade, mas fazem parte de um processo judicial. Creio que a Justiça não deve ser objecto de riso, mas, neste caso, havendo queixa envolvendo adjectivação imprópria como julgar sem referir a mesma? Dificilmente e o resultado é aquele.
Seja como for, do que Portugal sofre é de um problema de falta de educação (não confundir com instrução). Dêem-lhe tanta importância como ao *deficit* e os resultados aparecerão. A educação está estreitamente ligada ao exemplo e quando este falta ou é mau a educação é má.
E quem são os culpados deste mal de que Portugal sofre? Entre outros, pais, professores, chefes, políticos.
Pais, que enfiam os filhos em escolas e que só os vêem, que só falam com eles, aos fins-de-semana se tanto, e que educam pelo mais fácil ou menos cansativo e são apáticos a todo o género de caprichos de pequenos tiranos.
Não há tempo para dar exemplos, para educar.
Professores, que têm cada vez menos educação e que pelo exemplo não primam raiando o seu comportamento o limite da grosseria como se pôde ver nas imagens televisivas das suas recentes greves.
Quanto a alguns jornalistas, que daquele grupo fazem parte, escrevem mal, não sabem falar e escolhem e exploram temas para divulgação com critério próprios da imbecilidade e do sensacionalismo bacoco.
Chefes, que o são mais por automatismos e por confianças do que por competência e dedicação ao trabalho, longe de dar o bom exemplo, são pródigos em violar as mais elementares regras da ética do profissional.
Políticos que, todos os dias e de todas as formas, nos revelam que o que interessa é "o deles", que não têm a menor ideia do que é o bem-público, que vagamente conseguem distinguir o que é honestidade, que não reconhecem enquanto servidores do Estado situações de incompatibilidade e mergulhando
despreocupadamente no que é a corrupção embrulham-se em negociatas vergonhosas.
Não?
Andam distraídos. Basta ligar a televisão, abrir um jornal, ouvir uma estação de rádio.
Oiçam o que disse Paulo Morais a 23 de Novembro do corrente ano na Sala do Senado da Assembleia da República sobre “incompatibilidades e corrupção”.
Oiçam os nomes por ele denunciados e terão algumas (infelizmente poucas) surpresas.
São 15 minutos muito elucidativos e a não perder.

 
Justiça onde estás?

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Engenharia é isto.



O afastamento dos engenheiros (os verdadeiros...) da política, o monopólio que nela passaram a ter os economistas e os juristas e a degradação das qualificações profissionais decorrentes de uma democratização estatística do ensino, cuja qualidade passou a ser aferida pelo número de licenciaturas e não pelo saber adquirido, são factos para mim induscutíveis mau grado as proclamações políticas em contrário. É estranha e interessante a coincidência daqueles factos com a mais do que evidente falta de qualidade dos actuais praticantes e dirigentes políticos.

Eis uma obra, nem sequer recente, da Engenharia. Há muitas mais que são o orgulho da minha profissão como, por exemplo, o Viaduto de Millau em França: 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Viaduto_de_Millau 
http://www.engenhariaeconstrucao.com/2011/02/viaduto-de-millau.html 
Esta mais alta ponte do mundo tem uma companheira na mais alta plataforma
marítima de exploração de gás que passo a apresentar resumidamente.

A “Troll A”é uma plataforma de extracção de gás natural localizada no alto mar
na costa oeste da Noruega.
Está entre as obras maiores e mais complexas da história da engenharia e é a construção mais alta transportada pelo homem de um ponto a outro do planeta (200 km).
O início da construção ocorreu em Julho de 1991, sendo construídas
separadamente a plataforma propriamente dita e a sua base.
A plataforma da “Troll A” foi rebocada mais de 200 km de Cubas, na parte
norte de Rogaland, para o campo de Troll, 80 km a noroeste de Bergen. O
transporte levou 7 dias. 
A união das duas partes da estrutura efectuou-se em 1995 estando a base
parcialmente submersa com a fundação 35 metros enterrada.
A “Troll A” tem uma altura total de 472 metros, dos quais 303 metros abaixo
da superfície do mar, pesa 683.600 toneladas (1,2 milhões de toneladas, com
lastro) e o percurso por elevador do convés principal até à sua base, no fundo, leva 9 minutos.
A sua estrutura tem 100.000 toneladas de aço (o equivalente a 14 torres
Eiffel) e 245 mil metros cúbicos de betão.
A obra custou de 16 biliões de dólares e mobilizou 2.000 mil operários, dia e
noite, durante 4 anos.