“
Ay qué trabajo me cuesta quererte como
te quiero! Por tu amor me duele el aire, el corazón y el sombrero. “F. G. Lorca
Intróito: regressei de férias...na praia...exactamente, na praia. Que me desculpem qualquer coisinha no que se segue.
Intróito: regressei de férias...na praia...exactamente, na praia. Que me desculpem qualquer coisinha no que se segue.
Lembro-me dos olhares reprovadores, dos mais cerimoniosos, e das críticas e
conselhos, dos mais íntimos, quando em mim se manifestavam, com toda a clareza,
os meus calmos, caseiros e (no entendimento deles) chatos gostos. Sim é
verdade, gostava e gosto de coisas que a divertida sociedade considera chatas.
Com excepção, claro, de alguns femininos atributos (o pudor e a timidez impedem-me de aqui especificar) alguns dos quais uma ânsia de ostensiva aparência quer para sempre cheios, firmes e redondos (porquê
esféricos?).
A cirurgia plástica resolveu hoje o problema e é vê-las orgulhosas de inabaláveis, nutridas e estáticas plataformas, que assim ficam até com o simples
andar. Fim dos doces bamboleios, indiscutíveis instrumentos da humana luxúria
mas, também, insubstituíveis fontes de inspiração dos melhores e mais afoitos
poetas. E o orgulho delas e a gula de alguns deles ficam por aqui, coitados.
E
os olhos? Espelhos da alma e sinais mudos de desafios?
E a boca, na sua oferta,
no seu sorriso, no seu amuo?
E a curva da anca? E a do busto? E a do pescoço?
E
umas lindas mãos?
Tudo na mulher é melhor. Tudo menos, claro,
o que não é.
Sim sim, gosto perdidamente da mulher, do seu olhar, do seu gesto,
do seu sorriso, da sua curva, de tudo o que no corpo ela é. O maravilhoso corpo
da mulher, a sua promessa, a sua tentadora promessa, será coisa chata?
No
entanto, há coisas que ainda mais desejo, que eternamente ficam e que, essas
então, não compreendo que outros possam considerar chatas. Um olhar brilhante e
verdadeiro, um gesto reconfortante e solidário, um sorriso cúmplice e amoroso
e, acima de tudo, a ternura, a maravilhosa, incomparável e
única ternura da mulher.
Mas não o contesto, para escândalo e escondida
reprovação de todos, também gosto (olhem que maçada) de coisas que eles dizem
chatas: da família, da minha casa, dos livros, da música, do trabalho, de
poucos mas verdadeiros amigos (da divertida sociedade não).
Meu Deus, como é que se pode ser
tão chato, tão chato, meu Deus?
E por esta razão imagine-se, disseram-me, não fui
convidado para uma viagem à China. Logo à China,
mundo de gentes ainda imunes às distracções desta nossa triste divertida
sociedade e com mulheres frágeis, graciosas e ainda donas (até quando?) de
naturais e vivas formas.
Pois é, aparentemente e para minha surpresa, mesmo para os melhores amigos sou um chato, mas sinto-me bem assim. É a conclusão, definitivamente é a conclusão a que cheguei: gosto mesmo daquelas coisas que eles dizem chatas. Poderá ser triste e mesmo chato para outros, mas sinto que são óptimas para mim, para os meus e para a minha vida.
Pois é, aparentemente e para minha surpresa, mesmo para os melhores amigos sou um chato, mas sinto-me bem assim. É a conclusão, definitivamente é a conclusão a que cheguei: gosto mesmo daquelas coisas que eles dizem chatas. Poderá ser triste e mesmo chato para outros, mas sinto que são óptimas para mim, para os meus e para a minha vida.
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