quinta-feira, 16 de maio de 2013

Causas da morte dos reis de Portugal

"Entre os 34 reis que ocuparam o trono português, um somente atingiu e excedeu os 80 anos de idade: a raínha reinante, D. Maria I, sómente outros três atingiram e excederam os 70 anos: D. Afonso I, D. João I e Filipe II de Espanha(...)”.

 1ª Dinastia:

      










- D. Afonso Henriques, senilidade,  morre com 76 anos, encontra-se sepultado na Igreja de 
  St.ª Cruz de Coimbra;
- D. Sancho I, lepra (?), morre com 57 anos, encontra-se sepultado na Igreja de St.ª Cruz de 
  Coimbra;
- D. Afonso II, lepra, morre com 38 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro de Alcobaça;
- D. Sancho II, lepra (?), morre com 45 anos, encontra-se sepultado na Catedral de Toledo;
- D. Afonso III, reumatismo, morre com 69 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro de
  Alcobaça;
- D. Dinis, (?), morre com 64 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro de Odivelas;
- D. Afonso IV, (?), morre com 67 anos, encontra-se sepultado na Sé de Lisboa;
- D. Pedro I, epilepsia, morre com 47 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro de Alcobaça;
- D. Fernando, tuberculose, morre com 38 anos, encontra-se sepultado na Igreja de 
  S. Francisco de Santarém.

(média dinástica de vida 56 anos).

2ª Dinastia:

  










- D. Joao I, senilidade, morre com 76 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro da Batalha;
- D. Duarte, peste, morre com 47 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro da Batalha;
- D. Afonso V, psiconeurose, morre com 49 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro da     
  Batalha;
- D. João II, nefrite, morre com 40 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro da Batalha;
- D. Manuel I, peste, morre com 52 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro dos Jerónimos;
- D. João III, trombose cerebral, morre com 55 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro dos    Jerónimos;
- D. Sebastião, morte violenta, morre com 24 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro dos   
  Jerónimos;  
“Ficou tal túmulo no transepto da Igreja dos Jerónimos, do lado da Epístola, onde se vê
ainda hoje (...)”. 
“ Que o sebastianismo se instaurasse como uma espécie de religião patriótica, enquanto
durou o cativeiro espanhol, compreende-se. Mas que ele se mantenha durante quatro
séculos, aguardando-se a manhã de nevoeiro em que o infeliz monarca há-de surgir, isto é que já custa a compreender”.
“Desde o milagre de Ourique (...) desde o envenenamento de todos os filhos do infante
D. Pedro até ao carácter intriguista e maldoso do 1º Duque de Bragança, oqual “com
certeira seta matou o seu irmão, D. Pedro”, em Alfarrobeira; desde o feitio “justiceiro do
sanguinário D. Pedro I até à ineficácia das vastas reformas pombalinas, a nossa História
anda cheia de lendas e de especulações, que cumpre eliminar.” 
- D. Henrique, tuberculose, morre com 68 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro dos  
 Jerónimos. 
(média dinástica de vida 51 anos). 

3ª Dinastia: 
Dinastia de Habsburg; reis castelhanos,
- Filipe II, gota, morre com 71 anos, encontra-se sepultado no Panteão do Escorial;
- Filipe III, erisipela, morre com 43 anos, encontra-se sepultado no Panteão do Escorial; 
- Filipe IV, neurastenia, morre com 60 anos, encontra-se sepultado no Panteão do Escorial.   
(média dinástica de vida 58 anos). 

4ª Dinastia:
 

  










- D. João IV, litíase vesical, morre com 52 anos, encontra-se sepultado no Panteão de
  S.Vicente de Fora;
- D. Afonso VI, tuberculose, morre com 40 anos, encontra-se sepultado no Panteão de   
  S.Vicente de Fora;
- D. Pedro II, Tuberculose? Sifilis? *, morre com 58 anos, encontra-se sepultado no Panteão 
  de S. Vicente de Fora;
- D. João V, epilepsia, morre com 61 anos, encontra-se sepultado no Panteão de S. Vicente
  de Fora;
- D. José, trombose cerebral, morre com 63 anos, encontra-se sepultado no Panteão de 
  S.Vicente de Fora;
- D. Maria I, psicopatia, morre com 82 anos, encontra-se sepultada na Basílica da Estrela
- D. João VI, envenenado, de acordo com recentes investigações (ano de 2000) 
  realizadas  por especialistas às vísceras do rei *, morre com 59 anos, encontra-se 
  sepultado no Panteão de S. Vicente de Fora;
- D.Pedro IV, tuberculose, morre com 36 anos, encontra-se sepultado na Catedral de

  Petropólis;
- D. Miguel, edema pulmonar? enfarte do miocárdio?*, morre com 64 anos, encontra-se

  sepultado no Panteão de S. Vicente de Fora;
         










- D. Maria II, parto distócico, morre com 34 anos, encontra-se sepultada no Panteão de   
  S.Vicente de Fora;
- D. Pedro V, febre tifóide, morre com 24 anos, encontra-se sepultado no Panteão de   
  S.Vicente de Fora;
- D. Luís, neurosífilis*, morre com 51 anos, encontra-se sepultado no Panteão de 
  S. Vicente de Fora;
- D. Carlos, morte violenta, morre com 45 anos, encontra-se sepultado no Panteão de  
  S.Vicente de Fora;
- D. Manuel II, edema da laringe, morre com 43 anos; encontra-se sepultado no Panteão de    S. Vicente de Fora. 
(média dinástica de vida 51 anos). 
(ref.  “Causas de Morte dos Reis Portugueses”, J.T.Montalvão Machado)  
* In  “A Doença e a Morte dos Reis e Raínhas da Dinastia de Bragança” - José Barata.


segunda-feira, 6 de maio de 2013

O saco de batatas

                    Recordações da guerra - Moçambique (1970-1972), Nangade

“...Dize, dize ! Vaes para a guerra monta em mim, vou-te levar: não há cavalo na terra que tenha tão bom andar...” A. Nobre
 
Poucos dias depois da operação de Tartibo, fui visitar os trabalhos em Nangade.
Tartibo, pequeno estacionamento militar no alto das margens do Rovuma, fôra a minha última missão. Cada vez que chegava a época das chuvas a companhia que estava estacionada lá em baixo a pouca distância das margens do rio, era literalmente submersa pela enorme cheia, obrigada a dormir no alto das árvores e a passar as rações de combate por um sistema de cordas. 
Era, compreende-se, uma situação insustentável e a exigir uma nova localização e um outro estacionamento para a desgraçada companhia que lá ia ficar.
Foi o que fez o meu pelotão.
Ainda me lembro da minha ânsia em me refrescar quando chegámos ao Rovuma, depois de um penoso, poeirento e  matagalento percurso desde Mueda. 
Precipitei-me, todo vestido, botas e tudo, para uma pequena lagoa no meio de descomplexadas gargalhadas dos “mainatos“. “Porque é que te estás a rir, meu malandro ? “crocodili alferi, crocodili” e riam-se a bandeiras despregadas.

Na altura não achei piada, como também não achei piada à sessão de certeira morteirada com que foi brindada a partida da engenharia depois do trabalho concluído. O meu recente amigo, professor de filosofia na vida civil e então capitão miliciano da companhia de caçadores que lá ficou, também não.
Nangade só se parecia com Tartibo pela proximidade do grande rio. Aldeamento relativamente importante, no alto de um planalto, rodeado e semeado de cajueiros, era limpo, bem administrado e sede de um batalhão. 
Lá a guerra parecia longe e era quase como que um descanso para a tropa de engenharia ali destacada. 
De Nangade só tenho boas recordações, começando pelo “meu“ comandante, grande senhor, oficial de cavalaria, culto, de invulgar competência e com particular simpatia pela engenharia.
“Ó António” dizia ele para o cozinheiro, com a sua careca vermelha e escorrendo suor “este caril não está suficientemente picante aqui para o nosso alferes...” e olhava para mim sorrindo amigavelmente. E (como posso esquecer?) aquela visita que um dia recebi de outro oficial superior de outra arma vindo de Nampula, que não percebia nada de nada e, ainda menos, as minhas reservas quanto à utilização da pista, por nós recém-construída, para aviões Noratlas. “Compactação? Compactação? Que não está em condições? Isto está bom, isto está bom”, exclamava ele convicto após bater com a bota no chão, como se aquele bater de bota fosse equivalente ao impacto de uma aterragem de mais de 15 toneladas...
Foi, pois, com prazer que um dia voltei a descolar de Mueda em direcção a Nangade.
Ia com o meu  amigo de infância André, piloto da força aérea e que, depois de tantos perigos e missões arriscadas na fronteira Norte de Moçambique, morreu tragicamente num naufrágio aqui, perto de Peniche. 
Olha, disse-me ele, hoje não vens ao meu lado. Isto está a
abarrotar com tudo e mais alguma coisa. Vais atrás de mim, ali em cima dos sacos de batatas.
“Está bem”.
E a DO levantou, mas não como era hábito, levantou em parafuso, na vertical. 
Recebemos informações. Isto hoje não está bom, os gajos estão lá em baixo e mais vale nós irmos alto, muito alto.
"Está bem” e olhava lá para baixo para Mueda que, felizmente, se afastava cada vez mais. Ficava tudo o que eu conhecia estranhamente pequenino. 
Era uma sensação algo desagradável, nada que se parecesse com os enebriantes vôos que tinha feito de heli escoltado por dois T6, quase lado a lado e a rasar a copa das árvores. 
E subimos, subimos na vertical até o André achar que já era seguro e, depois, rumo a Norte. Chegámos àquilo que, para mim, era um oásis.
“Os gajos estavam lá” disse-me ele inspeccionando a fuselagem e ao meu olhar interrogativo respondeu, apontando para um buraco de bala na barriga do nosso aviãozito, “cá está” e riu-se. 
Eu menos, era mesmo por de baixo do saco de batatas onde eu viera sentado.
”Ó António, hoje o caril tem que estar muito picante... ver se animamos aqui o nosso alferes”, exclamou o "meu" comandante quando soube da ocorrência.
Pois.