quinta-feira, 30 de maio de 2013

Vergonhas na justiça


O caso BANIF e os crimes no BPN e na net

Na passada 3ª feira, 28 de Maio, pelas 10h00, Duarte Lima saíu de casa, onde se encontrava
na situação de prisão domiciliária, para o início do seu julgamento. É o caso “Homeland”. 
Também recentemente, a situação do banco BANIF revelou  aos contribuintes portugueses
uma situação semelhante à do BPN com os principais protagonistas numa vergonhosa “dança de cadeiras” PS / PSD. É o “arco do poder" (principalmente nas suas componentes cavaquista e jardinista) na sua esplendorosa promiscuidade.
http://www.youtube.com/watch?v=OcxS1zYWJms
http://www.youtube.com/watch?v=tUxR3LlVoXM 
Em finais de 2012 o governo informou sobre a injecção de 1.100 milhões de euros no capital
do banco, os quais adicionados aos 1.150 milhões de euros de garantia de empréstimos ao
banco totalizam 2.250 milhões de euros. Tudo sacado do bolso do Zé Povinho.  
Uma vergonha anunciada pelo mesmo governo que considera indispensável, para equilíbrio
das finanças públicas, taxar as pensões e, para além de outra medidas, cortar 4.500 milhões
de euros nas despesas do estado.  
Este pobre país está afogado em vergonhas. 
A justiça, pilar de qualquer regime que tenha como prioridade a defesa do povo e o castigo
dos poderosos que não respeitam a Lei, revela impotência e parece ser atacada aqui e ali por uma “solidariedade partidária”.  
Sabe-se tudo sobre o caso BPN? Talvez seja interessante recordar alguns factos.  

A falência fraudulenta do BPN poderá custar ao contribuinte português cerca de 7 mil milhões de euros (um décimo do que em 2011 constituiu a ajuda financeira da “troika”).
Nesta fraude é arguido o Sr. Oliveira e Costa. No entanto, o Sr. Dias Loureiro (que dizem ser uma personagem central nessa fraude http://finances.orange.fr/economie/pointdevue/scandale-bancaire-portugais-les-vacances-a-rio-de-dias-loureiro-266980.html) não o é. Por que será? 
Para que fique mais claro o escândalo, o BPN tinha como principal objectivo conceder milhões de euros a amigos, familiares, clientela política e, também, aos próprios…Só Duarte Lima é suspeito, segundo se diz, de ter desviado 49 milhões de euros.
Dias Loureiro (ex-Ministro dos Assuntos Parlamentares, ex-Ministro da Administração Interna, ex-Conselheiro de Estado), Oliveira e Costa (ex-Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais), Duarte Lima (ex-Vice Presidente da Comissão Política Nacional, ex-Presidente da Comissão Política Distrital de Lisboa, ex-Presidente do Grupo Parlamentar) foram personagens relevantes do PSD em geral e do “cavaquismo” em particular. Estes "notáveis" do regime são o exemplo escarrado dos que só na política têm um caminho seguro para um rápido e fácil enriquecimento e dela se servem para esse fim. 
Os milhões de euros “desaparecidos” no BPN são irrecuperáveis pelo contribuinte, mas não por todos. Há quem, como administrador da SLN, tenha transferido muito dinheiro para familiares e sociedades “offshore”.
A ex-proprietária do BPN (a SLN) denomina-se agora “Galilei”.
O Estado português estima a dívida (virtual) da nova “holding” em 1.300 milhões de euros, valor muito próximo do “buraco” que presumidamente a recente decisão do Tribunal Constitucional “introduziu” no Orçamento para 2013.
O presidente da nova “holding” (completamente falida após a nacionalização do BPN) é o Sr. Fernando Lima, grão-mestre do Grande Oriente Lusitano, que definiu três grandes áreas de negócios: saúde, imobiliário e mercado automóvel. Mas é com negócios em Angola e a sua sede no “offshore” da Madeira (e, portanto, isenta de IRC) que a Galilei aposta no seu sucesso, mau grado o processo movido pelo Banco de Portugal por omissão e apresentação de dados bancários enganosos (multa de 4 milhões de euros).
O “caso BPN” é a maior fraude dos 39 anos da República portuguesa.
A acção judicial, iniciada no mês de Fevereiro passado, tem mais de 100 volumes, arrola 160 testemunhas e decorre no Tribunal de Santarém duas vezes por semana. O principal “alvo” da justiça é o Sr. Oliveira e Costa, o qual está a ser julgado há mais de dois anos no Campus da Justiça em Lisboa, por burla qualificada, fraude fiscal e branqueamento de capitais.
O sistema judicial português tem-se mostrado impotente para julgar e punir rapidamente estes indivíduos que continuam a usufruir, com total impunidade, de riqueza ilicitamente adquirida.
Mas, depois de anos e anos de batalha, eis que surgem os primeiros resultados. Disseram-me que prenderam um rapaz de 17 anos que fez um download de música... grande malandro. O primeiro português condenado por pirataria na Internet poderá passar entre 60 a 90 dias atrás das grades.
Justiça rápida e punição exemplar! É assim mesmo...
Os submarinos voltaram à superfície. Acusações gravíssimas de recebimento de luvas (corrupção passiva) foram publicadas na imprensa. Nada se passou ao nível do Governo, da Assembleia de República, das autoridades competentes. Total silêncio, nenhuma acção contra eventuais caluniadores. Na Alemanha efectuou-se inquérito de que resultou prova de corrupção activa e correspondente punição dos agentes das empresas vendedoras. Na Grécia, o ministro da defesa da altura encontra-se preso por corrupção. Cá? Nada. Continuamos numa situação "gelatinosa".





quinta-feira, 23 de maio de 2013

Zé no País das Marabilhas



“...A única forma de chegar ao impossível é acreditar no impossível...”,  “Quanto tempo dura o eterno? Às vezes apenas um segundo”.
Alice no País das Maravilhas – Lewis Carroll.

Personagens: 
O Zé. Vigoroso, franco e directo com todos os que encontra. 
O Coelho. Pomposo, autoritário para com os criados, bajulador e obsequioso para com os superiores. 
O Gato Gaspar. Invulgarmente calmo, tem uma exacta ordem das coisas muito própria e um
sorriso crispante. 
A Duquesa Ângela. É o que é: é quem manda no Coelho. 
O Chapeleiro Silva. É o que cobre com o seu chapéu o Coelho, o Gato Gaspar e os outro loucos. 
Cenário: Junto a um buraco num canteiro à beira-mar plantado estão o Zé, o Coelho, o Gato Gaspar, a Duquesa Ângela, o Chapeleiro Silva e outros loucos.

“É buraco a seguir a buraco! Quando é que tapam este buraco?” pergunta o Zé. 
“Não vale a pena tentar, não se pode acreditar em coisas impossíveis”. 
“Tens pouca experiência, Coelho. Quando tinha a tua idade, tentava-o uma vez por dia. Por vezes, acreditava seis coisas impossíveis antes do pequeno-almoço” respondeu a Duquesa. 
“Mas onde está a saída, Gaspar?” 
“Depende”. 
“De quê?”. 
“Depende para onde se quer ir e se não se sabe para onde se vai não interessa o caminho que se toma”. 
“Mas eu não quero encontrar-me com gente louca!”. 
“Não podes evitá-lo, aqui todos nós somos loucos. Eu sou louco, tu és louco”. 
“Como é que sabes se sou louco?”. 
“Deves ser ou não estarias aqui. Poucos encontram o caminho, apenas alguns o reconhecem quando o encontram e então nunca o desejam. Alguns vão por este caminho, outros pelo outro. Eu prefiro o atalho”.                  
                   
"E tu, como é que te chamas?”. 
“Zé”. 
“O Zé?!”. 
“Sim, mas há alguma dúvida sobre isso, Gato Gaspar?”. 
“Nunca me envolvo em política. Estás a gostar do jogo?”. 
“Acho que estão a fazer batota”. 
“Ninguém faz batota se pensar que se pode safar” esclarece o Chapeleiro Silva. 
“?” 
“As explicações levam um tempo medonho. A melhor maneira de explicar é fazer sem explicar. Quando tiveres dúvidas não fales. A exacta ordem das coisas é, para mim,
frequentemente um mistério e para os outros fá-los reflectir porque é que continuo a sorrir”
exclama o Gato Gaspar.                                   
              
“Para de grunhir, não é de modo nenhum uma maneira de te exprimires. Meu caro Coelho,
estás a pensar nalguma coisa e por isso esqueceste-te de falar”. 
“Duquesa, acha que pode encontrar uma solução para isto?”. 
“Exactamente”. 
“Então deveria dizer o que pensa!”. (“Como estas criaturas dão ordens e obrigam a recitar lições. Nunca confiei em cogumelos venenosos mas alguns devem ter as suas qualidades”). 
“Tut, tut, miúdo. Tudo tem uma moral desde que a encontres. Eu cá dou-me muitos bons
conselhos mas raramente os sigo. (“Gostaria tanto que as criaturas não se ofendessem tão facilmente, mas com o tempo habituamo-nos”).                                
“Conselhos? Estou farto de os dar. Consultem a minha página no Facebook. Depois não digam que não avisei”, intervém o Chapeleiro Silva. “Por mim, não posso ir mais abaixo. Estou no chão com o que gasto e com o que ganho. Tal como ela. Vamos a Fátima”. 
“Que ninguém se mexa: o meu cérebro caíu!. Que S. Jorge nos acuda."                                       
“Sai do pé dos meus ovos, dos meus direitos, das minhas poupanças sua cobra!”. 
“Mas ó Zé eu não sou nenhuma cobra, sou um coelho!”. 
“Comes ovos, Coelho?”.
“H...mm, sim.”. 
“Então não me interessa se és cobra ou se és coelho, sai do pé dos meus ovos, dos meus
direitos, das minhas poupanças! Vou avisar-te, Coelho, com toda a franqueza: ou tu ou a tua
cabeça têm que ser cortados e isto em metade de nenhum tempo. Escolhe.”
“Ó meu deus, ó meu deus, estou atrasadíssimo para um muito importante e novo encontro
com a Duquesa...Não tenho tempo para dizer olá, adeus!...É tarde, é tarde, é tarde...Na
realidade não estou de facto atrasado e não tenho qualquer encontro...sou uma fraude...”.


quinta-feira, 16 de maio de 2013

Causas da morte dos reis de Portugal

"Entre os 34 reis que ocuparam o trono português, um somente atingiu e excedeu os 80 anos de idade: a raínha reinante, D. Maria I, sómente outros três atingiram e excederam os 70 anos: D. Afonso I, D. João I e Filipe II de Espanha(...)”.

 1ª Dinastia:

      










- D. Afonso Henriques, senilidade,  morre com 76 anos, encontra-se sepultado na Igreja de 
  St.ª Cruz de Coimbra;
- D. Sancho I, lepra (?), morre com 57 anos, encontra-se sepultado na Igreja de St.ª Cruz de 
  Coimbra;
- D. Afonso II, lepra, morre com 38 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro de Alcobaça;
- D. Sancho II, lepra (?), morre com 45 anos, encontra-se sepultado na Catedral de Toledo;
- D. Afonso III, reumatismo, morre com 69 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro de
  Alcobaça;
- D. Dinis, (?), morre com 64 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro de Odivelas;
- D. Afonso IV, (?), morre com 67 anos, encontra-se sepultado na Sé de Lisboa;
- D. Pedro I, epilepsia, morre com 47 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro de Alcobaça;
- D. Fernando, tuberculose, morre com 38 anos, encontra-se sepultado na Igreja de 
  S. Francisco de Santarém.

(média dinástica de vida 56 anos).

2ª Dinastia:

  










- D. Joao I, senilidade, morre com 76 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro da Batalha;
- D. Duarte, peste, morre com 47 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro da Batalha;
- D. Afonso V, psiconeurose, morre com 49 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro da     
  Batalha;
- D. João II, nefrite, morre com 40 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro da Batalha;
- D. Manuel I, peste, morre com 52 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro dos Jerónimos;
- D. João III, trombose cerebral, morre com 55 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro dos    Jerónimos;
- D. Sebastião, morte violenta, morre com 24 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro dos   
  Jerónimos;  
“Ficou tal túmulo no transepto da Igreja dos Jerónimos, do lado da Epístola, onde se vê
ainda hoje (...)”. 
“ Que o sebastianismo se instaurasse como uma espécie de religião patriótica, enquanto
durou o cativeiro espanhol, compreende-se. Mas que ele se mantenha durante quatro
séculos, aguardando-se a manhã de nevoeiro em que o infeliz monarca há-de surgir, isto é que já custa a compreender”.
“Desde o milagre de Ourique (...) desde o envenenamento de todos os filhos do infante
D. Pedro até ao carácter intriguista e maldoso do 1º Duque de Bragança, oqual “com
certeira seta matou o seu irmão, D. Pedro”, em Alfarrobeira; desde o feitio “justiceiro do
sanguinário D. Pedro I até à ineficácia das vastas reformas pombalinas, a nossa História
anda cheia de lendas e de especulações, que cumpre eliminar.” 
- D. Henrique, tuberculose, morre com 68 anos, encontra-se sepultado no Mosteiro dos  
 Jerónimos. 
(média dinástica de vida 51 anos). 

3ª Dinastia: 
Dinastia de Habsburg; reis castelhanos,
- Filipe II, gota, morre com 71 anos, encontra-se sepultado no Panteão do Escorial;
- Filipe III, erisipela, morre com 43 anos, encontra-se sepultado no Panteão do Escorial; 
- Filipe IV, neurastenia, morre com 60 anos, encontra-se sepultado no Panteão do Escorial.   
(média dinástica de vida 58 anos). 

4ª Dinastia:
 

  










- D. João IV, litíase vesical, morre com 52 anos, encontra-se sepultado no Panteão de
  S.Vicente de Fora;
- D. Afonso VI, tuberculose, morre com 40 anos, encontra-se sepultado no Panteão de   
  S.Vicente de Fora;
- D. Pedro II, Tuberculose? Sifilis? *, morre com 58 anos, encontra-se sepultado no Panteão 
  de S. Vicente de Fora;
- D. João V, epilepsia, morre com 61 anos, encontra-se sepultado no Panteão de S. Vicente
  de Fora;
- D. José, trombose cerebral, morre com 63 anos, encontra-se sepultado no Panteão de 
  S.Vicente de Fora;
- D. Maria I, psicopatia, morre com 82 anos, encontra-se sepultada na Basílica da Estrela
- D. João VI, envenenado, de acordo com recentes investigações (ano de 2000) 
  realizadas  por especialistas às vísceras do rei *, morre com 59 anos, encontra-se 
  sepultado no Panteão de S. Vicente de Fora;
- D.Pedro IV, tuberculose, morre com 36 anos, encontra-se sepultado na Catedral de

  Petropólis;
- D. Miguel, edema pulmonar? enfarte do miocárdio?*, morre com 64 anos, encontra-se

  sepultado no Panteão de S. Vicente de Fora;
         










- D. Maria II, parto distócico, morre com 34 anos, encontra-se sepultada no Panteão de   
  S.Vicente de Fora;
- D. Pedro V, febre tifóide, morre com 24 anos, encontra-se sepultado no Panteão de   
  S.Vicente de Fora;
- D. Luís, neurosífilis*, morre com 51 anos, encontra-se sepultado no Panteão de 
  S. Vicente de Fora;
- D. Carlos, morte violenta, morre com 45 anos, encontra-se sepultado no Panteão de  
  S.Vicente de Fora;
- D. Manuel II, edema da laringe, morre com 43 anos; encontra-se sepultado no Panteão de    S. Vicente de Fora. 
(média dinástica de vida 51 anos). 
(ref.  “Causas de Morte dos Reis Portugueses”, J.T.Montalvão Machado)  
* In  “A Doença e a Morte dos Reis e Raínhas da Dinastia de Bragança” - José Barata.


segunda-feira, 6 de maio de 2013

O saco de batatas

                           Recordações da guerra - Moçambique (1970-1972), Nangade

  “...Dize, dize ! Vaes para a guerra monta em mim, vou-te levar: não há cavalo na terra   
    que tenha tão bom andar...” A. Nobre
 
Poucos dias depois da operação de Tartibo, fui visitar os trabalhos em Nangade.
Tartibo, pequeno estacionamento militar no alto das margens do Rovuma, fôra a minha última missão. Cada vez que chegava a época das chuvas a companhia que estava estacionada lá em baixo a pouca distância das margens do rio, era literalmente submergida pela enorme cheia, obrigada a dormir no alto das árvores e a passar as rações de combate por um sistema de cordas. Era, compreende-se, uma situação insustentável e a exigir uma nova localização e um outro estacionamento para a desgraçada companhia que lá ia ficar.
Foi o que fez o meu pelotão.
Ainda me lembro da minha ânsia em me refrescar quando chegámos ao Rovuma, depois de um penoso, poeirento e  matagalento percurso desde Mueda. Precipitei-me, todo vestido, botas e tudo, para uma pequena lagoa no meio de descomplexadas gargalhadas dos “ mainatos “. “Porque é que te estás a rir, meu malandro ? “crocodili alferi, crocodili” e riam-se a bandeiras despregadas.
Na altura não achei piada, como tambem não achei piada à sessão de certeira morteirada com que foi brindada a partida da engenharia depois do trabalho concluído. O meu recente amigo, professor de filosofia na vida civil e então capitão miliciano da companhia de caçadores que lá ficou, também não.
Nangade só se parecia com Tartibo pela proximidade do grande rio. Aldeamento relativamente importante, no alto de um planalto, rodeado e semeado de cajueiros, era limpo, bem administrado e sede de um batalhão. Lá a guerra parecia longe e era quase como que um descanso para a tropa de engenharia ali destacada. De Nangade só tenho boas recordações, começando pelo “meu“ comandante, grande senhor, oficial de cavalaria, culto, de invulgar competência e com particular simpatia pela engenharia.
“Ó António” dizia ele para o cozinheiro, com a sua careca vermelha e escorrendo suor “este caril não está suficientemente picante aqui para o nosso alferes...” e olhava para mim sorrindo amigavelmente. E (como posso esquecer?) aquela visita que um dia recebi de outro oficial superior de outra arma vindo de Nampula, que não percebia nada de nada e, ainda menos, as minhas reservas quanto à utilização da pista, por nós recém-construída, para aviões Noratlas. “Compactação? Compactação? Que não está em condições? Isto está bom, isto está bom”, exclamava ele convicto depois de bater com a bota no chão, como se aquele bater de bota fosse equivalente ao impacto de uma aterragem de mais de 15 toneladas...
Foi, pois, com prazer que um dia voltei a levantar vôo de Mueda em direcção a Nangade.
Ia com o meu  amigo de infância André, piloto da força aérea e que, depois de tantos perigos
e missões arriscadas na fronteira Norte de Moçambique, morreu tragicamente num naufrágio
aqui, perto de Peniche. “Olha” disse-me ele “hoje não vens ao meu lado. Isto está a abarrotar
com tudo e mais alguma coisa. Vais atrás de mim, ali em cima dos sacos de batatas”.
“Está bem”.
E a DO levantou, mas não como era hábito, levantou em parafuso, na vertical. “Recebemos informações. Isto hoje não está bom, os gajos estão lá em baixo e mais vale nós irmos alto, muito alto”. “Está bem” e olhava lá para baixo para Mueda que, felizmente, se afastava cada vez mais. Ficava tudo o que eu conhecia estranhamente pequeníssimo. Era uma sensação algo desagradável, nada que se parecesse com os enebriantes vôos que tinha feito de heli escoltado por dois T6, quase lado a lado e a rasar a copa das árvores. E subimos, subimos na vertical até o André achar que já era seguro e, depois, rumo a Norte. Chegámos áquilo que para mim era um oásis.
“Os gajos estavam lá” disse-me ele inspeccionando a fuselagem e ao meu olhar interrogativo respondeu apontando para um buraco de bala na barriga do nosso aviãozito. “Cá está” e riu-se. Eu menos, era mesmo por de baixo do saco de batatas onde eu viera sentado.
”Ó António, hoje o caril tem que estar muito picante... ver se animamos aqui o nosso alferes”, exclamou o "meu" comandante quando soube da ocorrência.
Pois.