quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Os Toinos e o futuro de Portugal



                             
Ontem a televisão nacional ficou “vidrada” com um acontecimento de suprema importância. Na prática, uma disputa para a liderança do Partido Socialista mas na visão de jornalistas e de comentadores políticos nada mais nada menos do que o futuro da governação de Portugal (o putativo futuro primeiro ministro) e, também, (imagine-se!) no caso de um dos Toinos, do futuro candidato a Presidente da República de Portugal (porque não? tem-se visto de tudo).
Neste hipotético caso, o Toino passará do burrico da Calçada de Carriche para um carro topo de gama com a flâmula verde da presidência, ladeado por homens de preto, óculos escuros e auriculares, precedido e antecedido por ampla comitiva motorizada (violando as mais elementares regras de trânsito) e pelos indispensáveis batedores da GNR (insultados arrogantemente, se bem se lembram, com a total passividade dos seus chefes, pelo “senador” Soares).

O acontecimento (semelhante em muitos aspectos ao que se passa no Sporting Clube de Portugal) e que é um grão de poeira quando comparado com seja o que for e, sobretudo, com a onda gigante da Nazaré que, ela sim, mereceu amplo destaque nos órgãos de comunicação internacionais, teve um final feliz. 
Um Toino ficou (por enquanto) como lider do PS e declarou que logo que seja possível será convocado um congresso (o “onde está a pressa?” passou à história), o outro Toino anunciou a sua candidatura a presidente da Câmara Municipal de Lisboa e avisou o outro que se não tivesse juízo as coisas não ficariam por ali.

No fim de “deslealdades nunca vistas” e de “confrontações indesejáveis” ficou tudo resolvido.

Emocionante.

Portugal está salvo.

Uf.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A língua portuguesa


As estatísticas da UNESCO indicam que o português é a sexta língua mais falada no mundo e que entre as 6,7 mil linguas vivas no mundo, apenas é superada pelas línguas mandarim, hindu, castelhano, inglês e bengali. É, juntamente com o castelhano, a língua com maior potencial de crescimento.
Segundo aquela instituição, o número de falantes de português é actualmente de cerca de 200 milhões, número 70 vezes superior ao do século XVI no qual a língua portuguesa era utilizada, na sua forma arcaica, apenas por 3 milhões de pessoas. 
O português é a língua oficial de dez países: Angola, Brasil Cabo  Verde, Guiné-Equatorial, Guiné-Bissau, Macau (juntamente com o chinês), Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. 
O “Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa” inclui 228.500 entradas, 415.000 sinónimos, 26.400 antónimos e 57.000 formas arcaicas.
A palavra mais comprida da língua portuguesa (46 letras) é, de acordo com o dicionário “Pribaram on line” : 
Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconitico 
a qual significa: (pneumo- + -ultra- + microscópico + latim silex, -icis, pedra, pedra vulcânica + latim vulcanus, -i, fogo + coniose) s. f. Doença pulmonar causada pela inspiração de cinzas vulcânicas. 
Nos séculos XII e XIII, o galego e o português eram a mesma língua e em 2100 vocábulos do português primitivo, 1200 são latinos (57%), 800 árabes (38%) e 100 germânicos (5%). 
 
Posteriormente e como resultado do processo nacionalista que criou a Espanha, o português adquiriu a natureza de língua nacional e o galego, que nunca foi normalisado ou legalisado, limitou-se à Galiza. Foi cada vez mais substituído/alterado pelo castelhano, em particular a partir do segundo quartel do século XX, tendo o seu uso desaparecido nas prosas legal e literária.
 
Recentemente, a língua portuguesa sofreu em Portugal um grave desastre com o denominado
“Acordo Ortográfico”.
“Acordo” entre quem? Por vontade de quem?

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O "regresso aos mercados". Aleluia!


Os três “Dês” e os três “Efes”.
Sim, sim. Agora é que é. Agora, amanhã, Portugal voltará a crescer. Agora, amanhã, a “Troika” vai dar mais tempo. Vai dar 30 anos anos em vez dos cerca de 14, 6 para serem pagos 52 mil milhões de euros. Hoje o PSD dá a entender ao Zé Pacóvio que a “aflição” chegou ao fim, graças a ele PSDzinho (a Universidade Católica antecipa uma queda de 2,4% do PIB em 2013). O PS, raivoso, diz que sim mas que este pedido está atrasado e que ele já o tinha proposto há “anos”. Que é dele a ideia. O PSDzinho responde que não que o que irá acontecer nada tem a ver com o que o PSzinho propôz. E que, e que... amanhã voltamos aos mercados? E depois? E depois de amanhã? Daqui a dez, vinte anos? Ora gaita!

O que é hoje Portugal., ó PSDzinhos, ó PSzinhos?

Hoje, o dia-a-dia oferece-nos exemplos de aldrabice, corrupção, nepotismo, imbecilidade ou bacoca cultura, irresponsabilidade, ignorância, incompetência, mentira, prepotência, vaidade.
Tudo em adoração aos bezerros que não são só de hoje: o dinheiro, o poder.
 
Os famosos “ Três Dês “ dos cravos, passados quase 40 anos, não foram alcançados.
Desenvolvimento? Onde está ele esse desenvolvimento que nos equipararia à média dos países europeus ? (O PIB cresceu entre 1968 e 1973 a uma média de 7,5%, número superado apenas pela Grécia (8%) e Japão (9,5%), ou seja, em números absolutos, o PIB per capita saltou de 275 USD, em 1970, para 1217 USD em 1973; apesar do forte crescimento do país, o que reduziu o grande atraso relativamente aos países europeus ocidentais, Portugal continuava a ser o mais pobre da Europa*). No entanto e não é pouco, houve progressos enormes que o regime do 25 de Abril de 1974 promoveu nos campos da saúde (nomeadamente o Serviço Nacional de Saúde e a drástica redução da mortalidade infantil) e do ensino (49% da população com 14 ou mais anos não possuía ou frequentava o ensino primário). Mas, somos hoje um país de pedintes, sem soberania, sob fiscalização estrangeira.
Democracia? Não passa de corrupta libertinagem partidocrática sob a batuta de governos incompetentes “fiscalizados” por 230 “espertos”. 
Descolonização? Feita: total e rápida. Duas guerras civis que duraram mais de 20 anos e outra ainda em curso, mortos e estropiados em quantidade própria do horror, infra-estruturas vitais destruídas, dezenas de anos de retrocesso, uma minoria no poder que se banha na riqueza ao lado de populações na miséria. 
Os “Três Dês” são, excluindo a descolonização, uma sombra dos objectivos da "revolução dos cravos". 
Os odiosos “Três Efes“, qualificados nos ditos tempos do obscurantismo como “o ópio do povo”, como vão eles? 
Fátima é hoje uma Sodoma comercial com ostensiva construção, incentivada pelos poderes do estado democrático, que nela vê instrumento de sinalização nacional: atenção! existimos, estamos aqui, nós a fidelíssima, nós a exemplar nação multi-religiosa, multicultural, multi eteceteraetal.
 

O fado desapareceu para desespero dos seus amantes. E apenas uma minoria tem conhecimento de novos valores que rejuvenesceram a canção “património da humanidade”.
O futebol, cobertor para as desgraças e vergonhas que assolam este pobre país, é imbatível no tempo de televisão com professores e “misteres” a leccionarem matéria difícil e importante e é alarvemente considerado exemplo de competência e superioridade de nível mundial.  
No tempo da ditadura os “três Efes” eram o “ópio do povo" e hoje o que são? Bálsamos democráticos?   
Os “Três Efes” concentraram-se, volumosamente e na prática, no futebol. 
 
Vive-se num Portugal atado, impotente para solucionar soberanamente uma situação social, económica e financeira gravíssima. O governo age numa sucessão de trapalhadas, totalmente descoordenado. É a Europa que manda, que define e impõe o politicamente correcto sob a batuta de um ex-maoísta muito convencido da sua importância e da Alemanha...
Ironias e bizarrerias do destino. 
Um país pobre e que economicamente se converteu, quase totalmente, para o sector de serviços ficando ainda mais pobre e vulnerável pelo abandono da sua agricultura, pelo desmantelamento da sua frota de pesca, pela destruição ou venda ao estrangeiro da sua pequena e média indústria. Tudo a troco de “ajuda” europeia sob a forma de fundos “dados” ao “bom aluno” europeu. Tudo de forma “estudada”, consciente e frequentemente acompanhada por orgulhosa reclamação de direitos de autor. Toda uma ruinosa transformação sob a direcção de um Primeiro-ministro, hoje “venerando Chefe de Estado” e que descaradamente se esquece do que fez ou que incentivou a que se fizesse. Hoje, afirma ele, solenemente e “ex cathedra”, que para o necessário progresso económico é fundamental produzir e aumentar as exportações. Produzir onde? Na agricultura, nas pescas, na indústria, que ele destruíu? Exportar o quê? As autoestradas, rotundas e outras obras próprias de bacoco novo riquismo que sob a política dele se fizeram?   
O “venerando”, que não desgraçou mais devido ao que ele classificou como "forças de bloqueio", nunca tinha dúvidas e raramente se enganava... Vê-se.
*http://www.premioiberoamericano.cz/documentos/16taedicion/2doPremioXVI_MichalKovac.pdf 

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Os irmãos de Jesus



“A questão da existência de irmãos de Jesus é um problema para o dogma católico, não é um problema histórico.” 

Consoante se adere ou não ao dogma da virgindade de Maria, assim é ou não pertinente a questão de saber se Jesus teve irmãos e irmãs. A Santa Família é um ícone caro ao catolicismo que deixou sempre de lado aquela questão, obviamente embaraçosa.
No entanto, a questão dos laços de sangue nunca colocou qualquer problema teológico aos discípulos de Jesus, aos seus sucessores ou aos primeiros cristãos e isto até meados do séc. IV quando a polémica se levantou entre os doutores da Igreja e se arrasta até aos dias de hoje.
Não são apenas os Evangelhos apócrifos que referem os irmãos e irmãs de Jesus, são também os canónicos e os Actos dos Apóstolos que o afirmam. Nestes, embora as irmãs fiquem no anonimato, os irmãos têm nome. O que é surpreendente não é o facto de Jesus ter tido irmãos, mas sim que os Evangelhos não procurem escondê-lo e que o papel desses irmãos tenha sido menor e pouco lisonjeiro: alinham, sem qualquer espírito de família, com os adversários de Jesus e, contrariamente aos discípulos, manifestam indiferença e hostilidade.
“É louco“ (Mc. III, 21), “não acreditavam nele“ (João VII, 5). A sua mãe, irmãos e irmãs declaram que perdeu o juízo e tentam prendê-lo (Marco III, 21). 
A concepção “miraculosa” de Jesus constituirá ao longo dos séculos uma parte essencial da doutrina oficial da Igreja católica. No concílio de Éfeso, em 431, Maria será designada como Mãe de Deus, consolidando-se progressivamente a crença de que foi preservada desde o seu nascimento do pecado original, o que acabará por ser o dogma da Imaculada Conceição proclamado apenas em meados do séc. XIX pelo papa Pio IX (Bula "Ineffabilis Deus"). 
Jesus não era da família de David (outra das imposições das Escrituras para o messias) e nasceu do povo, de família muito humilde e numerosa? Ou, pelo contrário, descendia de David como é referido nos evangelhos sinópticos (por ser filho de José) e no Corão (por ser filho de Maria)?     
             


Igreja de Chora, Istambul. 
Ascendência de Jesus desde Adão.      



           


               Basílica de St. Denis, Paris.
               Ascendência de Jesus desde Jesse. 





Jesus (alteração de Yeshua e Isa em árabe) era o filho mais velho de Maria (Lucas II, 7), tinha
irmãs que viviam em Nazaré (Marco VI, 3, Mateus XIII, 56) e irmãos dos quais quatro são nomeados nos Evangelho de Marcos (VI, 3) e de Mateus (XII, 55): Tiago, José, Judas e Simão. Os irmãos de Jesus são objecto de referência explícita em documentos do Novo Testamento. Para além dos Evangelhos (Marco III, 31; Mateus XII, 46, Lucas VIII, 19; João VII, 3) são referidos nas Epístolas de Paulo (Gálatas I, 19; Coríntios IX, 5): “Depois, passados três anos, fui a Jerusalém para ver a Pedro, e fiquei com ele quinze dias. E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor” e nos Actos dos Apóstolos (I, 14). 
 

                                        







  
            O apóstolo Pedro  
                                                                          
                                                                         
                                                                                                       Tiago, "O Justo" 
Pode imaginar-se o círculo íntimo ou próximo de Jesus (se se ultrapassar a questão de saber até que ponto e em que medida uma família judia podia, no 1º século, conhecer com precisão a sua genealogia após a destruição dos arquivos por Herodes).
O seu pai José (João I, 45; VI, 42) morreu antes que Jesus tivesse qualquer actividade pública (dos seus 28 aos seus 30 anos) e teria tido sete filhos de Maria (ou também de Escha – prima de Joâo Baptista - e de Salomé?) (Augsburg Fortress 1995 ed. “Evangelical Lutheran Church in America”; "From Jesus to Christ: Jesus' Family Tree"):


Segundo esta interpretação protestante baseada em referências do Novo Testamento e dos antigos historiadores Josephus e Eusebius (Jesus and His World de John J Rousseau e Rami Arav, Augsberg Fortress 1995) - a qual, embora interessante, deve ser encarada com reserva -, Maria e José tiveram após Jesus mais filhos e filhas nascidos, pelo menos, durante um período de 12 anos após o nascimento de Jesus.
Jesus, Tiago (“O Justo, ”futuro bispo de Jerusalém e “pilar da Igreja“ segundo Paulo - Gál.II, 9), Judas e José e duas filhas Lysia e Lídia (ou Salomé e Ana?). Há outro Tiago, Tiago “o Maior” que se julga estar sepultado em Compostela.
Em conformidade com o direito judeu do “levirate“, o seu irmão mais novo Cleofas sucedeu-lhe como chefe da família casando com a sua viúva (Maria ou Salomé?) e tendo dela Simão (por esta circunstância irmão e primo de Jesus). Os filhos de José e de Cleofas exigiriam para uma cabal identificação uma referência ás mães, mas, na tradição judaica, o filho é identificado com referência ao nome do pai e nunca ao da mãe o que torna de certo modo surpreendente que Jesus fosse conhecido como “filho de Maria“ (Mc. VI, 3). 
O relacionamento de Jesus com a sua mãe é, de acordo com as escrituras, de uma brutalidade que não pode deixar de espantar. Quando a ela se refere é sempre de modo negativo e hostil: “Quem são minha mãe e meus irmãos?” (Mc. III, 6). No caminho para Jerusalém, Jesus cruza-se com uma mulher que louva a sua mãe: “Bem-aventurado o ventre que te trouxe (…) mas Ele disse: antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus...” (Lc. XI, 27, 28). Quando a ela se dirige, Jesus trata-a asperamente. Nunca a chama “mãe” mas sempre “mulher“, como se tratasse de uma escrava ou de uma criada: “Mulher que tenho eu contigo?...” (João II, 3). 
Maria tinha, eventualmente entre outras, duas irmãs, uma também chamada Maria, mulher de Alfeu, e outra Salomé, mulher de Zebedeu (Marco XV, 40; Mateus XXVII, 56; João XIX, 25). Estas irmãs eram mães de discípulos de Jesus: Tiago “o pequeno“ e Tadeu (ou Judas) filhos de Maria; Tiago e João (o discípulo “favorito“?) filhos de Salomé. 
Estes primos tomaram o nome de “irmãos do Senhor“, acompanharam-no sempre e foram os seus primeiros discípulos. 

O mundo de hoje e de ontem não seriam o que são e o que foram sem Jesus, o qual, no que se refere á influência de uma personalidade e doutrina, é uma figura ímpar na História da Humanidade. 
A questão apresenta uma desconfortável dualidade: coloca-se simultaneamente nos terrenos da História e da Fé, o que torna particularmente delicada qualquer conclusão, ou mesmo qualquer simples comentário ou interrogação, porque quem a eles se atreve corre o risco de desagradar ao historiador ou de ofender o crente ou de merecer o desprezo de ambos.

Lembra-se, a propósito, Lucas (II, 34):  

“...Ele será um sinal de contradição...”.
          

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Um átomo lusitano

Lembro-me de ter ficado indignado porque três semanas depois de termos violentamente criticado os que governavam Portugal, ele me ter confidenciado (desconfortavelmente) ter aceite fazer parte daquele grupo, da cáfila.
Na altura, lembrei-me da fábula do corvo e da raposa. 
Fiquei sorumbático durante meses e nem mesmo uma anedota inglesa que recebi sobre “morons” me animou. 
A anedota, reformulada, é a que segue:  
“Descobriu-se um novo elemento que se distingue por ser o mais pesado dos conhecidos pela ciência. Foi designado por Caenum Lusitanus. O Caenum Lusitanus é constituído por um grande número de partículas, rapidamente variáveis no tempo e, por esta razão, de dificil exacta quantificação. 
O elemento analisado possui 318 partículas todas elas com as características físicas próprias dos neutrões sendo, por isso, totalmente inerte na substância. Nele, identificaram-se um elemento central (o primus neutron), cerca de 87 partículas orbitais das quais 16 principais (adiutor neutron) e as restantes secundárias (amanuensis neutron). Foram também detectadas, mau grado a insuficiência de meios, 230 agitadas particulas sem massa e com funções desconhecidas (legatus neutron). Tendo um peso de 318, o elemento pode considerar-se como o mais pesado conhecido da ciência.”
A descoberta (de 2004) sendo de relativo interesse científico reveste-se de particular importância política e, numa época de permanente caça aos patos, não pode ser ignorada por putativos  candidatos a primus neutron. 
De um ponto de vista da física das partículas, mesmo das desprezáveis na importância do progresso socio-científico, a classificação de Mendeleieff, laboriosamente arquitectada e tendo então 63 elementos conhecidos não pode ignorar este novo elemento descoberto quase 150 anos depois da sua primeira elaboração. 
De facto, as fronteiras entre a Ciência e a Política (nomeadamente na sua componente sociológica) são cada vez mais ténues e difusas, como o demonstram o aparecimento de despiciendus neutron, por vezes mesmo de abjectus neutron (vulgo assessores), correspondentes, delegados, etc, governamentais. A sua existência não é devida a valiosas caracteristicas, como, por exemplo a competência, ou seja o iustus,o legitimus ou o idoneus, neutron, mas sim, como advoga a corrente prática partidária, é o resultado de acções a bem de "confrarias", "irmandades" e outras associações de "benfeitores". São os designados idiota neutron. 
Recentemente, uma reanálise do elemento revelou uma redução qualitativa e quantitativa dos elementos orbitais do primus neutron com consequências que os especialistas consideram próximas do estado de cisão, o qual pode ocorrer já em 2013.
Esta descoberta vai tirar do esquecimento - só comparável ao do reino de Hia (China, 1989 -1558 a.C.) - a nossa querida pátria (designação que estranhamente está novamente na moda). A justiça pode ser lenta mas chega sempre, graças a Deus, inch´allah! 
Note-se, para que não haja confusões e não me veja “em escala nos Açores”, que esta minha exclamação não é um tique, uma mania ou uma simpatia sunita ou xiita, tratando-se apenas d´un mot d´esprit resultante de me estar nas tintas se the Carmel and the Trinity falls upon me .
Fico-me por aqui e se alguém aparecer a aborrecer-me com ameaças, levas, ó primus
neutron, umas bengaladas à moda do século dezanove. 





                                                                                                        

                                                                                                                    




           

sábado, 5 de janeiro de 2013

Pátria, 1896/2012. A mesma história


"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. (...).

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...).

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. (...).

A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas; Dois partidos (...) sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar…" 

                                                                                   Guerra Junqueiro, "Pátria", 1896.