terça-feira, 30 de outubro de 2012

A sabedoria popular




Pensando nos tempos de hoje, em particular nalguns dos mui dignos deputados da Nação, transcrevo, o que recolhi há anos na “Crónica de El-Rei D. João I” de Fernão lopes mas que hoje não consigo nela localizar, a declaração de um representante do povo nas cortes de Évora (de 1391 ou de 1408):

“ (…) Não sabem que cousa é honra, nem quando deve a honra precedre o proveito, nem podem distinguir entre as virtudes morais. Sómente (...) como homens atónitos (...) com tumultos e vozes vãs, dão clamores de ora escolherem e ora enjeitarem, e segundo as vozes andam, assim andam(...)”

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Desiderata




                                      (Do Latim desideratu: aquilo que se deseja, aspiração)
                    Encontrado na Igreja de Saint Paul, Baltimore, datado de 1692

Avance calmamente no meio do barulho e da pressa e lembre-se de quanta paz pode existir no silêncio. Tanto quanto possível, sem capitular, esteja de bem com todas as pessoas. Diga a sua verdade com calma e clareza e oiça os outros, mesmo os estúpidos e ignorantes; eles também têm a sua história. Evite pessoas barulhentas e agressivas. São desagradáveis ao espírito. 
Se se comparar com outros, pode tornar-se vaidoso e amargo, porque haverá sempre pessoas superiores e inferiores a si. Goze os seus feitos e os seus desejos. Mantenha-se interessado na sua profissão, mesmo que ela seja humilde; é o que realmente se tem nas mudanças da sorte. 
Seja cauteloso nos negócios porque o mundo está cheio de truques. Mas não deixe que isso o cegue para a virtude: muitos lutam por altos ideais e a vida está cheia de heroísmos por todo o lado. 
Seja você. Sobretudo não finja afeição. Não seja cínico para com o amor, porque na aridez e desencanto ele é perene como a relva. 
Aceite gentilmente o conselho dos anos; renuncie com benevolência às coisas da juventude. Cultive a força de espírito para proteger-se do infortúnio inesperado. Mas não se amargure com imaginações. Muitos medos nascem da fadiga e da solidão. Para lá de uma saudável disciplina, seja bondoso consigo. 
Você é filho do Universo, não menos do que as árvores e as estrelas. Tem o direito de aqui estar. E, quer seja para si claro ou não, é indiscutível que o Universo progride como deveria. Esteja, pois, em paz com Deus, seja qual for a ideia que dele tem e, sejam quais forem os seus trabalhos e aspirações na barulhenta confusão da vida, esteja em paz com a sua alma. Com todos os enganos, penas e sonhos desfeitos, este mundo continua a ser maravilhoso. 
Seja alegre. Empenhe-se em ser feliz.




    

                          

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O Legado


                                              



                                                            Sintra árabe

Há quem entenda que somos herdeiros de um único legado, o legado judaico-cristão que marcou, ele e só ele, a nossa pátria, o nosso território, a nossa língua. No entanto, é possível conhecer com razoável certeza (que não afasta a dúvida) a natureza, a origem, o destino das coisas estudando e afastando dogmas e preconceitos.
Por vezes, o fanatismo é tanto que justificaria um abaixo-assinado que poderia englobar os seguintes quatro pontos:

1) Informação à Academia das Ciências de Lisboa que frases há que hoje apenas são figuras de estilo mas que, infelizmente, estão ligadas a uma herança que repudiamos, não por fundamentalismo judaico-cristão, mas porque a sua falsidade se revela pelo conhecimento histórico que temos da nossa pátria nos últimos 1300 anos (o que é suficiente, para não dizer muitíssimo).
Que se eliminem, desde já e, sobretudo, no ensino primário, entre outras, estas vergonhosas e totalmente inaceitáveis frases profanas:
Oxalá; Dar-se como Deus com os anjos; Deus queira; Deus é testemunha; Graças a Deus; Só Deus sabe; Se Deus quiser (*); Também ser filho de Deus; Haja Deus; Deus é grande; Nem à mão de Deus; Deus nos livre; Deus lhes perdoe; Deus o abençoe; Deus o acompanhe; Deus o oiça; Deus lhe pague; Homem de Deus; Louvado seja Deus; Meu Deus; Deus do céu; Por amor de Deus; Que Deus tenha; Sabe Deus; Santo Deus; Deus nos acuda; Valha-nos Deus; Ao deus-dará; A mão de Deus; Os desígnios de Deus; Estar-se bem com Deus; Deus o castigue; Deus lhe dê saúde. 
(*) Versículos 23 e 24, capítulo 18 do Alcorão “E nunca digas de coisa alguma, sim, fá-la-ei amanhã, sem acrescentar: se Deus quiser”. 
Se quase toda a Europa, de que fazemos orgulhosamente parte, passa bem sem elas porque não nós? Seremos pouco inteligentes para poder e saber usar apenas umas poucas mas pertinentes vezes a palavra “God”, como o faz esse farol da humanidade que são os E.U.A? 

2) Que se comunique a uma Máxima Entidade Territorial - que não se designa explicitamente dada a actual mas confusa interpenetrabilidade de competências legislativas - (se, oficialmente há “inconseguimento” e “endoprocedimento” porque não utilizar neste intelectual contexto “interpenetrabilidade”?) que a vila de Nazaré se deve passar a  denominar Belém.
Não há desculpa para ignorar a verdade histórica e insistir no erro. Para evitar qualquer confusão ou duplicação toponímica, poder-se-á, designar aquela vila por “Belém-de-Cima”, ficando a ser conhecido por “Belém-de-Baixo” a freguesia de Lisboa com aquele mesmo nome. 

3) Que a Assembleia da República nomeie uma comissão para analisar os topónimos do território nacional, eliminando todos e quaisquer que tenham raiz árabe ou que resultem da associação do árabe e do latim ou que sejam de etimologia árabe. De facto, haverá alguma herança árabe em Portugal? Claro que não! Só fanáticos cegos à verdade podem crer e, mais grave, divulgar uma tal falsidade. A única e grande herança que o nosso bom povo tem, como de todos é sabido, é a judaico-cristã, Ela e só Ela. 
Conscientes das graves dificuldades económicas, financeiras, sociais e políticas que a pátria atravessa e reconhecendo o trabalho ciclópico e desinteressado dos mui dignos deputados da Nação propõe-se que sejam constituídas comissões, uma por cada concelho, que se encarreguem de analisar topónimos blasfemos porque atentatórios á herança judaico-cristã e desvendar o que seriam antes da profanação. 

a) Topónimos de origem árabe (aqueles que possuem raiz árabe e que permaneceram com pequenas alterações desse radical):                                               
Albarraque (Albarrak = "o brilhante" ou, para outros autores al-barraque, plural de al-barca = "solo duro");
Alcainça (al-kaniça = "a igreja");
Alcoruim ou Alcorvim (al-cairuáne = "o caimão");
Alfaquiques (alfaqueques, cargo muçulmano que designava o indivíduo que resgatava prisioneiros);
Alfouvar (al-fauwara = "o bolhão");
Algueirão (al-guerame = "a gruta");
Almargem (al-marge = "o prado");
Arrabalde (arabáde = "os subúrbios");
Assafora (assahra =  "Campina")
Azenha (aççania, isto é, "a nora");
Azoia (az-zavia = "o mosteiro");
Cacém (cacéme = "o que divide");
Moçaravia (muçtarabe = "aquele que se tornou árabe");
Queluz ( qá-luz = "vale da amendoeira");
Mucifal ( maçfal = "o lugar que está em baixo");
Massamá (maçama = "o que está alto");
Meleças (meliça = "o vazio");
Almoçageme (al-mesjide = "a mesquita").

b) Topónimos híbridos (resultantes da associação de dois topónimos, um árabe e um latino):  
Alcolombal (da junção do artigo árabe "al" com a palavra latina "columbare", que significa pombal),
Alcobela (do árabe "al- quibba" mais o sufixo "ela"),
Almoster (o artigo "al" mais o termo latino " monasterium", que significa mosteiro).

c) Topónimos arábicos modernos (de raiz desconhecida, mas facilmente identificáveis com a etimologia árabe):

Abonemar,  Aljabafaria, Almornos, Almosquer, Alparrel, Alpoletim, Alvegas, Asfamil, Bogalho, Calaferrim, (o mesmo que Canaferrim, que daria mais tarde Penaferrim - S. Pedro de Penaferrim), Galamares, Mafarros (ou Nafarros), Magoito, Meleças, etc. 

Para esclarecimento dos ilustres deputados e para que não fiquem com a ilusão de que esta vergonha só se passa no concelho de Sintra, podem apontar-se outros exemplos no território nacional: 
Almada ­ do árabe Al-Ma'din, significa a mina, relacionado com a riqueza aurífera das minas da Adiça. Alcochete ­ deriva da expressão árabe que significa o forno, aludindo à riqueza energética derivada da combustão das madeiras abundantes nos pinhais da margem sul do Tejo. Azeitão ­ deriva da expressão árabe que significa azeitona, remetendo para uma intensa actividade agrícola existente na encosta norte da serra da Arrábida. Arrábida deriva da expressão árabe que significa lugar de oração Alcácer­ deriva da expressão árabe Al-Kasr que significa castelo ou palácio. Cacém (Santiago do) ­ terá origem no nome do governador muçulmano Kassen que terá comandado esta praça.

Esta vergonha também ocorre a norte de Lisboa, chegando mesmo até a Trás-os-Montes (por exemplo, a vila de Alfarella de Jales) e ao Minho (por exemplo, a aldeia de Alfella). 

4) Que se elabore uma petição pública para que o hebraico e o aramaico sejam consideradas segundas línguas (ex-aequo) no ensino básico e que, em opção, o inglês passe a ser terceira língua. Só através da língua se poderá assegurar que as gerações vindouras reconheçam, sem sombra de dúvida, como única herança (à exclusão de qualquer outra) a judaico-cristã. Mais nenhuma outra que o maligno não desistirá de lhes oferecer como a verdadeira.
Foi, não o esqueçamos, com o aceno da sabedoria, que Adão trincou a maçã e, suspeito, não só.

Estive a brincar…

            

domingo, 21 de outubro de 2012

A corja e a cáfila


    


           
(Corja, do malaio korchchu, que se refere apenas a um conjunto de vinte. Cáfila, conjunto de pessoas de má índole, conjunto de camelos.).
Apetece fugir, deixar de vez esta pátria que mais ninguém sabe reconhecer, gramatical, cívica e humanamente. Para poder partir teria de meter no bornal o Marão, o Douro, o Mondego, a luz de Coimbra, a biblioteca e as vogais da língua. (Miguel Torga).

“É fartar vilanagem”, gritou António Vaz de Almada, conde de Avranches apoiante do infante regente D. Pedro, na altura da sua morte na batalha de Alfarrobeira em Maio de 1449.
“É fartar vilanagem” deveriam exclamar diariamente os cidadãos deste desgraçado país. A incompetência, a corrupção, a mentira, o nepotismo, saem do esgoto e inundam-nos, com a complacência da corja. Nenhuma organização política com um horizonte de poder, mesmo que ténue, escapa.
É vê-los justificar o injustificável, desdizer o que foi prometido, explicar a nós, pobres ignorantes, que está certo o que é ou era errado, tudo com a sobranceria própria dos que sendo fortes são imbecis para com os que tendo razão são fracos e, sobretudo, impotentes.
É lê-los nos jornais e livros, ouvi-los nas rádios e vê-los nas televisões. Vê-los, sem que tenham a vergonha de tapar a cara, ali com o desplante que confere a certeza da impunidade.
Por mim, rasgo, desligo, fecho e se não fosse coisa que desse trabalho e incómodos, procurava essa canalha e dava-lhe umas bengaladas. Umas bengaladas, como os camponeses costumam dar às bestas.
Mas sou apenas um dos muitos portugueses sujeitos à prepotência da corja. Da corja que é acompanhada e bajulada por uma cáfila própria dela que, em geral, protesta e barafusta quando os seus sagrados “direitos adquiridos” são ameaçados ou beliscados.
Direitos? Muito claros. Deveres? O que é isso?
E a cáfila desinforma com uma arrepiante iliteracia, deseduca pela ignorância e pelo exemplo, legisla no completo desconhecimento da realidade e com a preocupação de deixar marca histórica, trata as contas do Estado com precisão imbecil, erra cálculos e construções, engana o consumidor, atende por favor os contribuintes.
Tudo impunemente ou a esclarecer oportunamente por uma comissão de inquérito.

Há excepções? Claro que sim de acordo com as leis da natureza. Segundo uma delas, das mais importantes, a desorganização de um sistema isolado, medida por uma denominada entropia, a qual, aumentando por definição ilimitadamente, traduz a morte do sistema a partir de um determinado valor.
Esta lei aplica-se ao dia-a-dia: em termos simples, quando, pelo abandono, a entropia de uma coisa aumenta descontroladamente, o resultado é a destruição dessa coisa.
Um governo incompetente, uma educação descuidada, são como o sol num pedaço de gelo ou como o abandono de uma casa ou de um campo ou como a ignorância de uma doença. É essa destruição que ocorre hoje em dia na sociedade portuguesa. O espectáculo não é pequeno.
Assiste-se à destruição da honestidade, da responsabilidade, da autoridade, do respeito, do trabalho, da competência, da justiça, da cortesia, da dedicação, da noção do dever, do esforço, da gratidão, do brio, enfim, dos valores.
Será que os que receberam em herança princípios e valores os transmitem e os preservam do aniquilamento ou de vergonhosas alterações? Que pais, professores, chefes, governantes, respondam honestamente. A resposta é: não. Portugal está mal. Portugal, “país de povo indisciplinado e governos incompetentes” e que “tem um povo que não se governa e não se deixa governar”, está mal.
É a primeira vez? Não, Portugal atravessou momentos difíceis, de natureza política ou económica, e conseguiu sempre ultrapassá-los. Com Afonso Henriques, Afonso III, João I, João II, João IV, João VI, Salazar, o MFA. O povo, ou quem por ele agiu, resolveu sempre, melhor ou pior, os males do país.
E hoje? Hoje, o dia-a-dia oferece-nos exemplos de aldrabice, corrupção, nepotismo, imbecilidade ou bacoca cultura, irresponsabilidade, ignorância, incompetência, mentira, prepotência, vaidade. Tudo em adoração aos bezerros que não são só de hoje: o dinheiro, o poder.
                   
              

Os famosos “Três Dês “dos cravos, passados quase 40 anos, não foram alcançados.
Democracia? Qual? A “alargada”, a “participada”, a “social “, a “avançada”, a “etecetera-e-tal “? Quando algo necessita de qualificativo é porque por si só está no meio da bruma da interrogação. É como ela está.
Desenvolvimento? Os peritos afirmam, com todas as letras e números, que Portugal está longe da situação e do desempenho dos seus parceiros europeus.
Descolonização? Feita. Total e rápida. Três guerras civis que duraram mais de 20 anos, mortos e estropiados em quantidade própria do horror, infra-estruturas vitais destruídas, dezenas de anos de retrocesso, uma minoria no poder que se banha na riqueza ao lado de populações na miséria.
Os odiosos “Três Efes“, qualificados nos ditos tempos da obscuridade como “o ópio do povo”, como vão eles? Prósperos, melhores do que nunca.
Fátima, que se respeita por ser crença, é hoje uma Sodoma comercial com ostensiva construção, incentivada pelos poderes do estado democrático, que nela vê fonte de receita e instrumento de promoção não só turística mas, sobretudo, de sinalização nacional: atenção, existimos, estamos aqui, nós a fidelíssima, nós a exemplar nação multi-religiosa, multicultural, multi etecetera-e-tal.
O fado (recentemente promovido a património da Humanidade) tem o seu expoente máximo (que tinha que se ouvir envergonhadamente e nunca aplaudir na presença de “antifascistas“) condecorado e a sua sepultura transladada para o Panteão Nacional (o nosso rei Sancho II continua perdido em Espanha, julga-se que na catedral de Toledo).
O futebol é exemplo de uma obscena promiscuidade entre os seus dirigentes e os responsáveis do Estado, desde juízes até presidentes de autarquias, passando por altos responsáveis partidários. Os seus agentes, em geral, não têm, princípios e são exemplos de grosseria e de ausência total dos mais elementares princípios da ética, disputam, com naturalidade e de igual para igual, o território próprio de ministros e passeiam-se com a altivez e o à vontade de presidentes. A impunidade é total e o futebol também ele é condecorado com o fundamento de divulgar no mundo a imagem de Portugal e de o promover a “potência” europeia.
Fátima, Fado e Futebol eram no tempo da ditadura o “ópio do povo E hoje o que são? Bálsamos democráticos? Patético.
A corja e a sua cáfila destroem diariamente a estrutura desta nossa sociedade que foi construída com luta e sangue.
A velha árvore de ramos rudes mas ordenados pela hierarquia da idade, competência e responsabilidade foi cortada com selvagem e alegre imbecilidade pela vilanagem e é hoje uma coisa de amalgamadas e “democráticas” excrescências. Nelas se sentam as cáfilas velha e nova, onde mais lhes convém, onde bem lhes apetece, com a benevolente aquiescência da corja mandante.
Pais e filhos? Professores e alunos? Subordinados e chefes? Para quê distinções? Tudo iguais, tudo “amigos”, tudo ao molhe.
Na religião, o Mal é o Diabo. Neste pobre Portugal, é a Corja e o seu séquito, a Cáfila.