segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Edgar Cardoso e a Ponte sobre o Tejo

"Porque é que Edgar Cardoso não projectou a ponte Salazar sobre o Tejo? ".
 

Esta a pergunta que surge nos "termos de pesquisa" deste meu blog "Na Nuvem do Acaso".
É uma interrogação pertinente dado o prestígio e excepcional competência do Mestre Edgar Cardoso. 
Tive a honra de o ter como meu professor na disciplina de "Pontes e Estruturas Especiais" do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa.
Fui por ele muito bem classificado e sempre teve comigo um relacionamento afável que se traduziu numa carta de recomendação para a frequência do meu curso de especialização em França, mas, na minha opinião, as suas qualidades didáticas eram abaixo da média e muito longe do seu saber e experiência: excepcional engenheiro, mau professor.
Na sua actividade profissional tinha, em geral, uma característica: não apreciava a transposição para o desenho das suas soluções estruturais e previlegiava o estudo por modelos reduzidos (caso da belíssima e, em muitos aspectos, estruturalmente revolucionária ponte de S. João no Porto com troços por ele analisados em modelos à escala natural - 1/1).

Tinha enorme desprezo pelas então modernas técnicas matemáticas aplicadas ao cálculo estrutural, como era o caso do “método dos elementos finitos” só viável na prática com o aparecimento do computador.
Mas os modelos à escala natural são, como é compreensível, caros e só merecem o aval do Dono de Obra em casos muito especiais.
O Mestre era um caso especial e só ele tinha a força do prestígio a apoiar as suas exigências.
Mas voltemos ao caso da Ponte sobre o Tejo em Lisboa. Foram apresentadas a concurso várias soluções, todas elas eram inevitavelmente do tipo "ponte suspensa" e uma delas era da autoria do Mestre. A solução estrutural era única e muitíssimo avançada para o seu tempo e por isso suscitou, julgo, surpresa e muito provavelmente desconfiantes receios. A dimensão do seu vão central colocava-a na época como a maior ponte suspensa da Europa e uma das maiores do Mundo. 

Mas a razão da escolha da solução que traduzia o que é hoje a actual ponte foi fundamental uma: as condições financeiras. Por elas e só por elas a United States Steel ganhou o concurso.
O que atrás é escrito é apenas um resumo de resposta a uma interrogação colocada por um leitor. Muito mais haveria a dizer mas não muito interessante para o leitor comum.

Sem comentários:

Enviar um comentário