O actual sistema politico tem-se revelado como a maior barreira à resolução
dos problemas que afligem os cidadãos. Na justiça, na saúde, na economia, na
educação, para só citar quatro importantes sectores.
Especialistas em ciência política, comentadores e analistas políticos parecem insinuar
que os problemas que diariamente afectam o cidadão são inevitáveis por
resultarem do enfraquecimento das instituições ou da incoerência partidária,
para não falar da corrupção e dos interesses instalados.
No entanto, a política é hoje em dia uma indústria com os objectivos e os
interesses de qualquer outra indústria, nomeadamente a concorrência e a procura
de benefícios próprios. A política deixou de ser organizada para a defesa do interesse
público e tende a beneficiar interesses privados que passaram a ser seus
aliados e temíveis inimigos.
Pense-se nos resultados das privatizações e na promiscuidade entre as
grandes empresas privadas e os cargos do Estado, a que nem sequer escapam
membros do governo e deputados.
Os partidos, muito em particular o PS e o PSD, concorrem na divisão do
eleitorado e na satisfação de interesses alheios, com base numa ideologia por vezes
incoerente e em promessas irrealistas que não tencionam cumprir.
Ano após ano os interesses do cidadão saem frustrados e os principais
actores do sistema político mantêm-se, na prática, em lugares que o próprio
sistema fiscaliza ou passam a desempenhar altos cargos em empresas que,
inclusivamente, tutelaram. Não há vergonha.
Os cidadãos-votantes esperam soluções para os problemas que os afligem.
Soluções definidas pelos agentes do sistema político que eles próprios
escolheram; soluções viradas para a realidade e não para uma qualquer ideologia; soluções que resultem da avaliação e de um equilíbrio de posições diferentes e
eventualmente conflituantes. Tudo isto exige compromisso e concessão e embora a
importância da solução possa ser politicamente óbvia ela é raramente implementada
quando entra em conflito com interesses partidários ou económicos.
Esta realidade não é só a de Portugal, afecta outros países europeus como,
por exemplo a Itália, a Espanha, a França. O que fazer? Protestar com violência e à beira de uma revolução política? Talvez. É o caminho que os
coletes amarelos parece terem escolhido em França mau grado a constante ameaça
do terrorismo. Após Estrasburgo ficou quase tudo na mesma nas ruas de Paris e de outras
grandes cidades francesas.
E por cá? Somos um povo de brandos costumes, dizem. Não
foi o que se verificou após a invasão francesa com a fratricida luta entre D. Miguel I e
D. Pedro IV e a guerra civil que a acompanhou. O início do
século XX, em particular o período da revolução republicana, ficou marcado por
assassinatos políticos e no passado dia
14 de Dezembro comemorou-se o centenário do assassinato do “Presidente-Rei”
Sidónio Pais. A revolução do 25 de Abril teve episódios violentos e esteve-se à
beira de uma guerra civil. Onde estão no passado recente os “brandos costumes”?
Estão marcadas (publicitadas nas redes sociais, provavelmente pela extrema direita) para o
próximo dia 21 (data muito conveniente)
manifestações de “coletes amarelos” portugueses, em relação às quais os
partidos da esquerda (BE e PCP) se demarcaram imediatamente, e 20.000 polícias já foram colocados em estado de alerta com folgas e créditos horários suspensos.
O movimento, que se estima ir afectar 17 cidades, ameaça com o corte dos
acessos à Ponte 25 de Abril, acusa "os sucessivos governos
incompetentes" de terem destruído os sectores primário e secundário e apresenta
um extenso “caderno reivindicativo” com exigências de implementação “imediata”.
Delas, destacam-se o fim dos impostos sobre os produtos petrolíferos, o corte
para metade do IVA sobre os combustíveis e gás natural, a redução das taxas
sobre a electricidade, a concessão de incentivos para as micro e pequenas
empresas com a correspondente taxação das grandes empresas, o aumento do
salário mínimo nacional, o aumento do subsídio de desemprego, o fim das subvenções
vitalícias para políticos, o combate contra a corrupção no Governo, na
Administração Pública, nos serviços públicos e nos sectores empresarial e
bancário, a redução do número de deputados na Assembleia da República.
Quem é que não concorda?
A mancha de insatisfação alastrou-se a Portugal. Será que tem significado?
Será que terá consequências? Ver-se-á, mas que o sistema político não está ao
serviço dos cidadãos não está.
(...ético, honesto e que coloque o interesse público acima dos seus próprios interesses"...)