Ultimamente tem-se
assistido por estas bandas a um chorrilho de frases, comentários e atitudes
nunca ocorridas na vida da nossa “jovem democracia”.
Não entendo esta
designação de “jovem democracia”. A nossa democracia já não é tão jovem como isso e
uma rápida comparação com regimes europeus, africanos, asiáticos e
sul-americanos comprová-lo-ia.
Quem se esquece da trágica
Alemanha de Hitler, da megalómana Itália de Mussolini, da Espanha de Franco com
uma guerra civil que deixou marcas até hoje, da URSS, da sangrenta Rússia de Lenine e dos
seus “ínclitos” sucessores como Stalin e companhia? Eram ditaduras que nesses
tempos mereceram, por medo ou pusilanimidade, a compreensão, o distanciamento
ou mesmo o apoio de democracias.
Comparada com aquelas
tragédias, que constituem referências históricas e que marcaram para sempre a
segunda metade do século XX, a história da última ditadura em Portugal é uma
brincadeira de crianças.
Esquece-se, porque tal é
politicamente conveniente, que a ditadura de Salazar teve no seu início o apoio
incondicional de hoje considerados democratas como Henrique Galvão e Humberto
Delgado. Porquê o apoio destas figuras, hoje consideradas símbolos da liberdade,
numa altura em que a liberdade de expressão claramente já não existia e a ditadura era plenamente assumida? Porquê a
sua revolta tardia? Por profunda reflexão, por zanga, por ambição, por despeito político?
Para se sentir a
importância do tempo na avaliação de figuras da história ou que a ela passarão
de modo relevante (não me refiro a figurinhas, actualmente em grande
abundância, que em qualquer livro merecerão, quanto muito, duas linhas de
rodapé), pense-se no caso de Sebastião José de Carvalho e Melo (meados do século
XVIII), ministro poderosíssimo de um fraco rei (D. José I).
Passados mais de dois séculos e meio
continua a ser uma personagem controversa, havendo por um lado os que o
consideram como um dos grandes estadistas da história de Portugal e, por outro,
os que, bem pelo contrário, o caracterizam como tenebrosa figura de um regime
ditatorial. Ainda hoje a polémica continua apontando ou ignorando o que de bom
houve na sua governação (e foi muito) ou denunciando ou justificando o que foi
horrível (e não foi pouco). A celeuma continua e julgo que será para sempre.
A este propósito e como exemplo de cegueira por ódio perene, conto o que me foi dito, nos inícios dos anos 70, quando fazia parte de uma equipa do projecto da extensão do Metropolitano de Lisboa. A dada altura, interroguei por que razão a estação situada na praça “Marquês de Pombal” era designada por “Rotunda” (e assim ficou durante largos anos). Foi-me respondido, com a condescendência que os velhos têm para com os novos, que tal se devia ao facto do então administrador do Metro ser um descendente de um dos martirizados pelo Marquês e que, por isso, tal estação nunca teria o nome do tirano. Mudam-se os tempos, mudam-se os administradores, mudam-se as vontades.
A este propósito e como exemplo de cegueira por ódio perene, conto o que me foi dito, nos inícios dos anos 70, quando fazia parte de uma equipa do projecto da extensão do Metropolitano de Lisboa. A dada altura, interroguei por que razão a estação situada na praça “Marquês de Pombal” era designada por “Rotunda” (e assim ficou durante largos anos). Foi-me respondido, com a condescendência que os velhos têm para com os novos, que tal se devia ao facto do então administrador do Metro ser um descendente de um dos martirizados pelo Marquês e que, por isso, tal estação nunca teria o nome do tirano. Mudam-se os tempos, mudam-se os administradores, mudam-se as vontades.
A Salazar, menos de cinquenta
anos após a sua morte, foi retirado o seu nome à maior ponte de Portugal (e no
seu tempo a maior da Europa e uma das maiores do Mundo), substitui-se o seu nome em ruas, avenidas, praças e pracetas, esconderam-se, demoliram-se ou
vandalizaram-se as suas estátuas. Tudo em nome da “vontade popular”, por
definição “democrática”, “antifascista” e defensora da “classe operária” (que não existe).
Um
discurso, um comportamento que a história, dentro de poucas gerações, corrigirá.
Salazar não teve, nem de longe nem de perto, a crueldade do Marquês ou a de um
Pedro “o Cru”, apenas viveu numa época com padrões de avaliação política e ética muito diferentes dos de hoje.
Como se pode negar que Salazar
e a sua ditadura, a qual sempre assumiu e nunca negou, regularizou a dramática
situação financeira que herdou (o que levou mais de 70 anos), deu, à maneira do
seu tempo, paz e segurança ao povo, lidou com uma perigosa situação
internacional poupando Portugal aos horrores de uma guerra que deixou um rasto
de mais de 70 milhões de mortos? Como se pode negar, ignorar ou esconder o apoio a uma política
colonial dos seus antecessores republicanos? É certo que tudo isso foi feito com o
sacrifício de liberdades e o atraso em sectores tão importantes como a saúde e a
educação.
As ferozes críticas hoje
feitas à política salazarista são, na minha opinião, principalmente consequência de uma análise
política contemporânea baseada em conceitos e práticas totalmente diferentes das do
passado.
Noutro registo, o mesmo acontece com análises, feitas à luz dos princípios de hoje, sobre o suplício dos Távoras ou sobre as cruéis vinganças de Pedro I ou sobre a implacável justiça de João II. Outros tempos.
Noutro registo, o mesmo acontece com análises, feitas à luz dos princípios de hoje, sobre o suplício dos Távoras ou sobre as cruéis vinganças de Pedro I ou sobre a implacável justiça de João II. Outros tempos.
Esta minha diatribe fez-me esquecer a
verdadeira razão deste meu escrito: a inédita situação de insulto político que
hoje se vive, que já aqui referi e que os meios de comunicação social
gostosamente relatam.
Chegou-se ao ponto de
transformar a própria Assembleia da República em arena de injúrias e baixas insinuações
a propósito de tudo e de nada. Foi, é, a situação catastrófica do sistema
financeiro português com a CGD a liderar o “ranking” mediático, são os resultados da
política económica do governo os quais quando são bons são “nossos” e quando
maus são “deles”.
E, agora, cereja a coroar o bolo: o anterior secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, após ter negado conhecimento sobre a matéria mas entalado pela realidade, veio agora assumir a responsabilidade “política” da não publicitação e consequente não fiscalização da transferência de 10 mil milhões de euros (!) para paraísos fiscais realizada entre 2011 e 2014 durante o governo PSD/CDS. Uma insignificância vergonhosa, uma espantosa e maravilhosa coisa.
E, agora, cereja a coroar o bolo: o anterior secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, após ter negado conhecimento sobre a matéria mas entalado pela realidade, veio agora assumir a responsabilidade “política” da não publicitação e consequente não fiscalização da transferência de 10 mil milhões de euros (!) para paraísos fiscais realizada entre 2011 e 2014 durante o governo PSD/CDS. Uma insignificância vergonhosa, uma espantosa e maravilhosa coisa.
No fundo, tudo é resultado
do que hoje faz muita falta em casa, na escola, no trabalho: e-du-ca-ção.
Neste país de doutores
verifica-se, no dia-a-dia, que “o que o
berço não dá Salamanca não ensina” e a política longe de ser uma excepção é
um dos expoentes da corrupção, do compadrio, da mentira, do roubo e de falcatruas
de todo o género.