quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Ora bolas!



Começou a desgarrada eleitoral com outro assunto importantíssimo, largamente coberto pelos canais televisivos e pelos jornais. O da discordância partidária quanto ao modelo dos debates entre as candidaturas às próximas eleições legislativas.

Diz a oposição em bloco que se trata de debates entre candidaturas e não entre os partidos e que no caso de coligações só pode participar um representante dessa coligação. Invocam o disposto na Lei e se de facto a Lei assim o entende assim deveria ser feito.

Diz a actual coligação de dois partidos que não. Que os “lideres” dos partidos que dela fazem parte e que concorrem às eleições novamente coligados têm ambos o direito de participar conjuntamente nos debates. Este entendimento conduziria, julgo, a um desequilíbrio informativo. De facto, se por hipótese houvesse uma coligação eleitoral de 4 partidos e, do outro lado, um único partido concorrente, o tempo de debate seria de 80% versus 20%. Debate equilibrado? O bom-senso diz que não.

Vai daí, assiste-se a uma guerra infantil entre pessoas crescidas.

Ai eu não posso participar? Então não participamos todos. Ai só um representante de uma coligação pode participar? Então, no debate tal não vai o “líder” vai o “sub líder”. Ah sim? Então nós também enviamos um “sub líder”. Ai vai um “sub líder”? Então eu “sub líder”, que não desprezo ninguém, que nunca recusei qualquer debate e que sou um democrata não vou comportar-me como nos regimes comunistas em que se prendiam e cortavam cabeças e aceito um debate com um “sub líder”.

Enfim, uma discussão ridícula. Mesmo que assim não fosse, qual seria, qual é, o interesse dos debates? Hoje em dia, pouco ou nenhum porque já se sabe o que irão trazer.

De um lado, uma constante e repetitiva referência à irresponsável governação passada que levou o país à banca rota e que só uma inconsciência colectiva desejaria ver repetida. Também o sublinhado de indicadores económicos, financeiros e sociais que traduzem uma “tendência” para uma “clara” consolidação orçamental, um decréscimo do desemprego, uma redução do deficit e da dívida pública e eteceteretal. Enfim, a proclamação do sucesso de uma política de austeridade cujas agruras e graves consequências o eleitor já esqueceu. O exemplo grego será também utilizado até à náusea.

Do outro lado, da oposição, os argumentos não são unânimes. Sair da zona euro e não aceitar o Pacto Orçamental ou modificar um regime de austeridade por outro diferente o qual, no entanto, se encontra mergulhado na névoa, na contradição e no disparate numérico de que é exemplo a “promessa” da criação de 207000 postos de trabalho - a qual afinal nunca foi promessa mas apenas o resultado expectável de uma estimativa política – e cujo número é aquele e não 199900, nem 267.000, nem 207001, nem mais nem menos. Também se discutirá a bondade da informação estatística, porque não é “homóloga”, porque não se baseia em “modelos” normalizados, porque esconde e manipula a realidade. Apontar-se-á para a falta de fundamentação analítica do programa eleitoral da coligação. Far-se-á apelo à confiança ou à competência ou a uma política patriótica e eteceteretal.

Claro, também surgirão de ambos os lados declarações laudatórias ou pouco modestas ou pouco realistas e “sujidades”.

Novidades? Nenhumas. Esclarecimentos? Nenhuns. Definição clara de reformas estruturais? Nenhuma. Promessas? Muitas, como é hábito.

Porquê tanta discussão e negociação sobre os debates? Porque, tal como a magna questão dos cartazes, é o resultado do estado a que isto chegou.

E assim anda Portugal nestas estúpidas desgarradas.

“Que mais irá acontecer?”.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

O 7º sexy





Para além das grandezas e misérias do futebol um dos assuntos que recentemente mereceu destaque nos órgãos noticiosos foi a lista dos políticos mais “sexy” do mundo.
Num rol de 200 personalidades o Coelho ocupa o 7º lugar!
Não lhe chegava ter chegado a 1º ministro, adjunto da Merkl e a quem se deve, segundo o próprio, a genial solução do problema grego, ser o 2º político mais aldrabão da nossa recente história, logo a seguir ao Sócrates, ter sido um 3º candidato à presidência do PSD, que finalmente venceu, ser o 4º filho de um casal profissional da saúde, cujo sistema, o SNS, ficou com a sua política às portas da morte, ser o inquilino de um 5º andar na Rua da Milharada em Massamá, ser o 6º primeiro-ministro não socialista dos governos constitucionais. Enfim, tirando a solução grega, esta série numérica não é curricularmente interessante e vai daí aparece candidato a um lugar no pódio dos 10 mais “quentes” políticos do mundo, do mundo “sexy”. Um 7º sexy, um sétimo céu, valha-nos Deus.
Azar ou injustiça: não conseguiu vencer os bonitões rei do Butão, que ganhou a medalha de ouro, presidente do México, que ficou com a de prata e Filipe VI rei de Espanha a que foi concedida a medalha de bronze. Dois reis e um presidente da república. É obra.
Em 4º lugar ficou Cristina Kirchner, o que merece entusiásticos aplausos, o 5º lugar é ocupado por outra beleza como é o presidente congolês Kabila e, mau grado uma eventual cunha do luxemburguês Jean Claude Junker, o Coelho não conseguiu obter o 6º lugar ganho pelo grão-duque do Luxemburgo. È o que dá ser-se plebeu e confiar-se nas amizades políticas.
A cegueira da coligação não permitiu utilizar este tema para um cartaz eleitoral, do género “Portugal à frente nas lindezas” ou “Portugal à frente no sexo”. Não seria totalmente verdade mas facilmente corrigido como é hábito do Coelho.
O visual do rapazola mudou muito desde o tempo das doces (casou com uma delas, a Fa, de quem tem uma filha, essa sim merecedora de um lugar no pódio) e também aprimorou as suas vestimentas e postura, próprias de um homem de estado que é hoje um nº 7 mundial. Aquilo também aconteceu com o seu antecessor (refiro-me à vestimenta e à postura), hoje nº 44 eborense.
Ser o 7º mais “sexy” é tão espantoso como o caso da nomeação de Kabila, mas não tanto se a escolha tivesse recaído no seu rival Costa, o qual em 1993 achou que um burro era melhor do que um Ferrari demonstrando estar muito longe dos padrões estéticos indispensáveis a uma candidatura a líder “sexy”. (http://www.jn.pt/PaginaInicial/Interior.aspx?content_id=678939).
A Kirchner é que deveria ter ganho a medalha de ouro não fossem os habituais preconceitos machistas os quais, mais uma vez, justificam as leis sobre “quotas”. Também a diferença de apenas dois lugares com o Kabila é estranha e, eventualmente, só é explicável por complexos de culpa.
Depois dos sucessos de Portugal em vários campos mundiais, nomeadamente na ciência, na alta finança, na política e no desporto (não esquecendo, claro, o futebol) só faltava o domínio do sexo que o casto português impedia de referir.
Este 7º lugar do Pedro é uma honra nacional (hoje em dia são concedidas tantas que uma desta natureza não destoa) a qual passará a constar nas crónicas futuras e a fazer sombra na História de Portugal à figura de D. Fernando “O Formoso”.
São parecidos.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Ora gaita!


Cartazes e outras imbecilidades.
Neste país (que ainda não saiu da crise, como a coligação de direita orgulhosamente apregoa, nem tem alternativa credível para dela sair, como o “principal” partido da oposição assegura desajeitadamente) em vez de se debaterem problemas vitais para o futuro do país, tais como o seu envelhecimento, o abandono das regiões interiores, a dramática falta de fontes produtivas, a defesa de um precioso e moderno “estado social” à beira da falência, as imprescindíveis, misteriosas e tão faladas reformas estruturais, nada.
Nada disto se debate e ocupa as discussões “intelectuais”.
Hoje as horas (e não só o “horário nobre”) das emissões televisivas são ocupadas (até ao enjoo) pelo futebol e por assuntos menores como o dos cartazes da campanha eleitoral ou como querelas sobre heranças do passado ou as variações das décimas (!) dos valores das estatísticas do crescimento ou do desemprego. É mau, é péssimo mas é assim.
E é vê-los e ouvi-los, jornalistas e comentadores. Todos pela defesa do estado democrático sufocante da voz do povo, todos pela cordial e amistosa querela partidária. Fulano? Tenho o maior respeito intelectual, mas. Sicrano? Como estão lembrados sempre elogiei o seu carácter…mas. Ora gaita, fulano e sicrano deveriam ocupar o lugar real que têm na mente do falante (aldrabão, mentiroso, eteceteraetal). Mas, sob a capa de um politicamente correcto, a personalidade é afagada e retribui o “afagamento”. Não há vergonha.
Cartazes? Ora, m…! E o desemprego? E a segurança social? E os recorrentes escândalos financeiros (agora paira uma sombra pelo Montepio)? E a produtividade e o crescimento económico? E os fogos que devoram floresta sobretudo, por deficiente prevenção, negligência e crime?
Tudo isto e mais serão menos importantes do que cartazes com figurantes estrangeiros alugados ou caras nacionais enganadas?
No entretanto, o número 44 de Évora vendeu o seu apartamento de luxo em Lisboa com grandes parangonas nos jornais. E “ós pois”’? Não pode? Só os muitos aldrabões que estão cá fora é que podem?
No entretanto, o Jesus andou em baldrocas com o Jonas, envia sms aos seus antigos jogadores e o Victória que se prepare se os encarnados voltarem a perder. Preocupante.
No entretanto houve facadas em Alguidares de Baixo e tiros em Bringelas de Cima.
Estes são alguns dos revelantes entretantos para não referir a magna questão da eventual candidatura à Presidência de Maria de Belém (os senhores Nóvoa, de Sousa, Santana e Rio ficaram muito preocupados).
Tudo acontecimentos importantíssimos.
“Silly season”? De que maneira, mais do que “silly”, mais do que estúpida em bom português.

Ora gaita!  


terça-feira, 4 de agosto de 2015

A manivela, a educação e a tecnologia


“Quand vient l´âge mûr, l´homme rajeunit.” Herman Hesse                
Lembro-me dos conselhos que me foram dados pelo meu pai sobre o comportamento a ter com as meninas, tivessem elas vocação para freira ou fossem encapotadas partidárias do amor livre: respeito, muito respeito.
Segui esta recomendação à letra.
A frustação foi grande e aumentou de ano para ano: a incompreensão das meninas era contínua e repetida.
Embora já muito céptico sobre a justeza daqueles conselhos transmiti-os muito mais tarde ao meu filho que neste domínio do relacionamento feminino é a minha antítese.
Achei que uma boa maneira de o precaver sobre uma cruel realidade seria sob a forma de uma fábula, paradigmática, de conteúdo tecnológico, para que não houvesse sombra da sempre tão perigosa filosofia, e que não contivesse ofensa, fosse de que tipo fosse, às sagradas meninas. Aqui vai ela, tal como a que lhe dei a ler. 


“Uma linda menina guiava toda contente o “Ford T” que o seu paizinho lhe tinha dado. Ela e a amiga, ambas de vestidos brancos cheios de folhinhos, botinhas de verniz, encaracoladas debaixo de um chapéu de sol, iam todas felizes e orgulhosas.
De repente, ó desgraça, a modernice soluçou, soluçou, como só as máquinas sabem fazer, e parou. E agora, olhavam-se aflitas as meninas, e agora o que vamos fazer? Com os nossos lindos vestidos, com as nossa botinhas de verniz? Que vamos fazer?
“Ora ora, vocências dão licença, dão-me a honra?”  perguntou solícito o educado cavalheiro. “Pois não”, respondeu uma delas toda ruborizada sob o olhar reprovador da amiga. “Mas, por amor de Deus, seja discreto”.
“Minha querida senhora, não se preocupe”, retorquiu, seguro e orgulhoso, o educado cavalheiro. “É tão simples..sabe... estou a par dos segredos destas  máquinas...”. “Pega-se nesta manivela...voilá, assim...introduzimo-la neste  petit  trou...voilá , assim...e, agora, com jeito e  un tout petit peu de force …assim,  voilá …ó-ri-ópss...” 
 E...,  pimba,...tudo aquilo deu uma volta rapidíssima e ele levou com a manivela nos queixos. Passados quinze dias morreu. Não morreu de amores, de amor por uma das meninas toda de folhinhos brancos e de botinhas de verniz, morreu pela manivela (pura verdade devidamente registada).
O senhor Ford ficou muito triste - como só ficam tristes as almas como as dele - pagou uma valente indemnização à família enlutada - como só na América se paga - e ordenou ao seu departamento de “research and development“ que a manivela,  não podendo ser despedida, fosse imediatamente  substituída.
E assim nasceu o motor de arranque, o “démarreur“, dispositivo indispensável nas modernas viaturas."
Moral da fábula: 
Quand nous sommes délicats et bien élevés avec une femme, c’est mal compris, mortel et pas marrant. 
(pas marrant…démarreur…).