sexta-feira, 27 de março de 2015

As décimas

Hoje somos invadidos por percentagens de natureza económica, social, política. As previsões dos números do deficit são variáveis desde os do governo, aos do FMI passando pelos do Instituto Nacional de Estatística e dos do BCE. O mesmo acontece com o PIB,a percentagem do desemprego, da dívida, das exportações, do consumo, etc. 
Tudo estaria “bem” se fossem números de grandeza significativamente diferente, mas não. Diferem uns dos outros por décimas. Eu bem sei que décimas da grandeza do Universo é um universo mas não é o caso e é vê-los defendendo essas décimas com o universo da razão na barriga e com sorrisos próprios dos génios da economia, das finanças, da política.
Quando dava aulas de estruturas na Universidade e me eram apresentados resultados com milésimas os meus alunos ficavam admirados quando eu os interrogava (e os reprovava por essa falta de bom-senso própria da ignorância) sobre a certeza que os animava na apresentação dos resultados.
Dizia-lhes invariavelmente: “Quanto é que pesa?” e face a uma resposta com um olhar perdido e espantado completava “depois ou antes do almoço?”. Tentava transmitir-lhes o bom-senso que deve estar na base de qualquer resultado, seja ele de resistência dos materiais, das finanças ou da economia. Previsões e resultados deveriam ser regidos por “números redondos” mas os políticos vomitam números com uma precisão à décima para comprovar ou reprovar a bondade das suas medidas, sobretudo em período eleitoral.
Que diferença fazem umas miseráveis décimas nos vários números políticos (porque na realidade é esta a natureza desses números) no desemprego, no crescimento económico, no deficit, nas sondagens de opinião? Muito pouca ou nenhuma.
Dizem que Portugal para crescer, para reduzir o desemprego necessita de um crescimento económico de 2% (ou será 1,8% ou 2,2%?). Atrevo-me a ultrapassar não só as décimas mas, neste caso, o número redondo 2.
Daqui a um, dois, anos voltaremos, infelizmente, à “estaca zero” mas com muitas mais "décimas". Vai uma aposta?

quarta-feira, 18 de março de 2015

Capadura a macete

Sentença do Juíz de Direito de Porto da Folha Sergipe de 1833:

 http://www.conjur.com.br/2002-ago-03/decisao_1833_manda_castrar_homem_atrevimento
Por cá e passados mais de 180 anos, o Governo português elaborou lei para que seja pública a lista de pedófilos condenados. Para protecção das crianças (menores de 16 anos).
No Mundo e na Europa em particular, alguns países promulgaram leis semelhantes mas tenho sérias dúvidas sobre a eficácia e, sobretudo, sobre a bondade de uma medida deste tipo, sobretudo quando na ausência de uma fiscalização da sua aplicação pelo poder judicial.

Capado por cacete ou perseguido ad aeternum por desconfiança ou por justiça popular?


 

quarta-feira, 11 de março de 2015

Leonor da Aquitânea



De onde vem o nome Guiana para um território da América do Sul?  
De onde vem a dinastia dos Plantagenetas, com um papel tão marcante nas histórias da França e da Inglaterra? 
A mulher teve e tem um papel determinante na História do Mundo e a questão da “paridade” política na Europa Ocidental, auto designada como “mãe de todos os progressos”, é, na minha opinião, pertinente mas de lenta solução legislativa.
Na história do Mundo não se devem esquecer as dominantes e implacáveis mulheres do sultanato otomano e, também, outras ao longo dos séculos que marcaram até hoje a História da Humanidade (Helena de Tróia, Zenóbia raínha do Império de Palmira, Cleópatra raínha do Egipto, Aurélia mãe Júlio César, Lívia mulher do imperador Augusto, Maria Madalena díscípula preferida de Jesus, Helena mãe do imperador Constantino, Leonor de Aquitânea, Catarina de Medicis, Catarina da Rússia, Victória de Inglaterra, etc.).
Hoje o problema reside na "mulher-comum" a qual é claramente discriminada desde o salário aos cargos de chefia.
Passando por cima de mulheres menores, tais como as muito referidas nos tempos de hoje Mrs. Tatcher ou frau Ângela Merkle (e menores porque na História do Mundo de amanhã nem sequer ocuparão uma nota de roda-pé), veja-se quem foi uma mulher do século XII que marcou a história do seu tempo e cujo nome ainda hoje ressoa: Leonor da Aquitânea.
A Aquitânia (“terra das águas”), também conhecida por Guiana (deformação do nome introduzida pelos ingleses durante o seu domínio), localiza-se na zona sudoeste da França, inclui os actuais departamentos de Dordogne, Gironde, Landes e Lot e tem como principais cidades Bordéus, Pau e Bayonne. 
César, nos seus escritos sobre a guerra na Gália, considerava aquele território como distinto do da Gália. Sob o Império, a província romana da Aquitânia estendia-se muito para o norte e, ao invés, as regiões meridionais foram durante o tempo de Trajano dela separadas constituindo a província de “Novem Populania”, correspondente aproximadamente à actual Gasconha (os “vascones” - os bascos - eram uma das tribos da província da Aquitânia romana). 
A Aquitânia visigótica (412-413) foi integrada, como território federado, em 418, no império romano do Ocidente (queda em 476).
A Aquitânia franca resultou da conquista aos visigodos. Clóvis derrotou na batalha de Vouillé o rei Alarico II.
Em 671, o duque Loup de Gascogne declara a independência da Aquitânia do reino franco. Em 732, Carlos Magno integra novamente o território no reino franco, criando, para o seu filho Luís, o reino da Aquitânia com capital em Toulouse.
Em 877, o reino da Aquitânia decompõe-se em dois ducados: o da Gasconha (ao sul do rio Garona) e o da Aquitânia (mais tarde designado por Guiana Guyenne-) com capital em Bordéus.
Em 1058 os dois ducados reunificam-se.
Em 1099, Guilherme X (pai de Leonor de Aquitânia) é duque da Aquitânia e a personagem mais influente da Europa do seu tempo. 
A rivalidade entre as coroas francesa e inglesa conduz em 1337 à “Guerra dos 100 Anos”.
Durante a “Guerra dos 100 anos”, a França perde a favor da Inglaterra (1360) a Aquitânia (Guiana, Gasconha, Quercy, Rouergue, Limousin e Poitou) mas o condestável Du Guesclin consegue reconquistar aquele território (1370-1380), com excepção da Guiana.
Leonor de Aquitânia ou de Guiana (1122-1204), filha mais velha de Guilherme X duque da Aquitânia é herdeira do ducado em 1130 após a morte do seu irmão Guilherme.
Casou em primeiras núpcias com o rei de França Luís VII (Bordéus, 1130). 
O ducado ficou independente da coroa e o eventual filho deste seu casamento acumularia o título de rei de França com o de duque da Aquitânia, ficando acordada a fusão entre os dois territórios apenas para a geração posterior.
É coroada rainha de França em 1137. Deste casamento nasceram duas filhas, Maria e Alix. O casal entra em rotura no seu regresso da 2ª cruzada. Por intervenção papal reconciliam-se. No entanto, o desentendimento persiste e, por vontade de Leonor, o casamento é anulado em 1152 sendo invocada a consanguinidade de 4º e 5ºgrau. Leonor regressa a Poitiers.
Oito semanas após a anulação do seu casamento casa em Poitiers com Henrique Plantageneta (apelido pessoal de Godofredo V, conde de Anjou e do Maine, casado com Matilde “a Imperatriz” - duquesa da Normandia, neta de Guilherme “o Conquistador”, de Malcom III da Escócia e filha e herdeira de Henrique I de Inglaterra), futuro Henrique II de Inglaterra. 
Em 1154 é coroada rainha de Inglaterra com os títulos de duquesa da Normandia, duquesa da Aquitânia e condessa de Anjou, Maine e Poitou. Deste seu 2ºcasamento teve cinco filhos entre os quais Ricardo “Coração de Leão” e João “Sem Terra”, ambos reis de Inglaterra, respectivamente (1157-1199) e (1198-1216). 

terça-feira, 3 de março de 2015

Israel e a Palestina



"Arrogante na relação com os outros países e relutante em fazer a paz com os palestinianos"  
 
A questão da Grécia embora não tenha acabado (nem tão depressa isso acontecerá) vai, pouco a pouco, abandonando as primeiras linhas dos jornais e os principais temas de abertura das televisões.
Erràticamente, as graves situações no Médio Oriente (Exército Islâmico, situação no Egipto e na Líbia, continuada guerra civil da Síria, questão nuclear iraniana) vão ocupando o lugar que deveriam merecer no noticiário sobre a ordem internacional, em particular  uma questão maior: o problema Israelo-Palestiniano.
No passado dia 2 de Março, o primeiro-ministro israelita deslocou-se inesperadamente a Washington, com o desconforto do presidente Obama e do partido democrata, para discutir a evolução do projecto nuclear do Irão. Também o que recentemente aconteceu na relação de alguns estados europeus com a Palestina é significativo.
No “Público “on line” de 2 de Março pode ler-se:
“Israel fechou a torneira de água à cidade de sonho dos palestinianos (...) Rawabi (em território palestiniano mas na Cisjordânia invadida por colonatos israelitas que recebem bastante água) está pronta a ser habitada mas continua deserta (...).”. O Presidente israelita, Reuven Rivlin, pediu aos responsáveis israelitas para ligarem a água “deveríamos dar-lhes assistência no fornecimento de água (...) não damos água aos colonatos?”.
Também o que recentemente aconteceu na relação de alguns estados europeus para com a Palestina é significativo:
“(...) O governo sueco reconheceu oficialmente  - 30 de Outubro – o Estado da
 Palestina (...) Israel chamou o seu embaixador em Estocolmo. O ministro dos Negócios estrangeiros recordou à sua homóloga sueca que “A Suécia tem de perceber que as relações no Médio Oriente são muito mais complicadas do que o sistema de montagem de móveis Ikea”. (...) A ministra sueca respondeu “Terei muito prazer em enviar-lhe um móvel Ikea para montar. Descobrirá que a tarefa requer um parceiro, cooperação e um bom manual” (...).
Israel, a Palestina e o Irão voltaram às luzes da Ribalta e seriam estrelas de primeira grandeza nos media se não fossem as repetidas barbáries do Exército Islâmico (o que espera a coligação de cerca de 60 países para colocarem tropas no terreno para além dos actuais ataques aéreos?)

 
O conjunto de artigos de Al-Arabiya (Dubai), Ha Aretz (Telavive), Finantial Times (Londres), Mashallah News (Beirute) que o “Courrier Internacional” de Março de 2015 publica em 12 páginas fornece um muito interessante conjunto de informações sobre a questão israelo-palestiniana.
“(...) Nos últimos anos o Estado hebreu (considera-se) militarmente invencível e invulnerável às críticas e pressões internacionais (...) Telavive (convenceu-se) que pode prosseguir impunemente com a sua política (...) com a expansão de colonatos, uma ocupação opressiva (...) a solução política de dois Estados independentes torna-se mais distante e incerta (...) O Parlamento britânico votou (13 de Outubro) a favor da independência da Palestina por uma maioria esmagadora (...) outros parlamentos nacionais já se pronunciaram no mesmo sentido: França, Espanha, (Itália, Irlanda), Portugal e Bélgica (...) sem uma mudança de orientação rápida e radical da parte do Governo Israelita (...) o Estado hebreu vai sofrer um confronto inevitável com o resto do mundo e um crescente isolamento (...) “. 
Al-Arabiya. 
Julga-se, assim, pertinente e eventualmente interessante um brevíssimo resumo da História daquelas nações e povos.


Palestina:  Parte meridional da antiga região de Canaã (de Cham, neto de
Noé), de fronteiras imprecisas a Nascente do rio Jordão mas que a Sul e Norte, se pode considerar limitada, respectivamente, pelo Sinai e pelo rio Orontes. A antiga Canaã integra,actualmente, o que são, territórios do Líbano,do Egipto, da Jordânia, da Siria e, claro, de Israel.
O primeiro povo de Canaã, os canaanitas, era cultural e religiosamente heterogéneo com influências do Egipto, da Mesopotamia, da Anatólia, do Egeu. Dizem que lá se estabeleceu por volta de 2000 a.C.
A  Palestina deve o seu nome ao povo dos Filisteus, povo originário de Creta, que invadiu a parte meridional de Canaã cerca de 1300 a.C, assim como outro povo: os Hebreus.
 . 
Hebreus:  Designação que vem de “heber“,que designa  “do lado de lá“ porque vieram do outro lado do rio Eufrates, de Nascente do rio Jordão. O povo, que a ele próprio se denominava “ben-Israel“, era constituído por 12 tribos (10 de Jacob e 2 de José) agrupadas em 4 famílias as quais, posteriormente (em 928 a.C) e no seguimento de uma guerra civil, deu origem a dois reinos, o de Israel (a Norte entre Jafa e Sidon e com capital em Samaria) e o de Judeia, cujo nome vem da tribo preponderante no território, a de Judas, (a Sul entre o Egipto e Jafa e com capital em Jerusalém).
No sec. IX (a.C.) as relações entre os dois estados eram hostis, tendo a Judeia beneficiado do apoio militar de Damasco (Assíria).

A conquista : Os hebreus levaram 3 séculos a conquistar a terra aos povos 
aborígenes, Idumenos e Amalecitas a Sul, Moabitos, Ismaelitas e Amonitas a Este. A maior oposição foi dada pelos Filisteus que bloquearam a expansão para S.O. A ocupação, iniciada por Joshua,foi sempre feita com base na soberania das tribos, as quais devido à forte oposição dos filisteus, reuniram-se numa monarquia cujo primeiro rei foi Saul (1006 a.C.).      

Os reis :     A Saul sucedeu David o qual, após ter submetido os povos aborígenes, criou o 1º estado hebreu. David abandonou a capital da sua tribo (Hebron) e conquistou, 300 km a Norte, a fortaleza de Sion capital dos autoctones cananitas, os jebuseanos. Sion seria baptizada como Jerusalém (965 a.C).
A David sucedeu o seu filho Salomão que mandou construir o “Templo“.
O filho de Salomão, Rahoboam, não conseguiu manter a unidade entre as tribos e a guerra civil estalou entre judeus (que incluia as tribos mais populosas de Judas, de Benjamim, de Isau e de Simão) e israelitas.
Depois de Rhoboam, foram 20 os reis da Judeia até Sedécias (587 a.C.).     

O estado de Israel : A desunião e conflitualidade com a Judeia, assim como o
poder crescente dos Assírios, conduziu ao enfraquecimento do estado de Israel, o qual no sec.VIII era um reino vassalo do império assírio com capital em Samaria.
Em 727 a.C. uma revolta conduzida por Hoshea foi esmagada. Israel foi anexado e a sua população deportada para território assírio.

O estado da Judeia : Em 701 a.C., o império Assírio conquistou, tambem, a
Judeia. Em 612 dá-se a queda do Império e a Judeia fica sob domínio do Egipto. Por pouco tempo, já que em 605 o rei Nabucodonosor captura Jerusalem e, anos mais tarde, deporta os judeus para a Babilónia.
Em  539, o grande rei Cyrus da Pérsia destrói a Babilónia e autoriza o
regresso dos judeusao território entre a fronteira com o Egipto e
Jerusalem. Era o início da Diáspora. 
Acima estão factos históricos podendo os mais relevantes serem resumidos nos seguintes pontos:
               1 -  Os hebreus invadiram um território que não era o deles em
                     1300 a.C.
               2 -  Os hebreus eram 12 tribos desavindas.
               3 -  Os hebreus organizaram-se em dois estados distintos,
                     Judeia e Israel.
               4 -  Há que considerar na História duas capitais: Jerusalém
                    (chamada Sion) e Samaria.
               5 -  O que se pode designar como “ Grande Israel “, não durou mais
                     do que 80 anos (de David a Rahoboam).
               6 -  O regresso de judeus no sec. VI a.C limitou-se, até ao sec XX
                     d.C, ao território entre a peninsula do Sinai e Jerusalém.