terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A Gaiola Dourada





A condecoração de Cristiano Ronaldo com a ordem do Infante D. Henrique, os
trejeitos da primeira dama, o mini comité com os netinhos presidenciais,
lembraram-me algumas situações de um filme luso francês recentemente
exibido sobre um casal emigrante em Paris, ela porteira e ele pedreiro.
As situações apresentam paralelismos: um potencial regresso às origens, o
ambiente familiar, a influência do prestígio e do dinheiro nas relações sociais,
mas também diferenças: a falta de autenticidade, de humildade e de verdade; o
autoritarismo feminino; a presunção em todo o seu esplendor; a subserviência
da “entourage”.
“Enfim, ç´est la vie n´est ce pas?”.
Mas a questão que poderá suscitar a curiosidade do cidadão (talvez não o devesse) é: qual  o futuro dele?
Será , como no filme, que dadas as confessadas  limitações orçamentais
(vivendo de parcas reformas de professores, como publicamente confessado) o
casal regressa às origens, e volta, por exemplo, para Boliqueime?
Ou fica na capital presidindo a uma fundação (ou outro tipo de organização do mesmo género sustentada pelo erário do Estado) continuando ”devotado à causa pública” e  levando uma vida austera própria de necessitados?
Soluções estas que são ambas à medida de um ex-presidente da República  (modelo Soares ou modelo Sampaio). Mas a imaginação política é enorme e outros modelos haverá certamente.
Ainda é cedo "mais nous verrons” mas sem surpresas de maior.
Certo, certo é que já levou uma lembrança sem ter que agitar um cartaz “CR7 dá-me a tua camisola”.





quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O filme



 “ Isto de sensações só vale a pena se a gente se não põe a olhar para elas. “
  F. Pessoa 
Tenho poucos mas bons amigos e ainda menos, se isso é possivel, amigas. Acompanham-me, melhor ou pior, nos bons momentos da minha vida. Nos maus momentos as minhas amigas aparecem sempre sem eu assinalar nada, pelo que gosto cada vez mais delas.  
Há uns anos ia regularmente ao cinema com uma amiga que, ainda hoje, ocupa secreta, discreta e inocentemente um lugar especial no meu coração. A escolha do filme era sempre controversa. Eu acreditava na crítica, ela no título e na história. Geralmente não me apetecia ir, preferindo, estupidamente, reflectir naquilo que julgava serem as minhas irreparáveis desgraças. Imbecibilidades que arruinam um tempo que já não volta. Ela, na sua tarefa missionária, puxava por mim e conseguia arrastar-me. Vi, assim, e como consequência directa da caridade e, quero crer, de um sólido afecto, muitos filmes em muitos cinemas.  
E foi como sempre. “Então o que vamos ver?” Nada. “Nada não, porque a mim apetece-me e não me vais fazer essa desfeita”. Mas não há nada que valha a pena. “Ai há, há...vê lá nas tuas críticas e depois telefona-me, não te esqueças, terça, quer queiras quer não, vamos ao cinema porque a mim apetece--me.“ Pois sim , murmurava eu.               
            
Folheei o jornal, olhei para as estrelas e lá estava ele acumulando tudo. O realizador, os actores, as críticas laudatórias. Só o nome, que me deveria ter dito alguma coisa, me escapou na análise. 
“O quê ? Para onde é que tu me queres levar, estás bom da cabeça?” E ria-se. Eu, encavacado, eu que infelizmente nunca tive jeito para “levar“ as mulheres para lado nenhum e muito menos para a “desgraça“, eu quase que afinei. É excelente, protestava eu, só não sei se gostas de policiais. E ela ria-se e dizia que um filme com aquele nome só podia ser pornográfico. “Noites escaldantes, ouve lá, já pensaste?” E eu, só naquele momento pensei naquela hipótese. Mas não dei ao flanco, fui intransigente, como compete a quem pensa que manda, e responsabilizei-me pela candura do espectáculo.
E na terça lá fomos. O filme começou e passados minutos já eu me contorcia desconfortável na cadeira. A cada cena um pouco mais ousada e havia muitas - que para mim, pudico imbecil, podia ser um prolongado e sensual beijo ou a nudez enlaçada na cama, enfim o pão nosso de cada dia de hoje - o meu íntimo reagia num constante cruzar e descruzar de pernas, num envergonhado pousar de cabeça na mão, num descontrolado esfregar do ombro, numa tímida e forçada tosse. E o facto de levar cotoveladas e de ouvir um riso irónico, franco e abafado, só piorava as coisas. Julgo que com a atrapalhação perdi metade daquele que é e será sempre um esplêndido filme.  
Chegado ao intervalo, ainda as luzes não estavam completamente acesas, não aguentei, queria que um buraco me engolisse, sentia uma necessidade imperiosa de desaparecer, de fugir. Levantei-me bruscamente como que impulsionado por uma mola e lancei-me para o exterior. Vi a placa de sanitários, abri, entrei e refugiei-me no interior de uma espécie de box. Deveria ter desconfiado, mas dei a novidade por conta das modernices próprias de um arquitectolas da nova vaga.    
                         

E, de repente, provavelmente logo a seguir ao verdadeiro início do intervalo lá fora, ouvi um tic tic tic e, olhando para o espaço aberto por debaixo da porta, vi, para meu terror e pânico, desfilar pernas nuas de saltos altos. Não havia dúvida, estava na casa de banho das senhoras. Dei um salto e empoleirei-me na sanita onde fiquei silencioso, ouvindo sem o querer os ruídos que soavam, abafados é certo mas íntimos, à esquerda e à direita e na angustiante espera pelo salvador sinal sonoro de fim de intervalo.  
Apanhei um valente susto mas que foi remédio santo: vi o resto do filme estranhamente repousado, como um malandro sem vergonha que vivera a tão desejada total igualdade entre os sexos.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Genealogias de Jesus



“A genealogia é uma ciência auxiliar da história que estuda a origem, evolução e disseminação das famílias e respectivos sobrenomes ou apelidos. A definição mais abrangente é "estudo do parentesco".(...). É também conhecida como "ciência da história da família" pois tem como objetivo desvendar as origens das pessoas e famílias por intermédio do levantamento sistemático de seus antepassados (...). Tal levantamento pode ser estendido aos descendentes como aos ascendentes de uma determinada figura histórica sendo muitas vezes difícil classificar os nomes de família por causa das mudanças de ortografia e pronúncia com o passar do tempo (...).”. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Genealogia 
Após Arius (300 d.C) a genealogia de Jesus  resumiu-se a:
                                               Deus »» Jesus
(...)Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Único de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos(...).
Arius defendia a seguinte doutrina da Cristologia:
Que o Logos e o Pai não eram da mesma essência.
Que o Filho era uma criação do Pai.
Que houve um tempo em que o Filho (ainda) não existia.
Arius foi um celebrado professor do cristianismo e um mártir da sua fé e (...) parece ter sido um homem de um caráter ascético, de moral pura e de convicções.
Em 318 houve uma discussão entre o bispo Alexandre de Alexandria e Arius. Num Concílio que Alexandre convocou de seguida, Arius foi condenado. Arius tinha no entanto numerosos apoiantes e a disputa espalhou-se desde Alexandria por todo o Oriente.
Para restabelecer a união entre os cristãos, o Imperador Constantino convocou o primeiro concílio de Niceia em 325, onde a doutrina de Arius acabou por ser condenada como herética (pode dizer-se que nesse concílio Jesus passou a ser Deus).
Arius foi expulso mas em 335 seria reabilitado. Alguns povos (nomeadamente os germanos, por exemplo os que invadiram a Península Ibérica) seguiram a doutrina de Arius até ao sec.VII (o Arianismo). 
Vide http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81rio 
Antes de Arius (os cristãos primitivos) e depois dele (Maomé), as genealogias de Jesus, Yeshua ou Isa são as seguintes, segundo os evangelhos de Mateus e de Lucas e o Alcorão:

Evangelho segundo Mateus


 
Abraão »» Isaque »»  Jacó * »» Judá »» Farés »» Esrom »» Arão »» Aminadabe »» Naassom »» Salmom »» Booz »» Obede »» Jessé »» David »» Salomão »» Roboão »» Abias »» Asafe »» Josafá »» Jorão »» Ozias »» Joatão »» Acaz »» Ezequias »» Manassés »» Amom »» Josias (deportação para a Babilónia) »» Jeconias »» Salatiel »» Zorobabel »» Abiúde »» Eliaquim »» Azor »» Sadoque »» Aquim »» Eliúde »» Eleazar »» Matã »» Jacó»» José »» JESUS. 
(“De sorte que todas as gerações desde Abraão até David, são quatorze gerações; e desde David até à deportação para a Babilónia , quatorze gerações; e desde a deportação para a Babilónia até Cristo, quatorze gerações. I – 17”).

Genealogia ingénua nos campos da fé e do amor. De facto, segundo ela Jesus, o Messias, seria descendente de Thamar, nora de Juda e que dele teve enganosamente um filho Pharez... de Rachab, mãe de Booz, prostituta da cidade de Jericó que traíu os hebreus no cerco de Jericó...de Ruth, mulher de Booz e pagã...de Betsabé a amante de Salomão, mulher adúltera de Urias. Um rei poderia ter tais avós, mas o Messias e filho de Deus?
Evangelho segundo Lucas
Adão »» Sete »» Enos »» Cainã »» Maleleel »» Jarede »» Enoque »» Matusalá »»Lameque »» Noé »» Sem »» Arfaxade »» Cainã »» Salá »» Eber »» Faleque »» Ragaú »» Seruque »» Naor »» Tará »» Abraão »» Isaque »» Jacó* »» Judá »» Farés »» David »» Natã »» Matatá »» Mená »» Meleá »» Eliaquim »» Jonã »» José »» Judá »» Simeão »» Levi »» Matate »» Jorim »» Eliezer »» Jesus »» Er »» Elmodã »» Cosão »» Adi »» Melqui »» Neri »» Salatiel »» Zorobabel »» Resa »» Joanã »» Jodá »» Joseque »» Semei »» Matatias »» Esrom »» Arni »» Admim »» Aminadabe »» Naassom »» Salá »» Booz »» Jobede »» Jessé »» Maate »» Nagai »» Esli »» Naum »» Amós »» Matatias »» José »» Janai »» Melqui »» Levi »» Matate »» Eli »» José »» JESUS.(III – 23 a 38).
* De cujas mulheres ( Leah, Zilpah, Rachel, Bilhah   ) descendem os fundadores das 12 tribos de Israel.
Alcorão 
David »» Rahba am »» Iyam »» Eisha »» Yahfashat »» Yazem »» Ahrihu »» Yamish »»Amisa»» Azazia »» Mutham »» Ahriq »» Hosquia »» Misha »» Amun »» Bashim »»Imran ( casado com Hannah ) »» Maria »» JESUS . 
(Nasceu à sombra de uma palmeira, perto de Nazareth e começou logo a falar). 

O Alcorão tem para Jesus (Isa) um número de títulos importantes maior do que para qualquer outra figura. Citem-se algumas referências nele constantes:
- Profeta cuja mensagem os judeus rejeitaram;
- Mensageiro de Deus; 
- Nasceu milagrosamente de uma virgem; 
- Foi criado como Adão mas este foi criado de baixo, apenas da poeira, ao
  passo que Jesus é celestial por ter sido criado pela Palavra de Deus. Jesus
  viveu na terra sem falhas mas Adão desobedeceu a Deus; 
- Jesus foi levado ao céu por Deus e vai regressar. 
Ref: : http://www.ibnzura.com/quran.php?lang=pt

Interessante notar-se que para os primitivos cristãos (judeus) a apropriada linhagem de Jesus, para efeitos do que constava nas Escrituras (nomeadamente, o Messias ser descendente de David e nascido em Belém), vem do pai, José (e não da mãe, natureza essencial para se ser judeu) enquanto que o profeta Maomé (inimigo dos ídolos, ícones e imagens santas) considera, e bem, Nazareth (e não erradamente Belém) como local do seu nascimento e a sua linhagem vinda da sua mãe, Maria.