quinta-feira, 23 de julho de 2015

Os três Dês e os três Efes



Há 40 anos foi lançado o lema dos “3 Dês”: Descolonização, Democracia, Desenvolvimento.
Em paralelo e a reboque do PREC, ostracizaram-se “3 Efes”: Fado, Futebol, Fátima.
Passado este tempo todo como é que estão aqueles “D” e aqueles “F”? Vão andando.
Hoje os “D” foram substituídos por outros, de natureza diferente e, como é natural, adaptada às circunstâncias de hoje. São eles: Dívida, Desemprego, Dependência.
A dívida está perto dos 230.000 milhões de euros (próxima de 130% do PIB), o desemprego, de valor controverso porque dependente do prisma partidário que avalia as estatísticas de acordo com conveniências conjunturais, está acima dos 13% e a dependência é um facto traduzido numa redução de soberania, nomeadamente nos sectores financeiro e laboral, e da ditadura dos mercados os quais, mau grado o optimismo do governo, mantêm Portugal no “rating” de lixo. A dívida, segundo muitos e conceituados peritos económicos, é insustentável e impagável perfilando-se cada vez mais num horizonte de médio prazo uma sua reestruturação pela redução de juros e alongamento dos prazos de amortização.
Euro a “duas velocidades”? Saída do euro, “Portexit”? Talvez. A economia portuguesa não consegue acompanhar a dos países ricos do norte, a dívida portuguesa é, em termos relativos, a 3ª maior da Europa e o euro está “entregue aos bichos”.
Para o caso grego, a reestruturação da dívida era até há muito pouco tempo solução impensável mas hoje é encarada como indiscutível (palavras de Mário Draghi) e inevitável, tanto pelo FMI como pelo BCE. Mudam-se os poderes, mudam-se as vontades porque aqui advinha-se a mão dos EUA. Claro que a referida reestruturação não tem ainda o aval do “kaiser” e é denominada como “reperfilamento” por responsáveis da CE.
Quanto à democracia em Portugal ela é um facto formal aleijado pela corrupção, compadrio e incompetência partidários. É um facto que necessita de um vigoroso e democrático puxão de orelhas.
Dependência? Uma vergonha para um estado democrático e um insulto a um povo que, no entanto, não atinge a vergonhosa humilhação que a Europa (Portugal incluído porque silencioso) infligiu à Grécia. Mas, diz a sabedoria popular, “cá se fazem, cá se pagam”.
E quanto aos Efes?
Fátima será mais um património imaterial da humanidade? O seu santuário para 2.000 fiéis custou 80 milhões de euros (o dobro do orçamento inicial) oferta dos peregrinos, os quais nas cerimónias de Maio do corrente ano atingiram o número de 200.000.
Ao fado foi conferida pela UNESCO, em Novembro de 2011, a categoria de Património Imaterial da Humanidade e a sua rainha Amália Rodrigues encontra-se sepultada no Panteão Nacional desde 2001.
É pertinente lembrar que as honras do Panteão destinam-se, de acordo com a Lei, a “homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao país, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade”. Concreto? Muito vago e propício à vulgarização das “honras”. Veja-se o que acontece hoje em dia à concessão de condecorações as quais pouco a pouco e por este caminho passarão a significar nada.
Na criação artística faltam Alfredo Marceneiro, Zeca Afonso, etc. Faltam por enquanto porque o caminho está aberto e aberto esteve à pantera Eusébio. Faltam neste domínio Rosa Mota e Carlos Lopes que, graças a Deus, ainda estão cá. E, por relevantes serviços militares, Otelo Saraiva de Carvalho, Jaime Neves, Melo Antunes, Ramalho Eanes? Estarão eles abaixo de Humberto Delgado, Óscar Carmona, Sidónio Pais, Afonso de Albuquerque ou Vasco da Gama? Acho indiscutivelmente que sim.
Os senhores deputados nacionais e municipais que comecem a pensar no assunto porque “ou há justiça ou comem todos”.
E o que se passa com o outro ópio do povo, o futebol? Os políticos piam fininho com ele. Num país de tanga gastam-se milhões de euros com contratações de “craques” nacionais e mundiais, os programas televisivos “desportivos” abundam, multiplicam-se avassaladoramente e os seus comentadores rivalizam com a intelectualidade portuguesa. Em todos os meios discute-se mais o estado do futebol, a sua presença no mundo e as rivalidades clubistas, do que a situação da saúde, do ensino ou da segurança social neste país envelhecido e com uma dívida colossal e um desemprego jovem vergonhoso.
A propósito e voltando ao Panteão: não esquecer no futuro Figo e Ronaldo.

sábado, 11 de julho de 2015

A vida de trás para a frente



"Na minha próxima vida quero vivê-la de trás para a frente.
Começar morto para despachar logo esse assunto.
Depois, acordar num lar de idosos e sentir-me melhor a cada dia que passa. Ser expulso porque estou demasiado saudável, ir receber a pensão e começar a trabalhar, receber logo um relógio de ouro no primeiro dia.
Trabalhar 40 anos até ser novo o suficiente para gozar a reforma.
Divertir-me, embebedar-me e ser de uma forma geral promíscuo, e depois estar pronto para o liceu.
Em seguida a primária, fica-se criança e brinca-se. Não temos responsabilidades e ficamos um bébé até nascermos.
Por fim, passamos 9 meses a flutuar num spa de luxo com aquecimento central, serviço de quartos à descrição e um quarto maior de dia para dia e depois “voila”!
Acaba com um orgasmo! I rest my case."
                                       (Woody Allen no seu melhor)


sábado, 4 de julho de 2015

OxiNai



Como as línguas são!
Para mim, falante português, “oxi” está mais perto de “sim” e “nai” mais perto de “não”. Acontece que é exactamente ao contrário e há quem “corte o braço direito”, como declarou o bravo ministro das finanças gregas, se o resultado do referendo for “nai” ou seja sim.
Mas o assunto é sério, para a Europa, para o euro, para nós Portugal.
Na Grécia, há quem vá votar “oxi” por raiva (o que é mau) e há quem vá votar “nai” (melhor para os credores da Grécia) porque julga ser um sim à Europa, que de solidária nada tem e que anda ao sabor da vontade da Alemanha e das instituições financeiras internacionais (FMI, BCE e incógnitos colaterais).
Recue-se no tempo e duas pertinentes interrogações aparecem: porque é que a Grã-bretanha ficou fora do euro? Porque é que a Dinamarca tem um estatuto especial na União Europeia após ter referendado o tratado de Maastricht?
Porquê?
Porque a sabedoria popular é sabedoria na sua mais pura forma e que nem todos os povos têm governos a essa exigente altura.
Portugal? Não sufragou absolutamente nada: “cala-te e come” porque “Nós” somos quem percebe estes complicados assuntos.
Foi assim que o governo da altura (1992) tratou o cidadão português. Depois, em 1999, o governo português encheu orgulhosamente o peito e decretou a entrada na zona euro com um escudo superinflaccionado. Referendo? Novamente “nicles batatóides”. Como sempre os “crânios” decidiram e o “mexilhão” amochou.
O português revelou ser nessas alturas um povo de brandos costumes o que é no mínimo estranho consideradas a persistente “grevomania”, a reivindicação política bem pensante, etc que hoje nos assolam por tudo e por nada. São, por exemplo, a política das privatizações, os espoliados do BES, a violência machista (sic), os escândalos da classe política, os direitos disto e daquilo, daquele e do outro. Tudo barulhento e mais do que legítimo, mas quanto à posição de Portugal na Europa “nicles”, excepto a nossa constante e louvável condição de “bom aluno que faz os trabalhos de casa”.
Seremos um povo brando? Há muitos momentos da História que provam que não.
Exemplos? A guerra civil no tempo de D. Sancho II, Pedro “O cru”, a revolução de 1385 e o povo matando os soldados-ladrões ingleses, os assassinatos mandados pelo glorioso D. João II, Afonso de Albuquerque nos mares da Índia, Fernão de Magalhães na sua esquadra ladeando a América do Sul e na Indonésia, o povo revoltado contra o domínio castelhano, a guerrilha contra as tropas de Napoleão que teve que cá vir três vezes, as guerras liberais entre os manos Miguel e Pedro, as mortandades que acompanharam a implantação da República. É pouco? Poderá ser mas prova de “brandos costumes” é que não é certamente.
Os portugueses aguentam até certo ponto e o ponto é que não se sabe até que ponto (esta coisa do “oxi” e do “nai” baralha o meu vocabulário e obriga-me a repetições).
Ox…alá (que significa resumidamente “sim” à vontade de Deus) que o governo e o povo grego (a que a humanidade deve tanto) não seja “naí…f” (ingénuo). O “Oxi” e o “Nai” são decisões do povo grego e que os gregos decidirão democraticamente por referendo. È uma decisão vital, embora não original e pessimamente tardia.
No que se refere à Europa (integração sem condições na U.E, adesão ao euro, aprovação do Memorando da Troika) nada foi feito em Portugal (embora sem constrangimentos de tempo) passando-se um atestado de menoridade ao seu povo dirigido por infantis (já estou como a Lagarde) e incompetentes “iluminarias” (tenho a estranha sensação que o infantilismo e a incompetência têm aumentado com o tempo). 
Na actual situação grega, houve de um lado prepotência, altivez e desrespeito, mas do outro houve rancor ideológico, inexperiência e voluntarismo infantil e cinco anos de austeridade destruíram a Grécia.